Um ano e oito meses depois de empossada, Dilma Rousseff deixa o poder

teresa-cardoso | 31/08/2016, 15h09

Com a posse definitiva de Michel Temer na presidência da República, às 16h desta quarta-feira (31), no Plenário do Senado, Dilma Rousseff deixa de ser governante e tem agora 30 dias para deixar o Palácio da Alvorada. Ela se muda para Porto Alegre (RS), onde mora sua filha, e seu projeto agora é descansar e, em seguida, viajar. Michel Temer também viaja, para Hangzhou, na China, onde participa da Cúpula de Líderes do G-20, que reúne as maiores economias do mundo.

Eleita duas vezes presidente da República, em 2010 e em 2014, Dilma foi a primeira mulher a governar o Brasil e deixa o poder depois de um processo de impeachment marcado pela mais longa sessão já realizada pelo Senado. Durou de 25 a 31 de agosto, com intervalos apenas para refeições e descanso noturno. Ao final, por 61 votos a 20, ela foi impedida de continuar governando, mas se manteve habilitada para para o exercício de função pública.

A presidência do Brasil foi o primeiro cargo público obtido em disputa eleitoral por Dilma Rousseff. Antes disso, ela ocupou secretarias no governo municipal de Porto Alegre, no governo do Rio Grande do Sul, no Ministério de Minas e Energia e na Casa Civil da Presidência da República no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Militância

Natural de Belo Horizonte (MG), Dilma Vana Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947. É filha de pai búlgaro e mãe brasileira. Ela iniciou sua militância política em 1964, com a derrubada do governo João Goulart. Ingressou na luta estudantil, militando, entre outros grupos, na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).

Foi presa, torturada e teve os direitos políticos cassados. Quando o país foi redemocratizado, denunciou as torturas em processos judiciais, sendo indenizada pela Secretaria de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, junto com outros perseguidos políticos.

Em 1993,  na gestão de Collares no governo do Rio Grande do Sul, ela assumiu a Secretaria de Minas, Energia e Comunicação, onde ficou dois anos. Em 1998, com a vitória de Olívio Dutra para o governo gaúcho, Dilma retornou ao comando da mesma pasta.

Em 2002, Dilma Rousseff integrou a equipe que elaborou a proposta de governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Eleito presidente, Lula a nomeou ministra de Minas e Energia, ocasião em que ela também assumiu a presidência do Conselho de Administração da Petrobras.

Em 2005, com a queda de José Dirceu, Dilma passou a chefiar a Casa Civil, cargo posteriormente entregue à secretária-executiva da pasta, Erenice Guerra.

Eleição

Em 2010, Dilma elegeu-se pelo PT para a Presidência do país, sendo a primeira mulher a assumir o Palácio do Planalto. Foi empossada em 1º de janeiro de 2011, ocupando o posto de 36º presidente da República.

Em 2013, enfrentou onda de protestos realizados em todo o país, marcados por críticas direcionadas aos políticos em geral e aos três Poderes. Como resposta, Dilma anunciou, entre outros projetos, um de reforma política, jamais votado. As manifestações de rua duraram até a realização da Copa do Mundo de Futebol, quando a presidente foi vaiada ao chegar para a abertura dos jogos.

Em 2014, ela ganhou sua segunda eleição presidencial. Foi eleita com 55,7 milhões de votos, em momento marcado por declínio do produto interno bruto (PIB), crescimento da inflação e início das investigações que culminaram na operação Lava Jato, envolvendo a Petrobras, políticos e empreiteiras.

Dilma assumiu seu segundo mandato em 1º de janeiro de 2015, enfraquecida por uma crise econômica aguda e pelas denúncias que atingiam os partidos que a apoiaram. A partir de fevereiro, seus índices de popularidade entraram novamente em declínio e, por todo o país, começaram as manifestações conhecidas como “panelaço”, resultando em rejeição maciça a seu governo e na apresentação de vários pedidos de impeachment.

Impeachment

Em dezembro de 2015, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, deu curso a um dos processos que pediam seu impeachment, assinado pelos juristas Hélio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Reale Júnior. No dia 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados autorizou o Senado a instaurar o processo.

Em 12 de maio deste ano, o Senado autorizou a abertura do processo de impeachment e determinou o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República pelo período de até 180 dias.

Foi iniciado então o processo que se encerra nesta quarta-feira (31 de agosto), no Plenário do Senado, quando por 61 votos a 20, sob a presidência do ministro Ricardo Lewandowski, os senadores decidiram encerrar o seu governo e dar posse definitiva a Michel Temer. Na mesma sessão, por 42 votos a 36, o Senado decidiu que ela se mantém apta a exercer qualquer função pública. Seriam necessários 54 votos para que ela ficasse inabilitada para o exercício de função pública.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)