CDH forma grupo para elaborar campanha contra queimaduras

mmcoelho | 20/12/2012, 13h55

 

Um grupo para elaborar uma campanha nacional de prevenção a queimaduras dentro da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado ao final da audiência pública desta quinta-feira (20) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). A audiência, última das 85 realizadas no ano, discutiu a realidade da ocorrência de queimaduras no país.

O médico e representante do Ministério da Saúde José Eduardo Fogolini Passos prometeu realizar uma reunião no início de fevereiro de 2013, com os outros debatedores presentes, para elaborar uma campanha nacional de prevenção à queimaduras. A iniciativa surgiu após o debate, que mostrou vários problemas na prevenção a acidentes que resultam em queimaduras e revelou o grande número de brasileiros queimados por ano no Brasil, cerca de 1 milhão.

Álcool: o maior vilão

De acordo com os especialistas que participaram do debate, a maioria dos acidentes de queimaduras está relacionada a chamas por uso de álcool etílico. De acordo com a diretora do hospital Nelson Piccolo, referência no atendimento a queimados em Brasília, Dra. Thereza Piccolo, os acidentes com álcool atingem principalmente a faixa etária de 5 a 14 anos.

O secretário-geral da Confederação Mundial de Sociedade de Cirurgia Plástica, Dr. Nelson Piccolo, lamentou que uma norma da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) que proibia a venda de álcool etílico líquido nos supermercados tenha sido derrubada por uma liminar movida pelos fabricantes.

- No nosso serviço, em Goiânia, 70% das mortes em crianças são causadas por queimadura por etanol que é vendido por R$ 2,00, R$ 3,00 no supermercado – disse Nelson.

O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da comissão, se propôs a elaborar um projeto de lei proibindo a venda de etanol nos supermercados.

– Eu vou pegar a sua segunda sugestão e já vou encaminhar ali para a secretaria da comissão para que, como fruto dessa audiência pública, a gente apresente um projeto de lei, baseado nessas estatísticas que vão subsidiar o projeto – afirmou Paim.

Líquidos quentes

Os líquidos quentes são, segundo os debatedores da audiência, a segunda maior causa de queimaduras em crianças até 5 anos de idade. Segundo o capitão do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, Natan Milward, os bombeiros atendem cerca de 4 mil ocorrências por mês, das quais 5% são de queimaduras. São atendidos mensalmente pelos bombeiros cerca de 200 pacientes queimados. Para o capitão, a solução é uma campanha de prevenção, que eduque crianças e pais.

– O maior caso é o acidente doméstico mesmo, então o importante é conscientizar – afirmou.

Falta de profissionais capacitados

Os participantes da audiência também reclamaram da ausência de profissionais qualificados para tratar pacientes queimados. A fisioterapeuta e vereadora eleita de Goiânia, Cristina Lopes Afonso disse que, durante a graduação de medicina, o único aprendizado que os alunos têm sobre tratamento de queimaduras está relacionado aos primeiros socorros.

- Eu trabalho para que a queimadura seja reconhecida como autônoma dentro do sistema de saúde. Que ela seja uma especialidade na área de saúde, assim como é a pediatria, a pneumologia, cardiologia e isso nos obriga a incluir essas disciplinas dentro dos currículos de formação – disse Cristina.

Cristina é vítima de queimadura; foi queimada pelo ex-namorado, numa tentativa de homicídio. Ele jogou álcool e pôs fogo no corpo dela em 1986 em Curitiba. Transferida para Goiânia, onde conseguiu se tratar e sobreviver, recebeu doação de pele dos irmãos. O autor da agressão foi condenado a 14 anos de prisão.

Erros ao prestar os primeiros socorros

Os participantes da audiência alertaram para alguns erros que as pessoas cometem quando sofrem queimaduras ou ao socorrerem pessoas queimadas. Passar pasta de dente, manteiga, borra de café, clara de ovo são práticas condenadas pelos especialistas.

- O passo é simples e básico: lave com água corrente até a dor passar, embrulhe com pano limpo ou uma gaze estéril, não perfure as bolhas e vá para um serviço médico – aconselhou a Dra. Thereza Piccolo.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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