Alta de preço dos alimentos é irreversível, afirma ministro da Agricultura

Da Redação | 14/05/2008, 14h58

O preço dos alimentos, em alta no mundo todo, não deve voltar aos patamares anteriores, afirmou nesta quarta-feira (14) o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes. Ao contrário, enfatizou ele, deverão ocorrer novos aumentos até 2012, caso se mantenha a atual tendência de elevação de consumo. Em audiência pública promovida pela Subcomissão Permanente de Biocombustíveis e pelas Comissões de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), o ministro apontou o aumento na oferta de alimentos como saída para a crise, ressaltando que, no Brasil, há terra suficiente para ampliar cultivos alimentares e, ao mesmo tempo, dinamizar a produção de etanol.

Conforme ressaltou Reinhold Stephanes, o aumento de preço dos alimentos tem sido causado por um conjunto de fatores, entre os quais a elevação de renda e o conseqüente aumento de consumo nos países emergentes.

- A demanda por alimentos tem apresentado um crescimento médio de 5% nos últimos cinco anos e capacidade de resposta da agricultura não chega a isso. No mesmo período, os estoques de trigo, milho e arroz caíram pela metade - argumentou.

Ele reconheceu que o direcionamento de milho para produção de etanol nos Estados Unidos eleva o custo dos alimentos, mas destacou também os impactos das mudanças climáticas na agropecuária, reduzindo a produtividade em vários países. Ao reconhecer a gravidade da crise, o ministro destacou que o Brasil hoje consegue produzir para alimentar a população, para atender ao crescimento de demanda e para aumentar os excedentes para exportação.

- O Brasil tem perfeitas condições de conciliar aumento de produção de alimentos com produção de energia. Além disso, o setor tem capacidade de produzir etanol de forma competitiva no mercado de combustíveis - frisou.

Especulação

Para o diretor do Departamento de Proteção da Produção do Ministério Desenvolvimento Agrário, Arnoldo Campos, também a entrada do mercado financeiro no setor de alimentos deve ser incluída no rol de causas da alta no preço dos alimentos. Para ele, apenas as curvas da demanda não explicam a explosão dos preços a partir de metade do ano passado.

Arnoldo Campos destacou que o país tem hoje uma "excelente oportunidade" de ampliar a participação da produção agrícola no mercado internacional, mas deve continuar a apoiar a Agricultura Familiar, responsável pela maioria dos 100 itens que formam o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

- Dos itens acompanhados, 90 estão com preços estabilizados e devem continuar a ser apoiados, para que possam manter o bom desempenho. O governo deve combinar medidas visando à segurança alimentar com ferramentas para aproveitar as recentes oportunidades no mercado externo, tanto de exportação de produtos como milho e arroz, como de biocombustíveis - informou.

Nesse sentido, o chefe do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores, ministro André Aranha Corrêa do Lago, ressaltou que o Itamaraty tem feito amplo trabalho para mostrar que as restrições impostas pela União Européia aos biocombustíveis não se aplicam ao Brasil.

- O país tem sido vítima de preconceitos e de idéias distorcidas, mas tem demonstrado sua disposição para o debate, reforçando as diferença do etanol brasileiro - observou, ao destacar as potencialidades dos biocombustíveis como alternativa energética.

Os impactos positivos ao ambiente, resultantes do uso de etanol, também foram destacados pelo secretário de Tecnologia Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Francelino Grando. Ele lembrou os avanços tecnológicos obtidos pelo país, que permitiram a produção de veículos flex ou bicombustível - movidos a gasolina e a etanol.

- É preciso que o país tenha posição firme para divulgar as conquistas tecnológicas obtidas, mostrando ao mundo que, com os biocombustíveis, podemos plantar energia - destacou. Como perspectivas futuras, ele citou pesquisas de uso do bagaço de cana-de-açúcar na produção de etanol, "elevando a atual produção de nove mil litros por hectare para 12 mil litros por hectares", e a produção de energia a partir de biomassa. Destacou ainda a posição brasileira favorável à transferência de tecnologia aos países em desenvolvimento.

Também o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Ergon Krakhecke, ressaltou a atuação do Brasil na cooperação sul-sul, em especial com países africanos. Para ele, as críticas aos biocombustíveis decorrem de "enormes interesses econômicos" que têm promovido a desinformação sobre a produção brasileira de etanol. Como exemplo, ele citou recusas da indústria automobilística européia em testar carros com sistema flex.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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