Especialistas defendem mais políticas públicas e qualificação para prevenir suicídio

Da Redação | 18/09/2019, 20h28

No mês de prevenção ao suicídio, chamado “Setembro Amarelo”, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) discutiu o tema “Suicídio e Automutilação” nesta quarta-feira (18). Os convidados defenderam o fortalecimento das políticas públicas para prevenir as ocorrências e a criação de serviços eficientes de atendimento ao cidadão.

A psicóloga Alessandra Xavier, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), apresentou dados oficiais mostrando que, entre 2007 e 2016, mais de 106 mil pessoas se mataram no Brasil. Entre os adolescentes, a taxa cresceu 24% nas grandes capitais. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) também indicam que o suicídio cresceu 7% no Brasil nos últimos anos, enquanto cai em alguns outros países.

Nesse sentido, o psiquiatra Fabio Gomes de Matos, da Universidade Federal do Ceará (UFC), defendeu a criação de um serviço de atendimento público nos moldes do Centro de Valorização da Vida (CVV), porém com mais qualificação.

— O país necessita criar uma rede pública, com interlocução. Não dá para ficar sem encaminhar para um profissional com treinamento e qualificação adequada. Nos casos mais graves inclusive, o cidadão precisa estar em observação, num leito — defendeu.

Já a psiquiatra Sandra Paula Peu, da Associação dos Psiquiatras da América Latina (Apal) e assessora do Ministério da Cidadania, destacou que o poder público precisa dar efetividade à Política Nacional de Prevenção ao Suicídio (Lei 13.819), e instituir serviços com pessoas tecnicamente qualificadas para atender quem cogita acabar com a própria vida.

Sandra Peu sugere a capacitação de profissionais do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), do Disque 100 (relacionado aos direitos humanos) e do Disque 180 (de combate à violência contra a mulher) como meios iniciais do poder público cumprir as lacunas deixadas por programas que já existem, mas que não conseguem abarcar a demanda por atendimento.

Inteligência Artificial

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que presidiu a audiência pública, defendeu a integração de órgãos públicos e o uso da inteligência artificial para identificar, por meio das redes sociais, pessoas que possam cometer suicídio ou automutilação.

— Você já imaginou integrar Ministério da Saúde, Ministério da Família, Ministério da cidadania, CVV, ONGs Safernet, Ministério Público? Dá para a inteligência artificial perceber quando a pessoa começa a compartilhar coisas duras, coisas que mostram a sua angústia, que mostram uma tendência para o desespero.

Girão ainda lamentou o desmonte que, no seu entender, tem sofrido o setor público de saúde no atendimento das pessoas com transtornos mentais.

Prevenção

A psiquiatra Sandra Peu reiterou, com base em pesquisas publicadas no Brasil e em outros países, que praticamente a totalidade das pessoas que morrem por suicídio já sofriam antes de alguma doença mental. Portanto, o que previne o suicídio é tratar a doença mental.

— A cada 10 pessoas com ideação suicida que você trata adequadamente, você salva a vida de nove. Suicídio é uma emergência médica, é um médico quem deve diagnosticar e começar a tratar a doença mental. (...) O suicídio é a consequência trágica das doenças mentais e assim deve ser tratado — afirmou.

O senador Marcelo Castro (MDB-PI), que também é psiquiatra, defendeu tratamentos de eletroconvulsoterapia (mais conhecido pelo termo popular "eletrochoque"), quando o problema se tratar de depressão profunda com risco de suicídio.

A servidora pública Anne Evans, que acompanhava a audiência, pediu para dar seu depoimento pessoal. Para ela, é fundamental procurar atendimento médico adequado.

— Sofri uma depressão profunda que me fez ter ideação suicida por bastante tempo. Acreditei seriamente que estava próxima da morte, e desejava isto. O que me salvou foi o atendimento médico proporcionado pela psiquiatria: me possibilitou reorganizar os pensamentos, compreender o estado em que me encontrava e sair daquilo.

O senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) ressaltou que o poder público deve desenvolver estratégias proativas de prevenção, em vez de apenas esperar que pessoas em crise busquem atendimento.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)