Presidente do Banco Central prevê inflação baixa e na meta nos próximos três anos

Anderson Vieira | 10/04/2018, 14h57

O Banco Central (BC) trabalha com a previsão de inflação sob controle e convergindo para a meta neste e nos próximos dois anos, disse nesta terça-feira (10) o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, que participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). De acordo com Goldfajn, o índice de inflação, medido pelo IPCA, deve fechar em 3,8% em 2018. São esperados 4,1% para 2019 e 4% para 2020.

Conforme o presidente do BC, o ambiente doméstico da economia está ancorado em três momentos positivos: a queda de juros, a redução da inflação e a recuperação consistente da atividade econômica.

— No cenário externo, a situação também é favorável, embora não possamos contar com isso para sempre. O Brasil tem amortecedores robustos e está menos vulnerável a choques externos [...] O país precisa continuar no caminho de ajuste fiscal para manter baixa a inflação e a taxa de juros, bem como a recuperação da economia — afirmou.

Taxa Selic

Ilan Goldfajn avaliou que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve promover mais um corte na taxa básica de juros (Selic), que está em 6,5%, menor patamar histórico, para depois estabilizar o índice.

— Para reuniões além da próxima [prevista para maio], salvo mudanças adicionais relevantes, o comitê vê como adequada a interrupção do corte de juros. Os próximos vão depender da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação — informou.

Autonomia

O presidente do Banco Central defendeu a autonomia da instituição. Segundo ele, é algo que já existe na prática, mas que precisa ser normatizada. Caso aprovada, para Ilan, representaria um avanço importante para o Brasil, resultando na queda do risco país e do risco estrutural da economia.

— Temos que criar instituições que dependem menos de pessoas e mais de regras — argumentou.

Juros bancários

Na fase de debates, os senadores pressionaram Ilan Goldfajn, alegando que consumidores e empresas ainda não sentiram os efeitos da inflação baixa e da taxa de juros básica em queda.  Eles cobraram ações do Banco Central para que o brasileiro finalmente sinta no bolso os benefícios de uma conjuntura econômica mais favorável.

— A queda na Selic tem que vir associada à redução dos juros para as famílias. Para as empresas, tem de fato recuado, mas precisa de muito mais, para se dar um alento principalmente à classe média, que vive do cartão de crédito e no cheque especial. Somos a nona economia do mundo. É importante que a agenda do BC se concentre na diminuição dos juros do cartão e do cheque especial — cobrou o senador Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE).

O presidente do Banco Central afirmou que a taxa de juros bancários estão com viés de queda, assim como o spread, que é a diferença entre a remuneração paga pelo banco ao aplicador e o quanto a instituição cobra para emprestar o mesmo dinheiro. Todavia, o ritmo não é o adequado.

— Isso não significa que estamos satisfeitos com a velocidade de queda. Queremos redução mais rápida para que tenhamos logo crédito mais barato para famílias e empresas. Esse é um assunto da maior importância e é uma preocupação do Banco Central — disse.

Concorrência

Ainda segundo Ilan, o BC tem se empenhado em ações para baixar o custo do crédito, atacando de forma estrutural as causas que o tornam alto, como os custos operacionais dos bancos, falta de boas garantias, subsídios cruzados, altos compulsórios, falta de estímulo à concorrência, entre outros fatores.

— Trabalhando com serenidade vamos avançar [...] Não há atalhos. Não adianta achar que problemas de décadas serão resolvidos de uma hora para outra — disse Goldfaujn.

Ainda segundo o presidente do BC, algumas medidas dependem do Poder Legislativo, como a aprovação do projeto que trata do cadastro positivo de consumidores. O texto já passou pelo Senado e está para ser analisado pela Câmara dos Deputados.

Goldfajn pediu também atenção dos senadores ao PLS 350/2015 - Complementar, que define as competências do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

— Por muitos anos houve divergência sobre quem teria que atuar no sistema financeiro. Agora as responsabilidades já foram bem divididas, sem dúvida, há cooperação total. Há um projeto do senador Anastasia [PSDB-MG] sobre isso, cuja relatora é Gleisi Hoffmann [PT-PR]. É um avanço importante e agradeço a atenção de vocês nesse aspecto — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)