Selic para combater inflação é criticada por senadores

Da Redação | 03/05/2011, 20h00

Se vozes do mercado financeiro classificam de tímida a reação do Banco Central ao aumento da inflação e cobram correção mais forte na Selic, a taxa básica de juros, diversos senadores manifestaram ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, dúvidas sobre o poder da Selic como instrumento eficaz para conter o avanço dos preços. O debate se deu em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), nesta terça-feira (5).

Para Francisco Dornelles (PP-RJ), por exemplo, a Selic não tem qualquer influência sobre o crédito direcionado e produz pouco impacto sobre as taxas do mercado livre - efeitos desejados para controlar a liquidez e esfriar a inflação. Na prática, observou o senador, aumentos na Selic só servem para pressionar a dívida pública: a cada ponto a mais na taxa, a divida pública cresceria em R$ 10 bilhões.

- Com tristeza, vemos que o superávit primário foi anulado pelas despesas de juros - disse o senador, depois de observar que "deu em nada" o maior esforço de economia obtido até março, em comparação ao mesmo período do ano passado, para pagar os juros.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) elogiou a coerência da política econômica. Quanto à inflação, avaliou que há avanços em relação ao passado, quando, segundo ela, o combate se centrava apenas na Selic e na desvalorização cambial. Para a senadora, as críticas "exacerbadas" e "profecias pessimistas" quanto aos preços refletem o interesse de setores que desejam a realização das projeções negativas, para se beneficiar com novos aumentos de juros.

- Mas o governo tem muito crédito e muito respeito para afirmar que a inflação estará sob controle, sobretudo porque tem passado, porque tem história, porque tem números mostrando isso - disse Gleise Hoffmann.

Por entender que a referência aos "críticos exacerbados" era dirigida à oposição, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse que a manifestação da colega lembrava a "guerra psicológica adversa" dos governos militares. Como observou, os militares confundiam qualquer crítica com a tese da guerra psicológica, como se representasse uma ameaça à segurança nacional.

O senador Cyro Miranda (PSDB-GO), junto com Francisco Dornelles um dos propositores do debate, questionou a projeção de crescimento do PIB trazida pelo ministro, de 4,5% para este ano. Observou que a publicação Informe Conjuntural, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), aponta agora para um crescimento de apenas 3,5%. Disse não se tratar de torcida contra as expectativas do governo, mas de alerta para dados divergentes.

Luiz Henrique (PMDB-SC) chamou a atenção para o problema das relações federativas e pediu que o ministro informasse sobre o que o governo pretende fazer para mudar uma realidade adversa: o controle federal sobre dois terços de toda a arrecadação de tributos, com apenas um terço para ser repartido por estados e municípios. Além disse, manifestou o temor de que mudanças no regime do ICMS venham a prejudicar estados exportadores de produtos mais elaborados e de maior valor.

Participaram do debate 38 senadores, entre os quais 34 membros titulares ou suplentes da comissão e quatro de fora dos quadros da CAE.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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