“Transexualismo não é escolha”, explica psiquiatra da UnB

Da Redação | 12/08/2016, 11h00

 

Psiquiatra e professor da Universidade de Brasília, Gabriel Graça, também transexual, aborda a visão da ciência sobre a questão.

 

De que forma se pode associar o transexualismo e a opção de escolha de um indivíduo?


— O transexualismo está longe de ser um assunto de escolha ou opção pessoal, como se alguém resolvesse de um momento para outro mudar seu sexo. É algo muito mais complexo, um tema sério que merece um enfoque científico, médico e psicológico. Sendo assim, a meu ver, o reconhecimento jurídico e legal da condição desses indivíduos é algo condizente com os caracteres biológicos e pessoais que marcam a constituição de suas personalidades.

 

Seria algo que se manifesta desde o nascimento, ou desde a primeira infância?


— Sim. Por isso, nos mais diferentes países, o enfoque sobre a disforia de gênero já é feito pela área da saúde. O que há é um dismorfismo sexual cerebral pré-natal divergente da diferenciação biológica do resto do corpo. Simplificando, já podemos afirmar cientificamente que a criança, ao nascer, vem com um cérebro inclinado a tornar-se homem ou mulher.

 

Então, o transexualismo seria uma condição que vai muito além da sexualidade de um determinado indivíduo, como talvez seja a compreensão de “senso comum”.


— Há documentação que comprova, fartamente, manifestações de disforia de gênero muito antes de qualquer manifestação de teor sexual, afetivo ou erótico por uma outra pessoa. Então realmente não se trata de orientação sexual, se trata de como o indivíduo se sente e se enxerga do ponto de vista de seu gênero. É fonte de um enorme sofrimento pessoal, é um desacordo básico, fundamental entre o que a pessoa percebe ser, o corpo que ela vê e como a sociedade lhe trata. Pesquisas demonstram que o índice de tentativas de suicídio entre transexuais beira 40%. E de fato não é possível associar diretamente a transexualidade com a opção sexual, pois há inúmeros casos de transgêneros, homens e mulheres, que mesmo após a redesignação adotam opções sexuais que seriam vistas como “heterossexuais” sob uma estrita ótica de senso comum.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)