Na Comissão de Meio Ambiente, empresários defendem ‘lucro verde’

Da Redação | 11/06/2019, 15h46

Preservar a natureza pode dar lucro. A opinião é de especialistas que participaram nesta terça-feira (11) de uma audiência pública na Comissão de Meio Ambiente (CMA). Para eles, empresas que protegem o ecossistema demonstram responsabilidade social e se tornam mais competitivas do que a concorrência. O debate fez parte da campanha “Junho Verde”, iniciativa do Senado para a conscientização sobre a importância de preservação ambiental.

A maior empresa de cosméticos da América Latina é tida como referência na integração entre desenvolvimento e sustentabilidade. Há 50 anos no mercado, a Natura tem um portfólio com mais de 850 produtos e está presente em nove países. No quarto trimestre do ano passado, a empresa registrou lucro de R$ 381,7 milhões, expansão de 48,7% em comparação com o mesmo período de 2017.

A gerente de Sustentabilidade da Natura, Luciana Villa Nova, citou algumas medidas adotadas pela empresa para promover o chamado “lucro verde”. Entre elas, o cuidado com a origem da matéria prima, a proibição de testes de produtos em animais, o uso de embalagens ecológicas e o desenvolvimento de fórmulas sem componentes sintéticos ou petrolíferos.

— A gente pode sim trazer a conservação como princípio de exploração econômica, mas ao mesmo tempo de preservação ambiental. Uma empresa tem que promover impacto positivo. Em vez de degradar o meio ambiente, ela deve regenerar o meio ambiente e contribuir para um maior desenvolvimento e inclusão social. Precisa trabalhar um modelo que influencie a cultura de consumo: um consumo mais positivo e sustentável. Ela precisa obter resultado econômico a partir desse modelo — argumenta.

Luciana Villa Nova disse que uma das preocupações da Natura é compensar toda a emissão de carbono envolvida no processo produtivo: cerca de 300 mil toneladas por ano. A empresa aposta em estratégias como a compra de créditos de carbono.

— São mais de 30 projetos de reflorestamento ou mudança de matriz energética no Brasil e na América Latina, principalmente na Região Amazônica. Isso pode levar inclusive renda às famílias. Um projeto que a gente faz há dois anos no Acre é a compra de crédito de carbono de pequenos produtores rurais. Por 25 anos, eles assumem o compromisso de manter a floresta intacta e recebem uma renda por isso — explica.

Matriz energética

Outra medida ambientalmente correta que pode render lucro é a mudança na matriz energética. O engenheiro Tiago Alves é diretor executivo da Sunew, empresa que desenvolve painéis de filmes fotovoltaicos orgânicos para transformar a luz do sol em energia elétrica. Ele argumenta que a transição de combustíveis fósseis para energias renováveis é uma “imposição científica”.

— Se a gente continuar emitindo gases de efeito estufa, vai ter mais uns 15 anos de vida como planeta. O sol é a grande resposta. É a fonte mais abundante, barata e limpa. É a matriz que mais gera emprego — afirma.

Tiago Alves lamenta que no Brasil, onde há um “potencial solar gigante”, apenas 2% da matriz energética seja fotovoltaica. Ele apresentou uma lista de empresas internacionais que pretendem converter 100% da matriz para fontes renováveis no futuro próximo.

— Nenhuma dessas empresas é boba. Elas almejam lucro, mas também almejam fazer o que é certo. No Chile, o preço da energia solar é metade do do carvão. Isso não é mais mito ou previsão de futuro. É indissociável o lucro da boa prática social e ambiental. É até possível ter lucro no curto prazo sem uma boa prática. Mas, no longo prazo, essa é a única forma. A sustentabilidade é um pilar da lucratividade. Esse é o novo paradigma que nossos consumidores exigem. É um erro empresarial achar que isso é um custo. É uma ferramenta habilitadora — argumenta.

Agricultura

O agronegócio também pode contribuir com uma produção ecologicamente sustentável. O agrônomo Roberto José de Freitas expôs na audiência pública a experiência da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO). A propriedade associa técnicas de agricultura e pecuária para elevar a produtividade em áreas já degradadas e evitar a expansão do pasto e das plantações para regiões de mata virgem.

— No verão tudo é grão e no inverno tudo é ocupado com pastagens. Há um sistema de produção o ano inteiro, e essa pastagem vai melhorar o sistema para o próximo ciclo agrícola. Há um crescimento constante da produtividade. O sistema que estamos apresentando não está ocupando sistemas naturais. Ele está substituindo pastagens degradadas. O propósito maior é ampliar a produção agrícola nas áreas já existentes — explica.

Roberto José de Freitas criticou tentativas de flexibilização do Código Florestal (Lei 12.651 de 2012). Para o agrônomo, a preservação do meio ambiente deve ser considerada uma aliada dos produtores rurais.

— É um baita engano do agronegócio brasileiro apoiar medidas de redução de áreas de preservação ambiental. O agronegócio será prejudicado rápida e diretamente se esta Casa aprovar o recuo nas medidas de proteção. O fazendeiro às vezes não tem a sensibilidade de perceber que o ambiente bem preservado vai reduzir problemas de pragas e doenças. Quando ele conserva a água, ele é o primeiro beneficiário — afirma.

O senador Otto Alencar (PSD-BA), que se diz um defensor do agronegócio, também critica as tentativas de alteração no Código Florestal.

— Quando vejo alguém querer dar condição de desmatamento de mais 5 milhões de hectares no Brasil, parece que esse povo não tem filho nem neto. Esse pessoal no futuro vai querer beber água de qualidade e em quantidade suficiente. As futuras gerações vão precisar de água. Vai ser uma situação muito grave. Esse país, na minha opinião, é o país mais irresponsável do mundo com o meio ambiente — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)