Fotógrafo da Agência Senado, José Varella morre aos 55 anos

Marco Antonio Reis e Nelson Oliveira | 19/12/2012, 18h05

A Agência Senado perdeu um importante colaborador: o fotógrafo José Varella, que faleceu nesta quarta-feira (19), aos 55 anos, vítima de câncer no pulmão, deixando quatro filhos. Profissional dos mais reconhecidos no jornalismo político, Varella fotografou para alguns dos principais veículos de imprensa do país, como o Jornal do Brasil, o jornal O Estado de S. Paulo, o Correio Braziliense e a revista IstoÉ. A Agência Senado foi seu último local de trabalho, onde mais uma vez colecionou amigos e admiradores. O editor Nelson Oliveira, companheiro do Varella em diversas coberturas, elaborou um breve relato da trajetória do fotógrafo.

"José Varella nos deixou depois de uma vida de muitas batalhas e uma sofrida guerra contra o câncer. Recusou-se a morrer sem luta, o que foi o último de um dos seus muitos atos de rebeldia.

O primeiro, protagonizou ainda criança, em Natal, quando a família o incumbiu de fazer periodicamente o pagamento ao leiteiro, o que exigia caminhada sob sol causticante. Ao constatar que o filho do entregador de leite mantinha-se tranquilamente à sombra, recusou-se a continuar cumprindo a tarefa. E foi atendido.

Já na adolescência, em Brasília, foi preso por participar de manifestação durante o enterro do presidente Juscelino Kubitschek, e prosseguiu sempre com arrojo pela vida afora. Adulto, no entanto, a dedicação extrema ao trabalho em nada lembraria o garoto 'injustiçado'. A altivez permaneceria, mas temperada pela disciplina profissional que o levava invariavelmente a entregar a melhor foto possível às redações para as quais trabalhou, como nos jornais O Estado de S. Paulo e Correio Braziliense e na Agência Senado.

No caso de Varella, o adjetivo ‘intrépido’, um tanto desgastado atualmente, merece uma operação de resgate: como fotógrafo não podia mesmo tremer, mas não tremer era da sua índole, e certamente o habilitou para a profissão que escolheu – e essa não foi simplesmente a de fotógrafo, mas a de repórter fotográfico, atividade que exige destemor e certa dose de agressividade. Além da vontade de registrar a história e dela participar de forma envolvente. Varella era, ele próprio, muito envolvente, especialmente quando contava os casos de grandes e pequenas coberturas jornalísticas.

Num dos muitos episódios interessantes em que se envolveu, em 15 de março de 1994, acompanhou de perto o sequestro do cardeal Aloísio Lorscheider, tomado como refém por detentos do Instituto Penal Paulo Sarasarte, em Fortaleza. Foi o único a registrar a libertação do dignitário.

Na cobertura da rotina do poder, algo mais amena que um sequestro, mas igualmente desafiadora, nunca estava desatento. Não fazia fotos. Fazia jornalismo político, ligado nos fatos e personagens, de modo a que as imagens pudessem depois ser apropriadamente casadas ao material produzido pelos repórteres de texto.

Em homenagem a esse grande profissional do fotojornalismo, a Agência Senado publica alguns de seus melhores trabalhos registrados na Casa entre março e maio de 2011. Cumprimos assim com a obrigação de colocar para os contemporâneos, e os do futuro que remexam nos arquivos da internet, a memória do nosso colega. Mas estamos tranquilos quanto ao sentimento do próprio Varella sobre sua trilha. Ele sabia que tinha participado da história. E também ajudado a construí-la."

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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