Prudente de Moraes enfrentou birra do antecessor, trama do vice e até atentado

Ricardo Westin | 03/10/2014, 14h09

Prudente de Moraes passou quatro anos extenuantes na Presidência da República. As turbulências começaram antes mesmo da posse, em 1894. Vindo de Piracicaba (SP), ele não encontrou recepção nenhuma ao desembarcar do trem no Rio. Foi o primeiro sinal de que o presidente Floriano Peixoto não estava feliz por entregar o poder.

As hostilidades continuaram. Floriano não quis recebê-lo para tratar da transição, alegando falta de horário na agenda. No dia da posse, não enviou carruagem oficial ao hotel onde o sucessor se hospedava. Prudente teve de alugar uma carroça às pressas para chegar ao Palácio Conde dos Arcos, o Senado. Após o juramento, o novo presidente rumou para o Itamaraty, o palácio presidencial, mas achou o prédio às moscas — aberto, sujo e sem funcionários. Floriano não estava, pois se negara a transmitir o cargo.

— Foi pirraça — resume o jornalista J. Natale Netto, autor de Floriano, o Marechal Implacável (Novo Século).

O marechal Floriano não viu com bons olhos a chegada dos civis ao poder. Afinal, foram os militares que  em 1889 proclamaram a República.

Prudente tinha um currículo respeitável. Havia sido governador de São Paulo e, como senador, presidido a Assembleia Nacional Constituinte. Na primeira eleição presidencial, indireta, em 1891, ficara em segundo lugar — os parlamentares deram vitória ao marechal Deodoro da Fonseca, que meses depois renunciaria e seria sucedido por Floriano, seu vice.

Em 1894, o Sul se ensanguentava na Revolução Federalista. Em 1896, explodia a Guerra de Canudos, na Bahia. No primeiro conflito, Prudente costurou o acordo de paz. No segundo, massacrou os revoltosos.

— Prudente não conseguiu grandes feitos econômicos ou sociais. Sua proeza foi pacificar o país. Com ele, encerrou-se a transição da monarquia para a República e o novo regime se consolidou de vez — diz a historiadora Renata Gava, diretora do Museu Prudente de Moraes, de Piracicaba.

O presidente tinha um inimigo insuspeito. Era Manoel Victorino, seu próprio vice. Em 1896, Prudente se afastou por causa de uma cirurgia nos rins. Victorino assumiu o poder e foi tomado pela ideia de não devolver o cargo. Trocou ministros e transferiu a Presidência do Itamaraty para o Catete. Ciente da trama, Prudente, que se tratava em Teresópolis (RJ), decidiu voltar de surpresa e Victorino, sem tempo para reagir, não teve opção senão entregar a cadeira presidencial.

Em 1897, Prudente enfrentou a última turbulência. Durante uma cerimônia, um soldado encostou uma pistola em seu peito. O presidente foi rápido e, com a cartola, conseguiu afastar a arma. O soldado, então, sacou uma espada e matou o ministro da Guerra. Prudente saiu ileso. Victorino foi processado como mandante do atentado. Ante a falta de provas, o vice acabou sendo inocentado.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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