General se compromete a apresentar mais detalhes em reunião fechada

Da Redação | 17/03/2005, 00h00

Em depoimento na tarde desta quinta-feira (17) frente à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, o ministro da Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, disse que só poderia dar mais detalhes sobre reuniões de organizações políticas brasileiras com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em reunião fechada. A afirmação de Félix foi feita em resposta a questão apresentada  pelo senador Jefferson Peres (PDT-AM), que quis saber se houve "encontros políticos" entre integrantes da Farc e do Partido dos Trabalhadores (PT).

Para Jefferson, não é importante, a princípio, saber se as Farc efetivamente doaram dinheiro ao PT, conforme denúncia publicada pela revista Veja. De acordo com o senador, já é um fato grave que um partido tenha tido reuniões para tratar de temas políticos com "uma organização criminosa estrangeira", em referência ao fato de que as Farc possam ter conexão com o narcotráfico.

Em razão dessa afirmativa do general, o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) propôs que se fizesse reunião em caráter sigiloso, a fim de que o general pudesse fornecer maiores detalhes sobre o caso Farc-PT e mostrar relatórios produzidos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre contatos e outros tipos de ação das Farc no Brasil. Durante a reunião,  Félix só mostrou um documento da Abin tratando da suposta  doação de dinheiro ao PT, mas em que apenas é relatada informação não confirmada sobre o trânsito dos recursos pelo Mato Grosso.

- Concordo com o senador Jefferson Peres em que a investigação deve continuar, embora não concorde com a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para esclarecer o caso - disse Aleluia.

O deputado Fernando Gabeira  (PV-RJ) disse que até concorda com a reunião secreta, mas desde que seja para tratar de documentos que sejam verdadeiros, uma vez que o documento utilizado na matéria de Veja seria uma cópia datilografada de um manuscrito recebido pelo deputado Alberto Fraga (PTB-DF). Em relação ao documento apresentado pelo ministro da Segurança Institucional, Gabeira considerou que, por sua fragilidade, demonstraria o que denominou "a indigência" do serviço de inteligência.

- A matéria da Veja é o que se chama de cascata, na linguagem jornalística. A manchete é afirmativa, mas o conteúdo do texto não prova que houve a doação das Farc ao PT - disse o deputado, garantindo que não tem simpatia pelas Farc e que tem críticas ao PT.

Já o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) sugeriu que se trate com muito cuidado esse assunto, de forma a preservar o estado brasileiro. Na opinião dele, a reuniões e relatórios da comissão sobre o tema, seria preferível que os parlamentares visitassem a Abin e verificassem eles próprios os documentos que considerassem importantes.

No entender do deputado Paulo Rocha (PT-PA), a celeuma em torno do suposto financiamento de campanhas do PT pelas Farc é uma estratégia da oposição para "antecipar a disputa eleitoral de 2006". Já o senador Delcídio Amaral (PT-MS) classificou de "surrealista" a situação vivida pelo PT, ao ter de defender-se de uma acusação sem provas. Mesmo sem acreditar que o PT tenha recebido dinheiro dos guerrilheiros colombianos, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) ressaltou a necessidade de que o assunto seja esclarecido.

Na parte final da reunião, respondendo a perguntas de Antero e do senador Demóstenes Torres (PFL-GO), o general Jorge Armando Félix disse que o serviço de inteligência não tomou conhecimento de evento realizado pelas Farc numa propriedade rural chamada Coração Vermelho e que não possui fita desse evento - fita essa que teria sido gravada por um agente da Abin, conforme o que foi publicado em Veja.

O diretor-geral da Abin, delegado  Mauro Marcelo de Lima e Silva, declarou que o relatório sobre as Farc apresentado nesta quinta à comissão é apenas "uma peça de um quebra-cabeças". Ele afirmou que o documento não foi destruído para que fossem feitas mais averiguações.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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