Governo derruba lenda sobre bombom de licor

Da Redação | 05/02/2013, 00h00

 

Álcool presente em bombons, antissépticos bucais e remédios homeopáticos não tem quantidade e concentração suficientes para afetar capacidade de dirigir

Ricardo Westin

Acidente de carros em rodovia do Distrito Federal: objetivo
da Lei Seca é reduzir mortes no trânsito

É FALSA a ideia de que a partir de agora, com a radicalização da Lei Seca, os motoristas que comerem bombom de licor, fizerem bochecho com antisséptico bucal ou tomarem remédio homeopático à base de álcool também serão punidos.

O álcool está presente no bombom, no antisséptico e no remédio em quantidade e concentração baixíssimas, incapazes de comprometer a capacidade de dirigir. Ele desaparece da boca depois de alguns minutos.

Quando se bebe um copo de chope ou uma taça de vinho, ao contrário, a quantidade e a concentração de álcool são significativas. O organismo trata de expeli-lo tanto pela urina quanto pelo ar que sai dos pulmões. É um processo que pode levar horas.

O papel do bafômetro é denunciar o álcool presente nos pulmões. No entanto, acaba também detectando o álcool que eventualmente esteja apenas na boca.

Se você comeu um bombom de licor e logo em seguida foi parado numa blitz, é provável que o bafômetro detecte o álcool. Numa situação assim, explique ao policial o que aconteceu e peça para soprar no aparelho novamente alguns minutos depois. É certo que o bafômetro não detectará mais nenhum sinal de álcool.

Carnaval

Ontem, o Ministério das Cidades lançou a campanha publicitária anual de rádio e TV contra os acidentes de trânsito nesta época de Carnaval.

— Estamos todos abatidos e comovidos com a grande tragédia ocorrida em Santa Maria [o acidente no clube noturno], que trouxe a dor para 235 famílias, mas não percebemos que a cada dois dias morrem 240 pessoas no trânsito do Brasil — comparou o ministro Aguinaldo Ribeiro.

Como se trata do primeiro Carnaval sob a nova Lei Seca, o ministro aproveitou o evento de ontem e convidou cinco voluntários para se submeterem ao teste do bafômetro — o primeiro comeu quatro bombons de licor, o segundo fez bochecho com uma tampa de antisséptico bucal, o terceiro tomou uma dose de vodca, o quarto ingeriu uma taça de vinho e o quinto bebeu uma lata de cerveja. Meia hora depois, apenas os dois primeiros poderiam dirigir. Os três últimos, não. Assim, derrubou-se oficialmente o mito dos bombons de licor.

Quando se ingere uma bebida, o álcool é absorvido pelo estômago e pelo intestino. Mergulhado na corrente sanguínea, ele chega ao cérebro e lá prejudica o funcionamento das células nervosas.

Entre tantos efeitos, o álcool provoca sonolência, cria uma falsa sensação de segurança, diminui a atenção e a agilidade, compromete a visão e a audição, afeta as percepções de distância e velocidade e torna os reflexos mais lentos.

— A pessoa sóbria leva menos de 1 segundo para dar uma resposta motora, como desviar o carro ou pisar no freio. Se ela bebeu apenas um pouco, esse tempo de resposta sobe para perto de 2 segundos. A diferença parece insignificante, mas é suficiente para provocar uma tragédia — explica o médico Dirceu Rodrigues Alves Junior, um dos diretores da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

Do café amargo ao banho gelado, não há truque capaz de devolver, rapidamente, a sobriedade a uma pessoa bêbada. Cada um tem seu tempo — depende do sexo, da idade, do peso, do metabolismo, do hábito de beber etc. Normalmente, são necessárias horas.

Foi a uma festa e bebeu? As atitudes mais sábias são entregar as chaves do carro a uma pessoa que não bebeu, voltar de carona ou de táxi ou então dormir na casa do anfitrião.

Nos EUA, em certas situações, pessoas que foram pegas dirigindo bêbadas são obrigadas a instalar um bafômetro no carro. O motor só funciona se o motorista assoprar e o aparelho não detectar nenhuma quantidade de álcool.

Jornal do Senado

(Reprodução autorizada mediante citação do Jornal do Senado)

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)