Mulheres negras querem mais espaço na política
Da Redação | 19/11/2015, 14h50
Um dia após a Marcha das Mulheres Negras, que reuniu cerca de 30 mil pessoas em Brasília, as participantes da caminhada contra o racismo e a violência cobraram mais protagonismo político e visibilidade durante audiência pública promovida nesta quinta-feira (19) pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado (CDH).
O fim do racismo e do sexismo reproduzidos nos veículos de comunicação e mais participação de negros em cargos de direção de órgãos públicos também foram reivindicações feitas durante o debate.
Segundo Clátia Regina Vieira, coordenadora da marcha, o conservadorismo do Congresso Nacional impede o avanço de políticas públicas e leis que permitam mais ascensão social dos negros.
— Temos um Legislativo hoje que tem, em suas ações, nos excluído, nos prejudicado e nos deixado à margem. Não vamos mudar a vida das mulheres negras, a vida do povo negro, se não ocuparmos cadeiras no Legislativo —avaliou.
Mesmo sendo maioria da população (52%), os negros também ocupam poucos cargos de direção em empresas e órgãos públicos. A situação das cerca de 50 milhões de mulheres negras é ainda mais complicada, conforme apontou a ouvidora-geral da Defensoria Pública do estado da Bahia, Vilma Reis.
— Nas 50 maiores empresas públicas e de capital misto do Brasil, é uma vergonha. Não tem mulher negra nas gerências e diretorias — criticou.
Violência
A Marcha das Mulheres Negras faz parte das comemorações pelo Dia da Consciência Negra, que é celebrado em 20 de novembro, e teve participação de manifestantes de diversas partes do país.
A violência crescente contra essa parcela da população é uma das principais preocupações das militantes. Segundo o Mapa da Violência de 2015, o assassinato de mulheres negras entre 2003 e 2013 aumentou 54,2%.
— Enquanto nós tivermos uma mulher negra vítima de violência, não vamos nos calar — garantiu Clátia Regina.
Confronto
Dora Bertulio, da Fundação Palmares, disse que os veículos de comunicação reforçam a imagem de que a população negra é subalterna. Sônia Terra, do Instituto da Mulher Negra no estado do Piauí, concordou. Ela lamentou que o confronto ocorrido ontem entre participantes da Marcha das Mulheres Negras com manifestantes pró-impeachment ganhou mais destaque na mídia do que as bandeiras das militantes.
— A visibilidade foi dada pelas balas que nos desestruturam. A mídia ignora e desrespeita a maioria da população — afirmou.
Dois policiais civis foram presos após o incidente. Pelo menos um dos detidos faz parte do grupo que está acampado em frente ao Congresso e pede a saída da presidente Dilma Rousseff. A senadora Regina Sousa (PT-PI), que presidiu a reunião, cobrou a retirada dos manifestantes.
— São guardiões do Eduardo Cunha e estão ali para intimidar, amedrontar. Vamos tirar aquele acampamento — disse a parlamentar.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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