Estudantes do continente africano lembram atentado e condenam xenofobia

Da Redação | 03/04/2007, 18h31

Cinco dos dez estudantes africanos que sofreram um atentado na Casa do Estudante Universitário (CEU) da Universidade de Brasília (UnB) compareceram à audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado nesta terça-feira (3). Eles falaram sobre o medo que sentiram durante o incêndio criminoso no dia 28 de março e agradeceram o apoio dos presentes. O estudante da Guiné-Bissau Nivaldo Domingos Gomes disse estar no Brasil há cinco anos e disse ter ficado com medo em virtude do crime. Mesmo assim, afirmou que vai concluir o curso na universidade e, com isso, passará a representar não apenas sua nação, mas também a própria UnB.

Já Lenine da Silva, também da Guiné-Bissau, e formando em Ciências Sociais na universidade, disse que cerca de 400 estudantes estrangeiros fazem intercâmbio na UnB, sendo cerca de 150 destes oriundos do continente africano. Com a voz embargada em diversos momentos, ele relatou já ter sofrido discriminação racial no Brasil. Lenine disse que são apenas cerca de 400 estudantes estrangeiros entre os 25 mil estudantes da Universidade de Brasília, e apenas 20 alojamentos (dos 386 da CEU) destinados a estrangeiros. Para ele, "nada justifica essa barbárie".

- Nenhum estrangeiro está roubando vagas de estudantes brasileiros - disse Lenine ao se referir tanto às vagas na universidade quanto às vagas na moradia estudantil.

Para Lenine, "foi um grupinho" que cometeu o "ato xenofóbico, ato de barbárie". Ele também chamou a atenção da administração da Casa do Estudante Universitário (CEU) da UnB que, segundo ele, foi omissa pois já havia sido informada dos desentendimentos entre estudantes brasileiros e africanos na moradia estudantil. Ele sugeriu que a universidade promova programas para promover a integração entre alunos estrangeiros e brasileiros.

A formanda em Ciências Sociais Mbalia Mafory Queta, também natural da Guiné-Bissau, agradeceu o apoio que tem recebido desde o atentado do dia 28 de março e relatou já ter sofrido diversas ameaças e agressões na CEU. A estudante também disse que o crime foi perpetrado "por um grupo isolado, e não pelos brasileiros em geral". Ela exigiu punição rigorosa aos criminosos.

- Já me xingaram, já me cuspiram na cara, mas não achava que isso ia chegar a esse ponto. Eles queriam acabar com a gente. Não estamos tirando vaga de ninguém - disse Mbalia.

Outro dos estudantes agredidos, Kassoum Dieme, do Senegal, estudante de Sociologia na UnB, agradeceu à universidade que, segundo ele, "sempre ajudou os alunos estrangeiros". Ele lamentou o fato, o qual classificou como "uma barbárie" e "um ato de terrorismo de gravidade incalculável".

- Lamento que isso tenha acontecido com seres humanos, que merecem respeito e têm o direito de viver como qualquer um - disse o senagalês.

Kassoum Dieme criticou a Universidade de Brasília por não divulgar entre seus estudantes e a sociedade como funciona o programa de intercâmbio com alunos estrangeiros. Para ele, a falta de informação contribui para o preconceito e a discriminação. Kassoum aproveitou para convidar os presentes para a cerimônia de colação de grau na UnB, no dia 29 de agosto próximo, no qual alguns estudantes africanos serão diplomados. O estudante Helmer Dinis Sequeira, da Guiné-Bissau, também participou da audiência pública.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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