Especialistas pedem mais educação para condutor

Pedro Pincer | 15/08/2017, 10h39

O Brasil é o quarto país onde o trânsito mais mata, mesmo estando longe de ser aquele que possui mais automóveis circulando. Embora na letra da lei o investimento em educação no trânsito seja obrigatório, a falta de um valor específico faz com que 80% da verba das multas acabe direcionada para fiscalização e policiamento, de acordo com a consultora Liliane Colares.

Para a advogada Mércia Gomes, a falta de preocupação com a postura do motorista brasileiro é flagrante.

— Educação de trânsito nunca foi objeto de investimento. Quando inserirmos o tema na grade curricular das crianças, teremos jovens educados no trânsito, adultos conscientes conduzindo veículos. Hoje não vemos crianças respeitando a faixa de pedestres. Não vemos os cidadãos trocarem o carro pelo transporte público, que deveria ser mais cobrado em termos de qualidade. O Brasil não tem condutores responsáveis. Se tivesse, teríamos um número menor de acidentes. No Brasil, o número de mortes no trânsito é maior que o de mortes por câncer — informou.

Tornar as multas mais pesadas não vai fazer do brasileiro um motorista melhor, diz Mércia.

— Acredito que o aumento dos valores da multas não altera em nada quanto à educação e conscientização no trânsito. Se não existisse o quesito da pontuação, muitos condutores teriam milhões de multas. Seria mais vantajoso para eles, por exemplo, ter uma multa por excesso de velocidade acima de 20%, do que manter a velocidade nas vias dentro do município. Seria preciso haver aulas de trânsito nas quais se apresentassem estatísticas e vídeos.

Especialista em legislação, ela diz que todos os atores envolvidos na questão do trânsito precisam se comprometer mais e dar mais atenção ao tema.

— Temos sentido dificuldade pela falta de compromisso de gestores públicos, da iniciativa privada e, acima de tudo, da própria sociedade. Se o assunto for levado a sério nessas três esferas, vamos entender que cada um tem a sua parcela de contribuição. Só assim entraremos no rumo certo para tornar o trânsito brasileiro mais seguro, ético e cidadão.

A opinião da advogada é corroborada pelo presidente do Instituto de Segurança no Trânsito, David Duarte Lima.

— O brasileiro é um motorista despreparado. A Espanha, que reduziu 80% da violência no trânsito nos últimos 15 anos, pode nos servir de exemplo. É preferível o infrator ter certeza da punição do que ter a esperança de impunidade. É preciso investir na formação e na educação dos condutores, sem esquecer de ter vias e veículos seguros.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)