Faltam opções para os agricultores

Da Redação | 14/07/2015, 10h40

 

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural treina trabalhador para aplicar defensivo. Foto: Senar Minas

 

Os defensivos de baixa periculosidade ou naturais serão bem recebidos pelos agricultores. É o que garante o consultor em Tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Reginaldo Minaré. Para ele, do ponto de vista do agricultor, qualquer substância mais suave é bem-vinda, desde que haja suporte técnico e viabilidade financeira.

 

Minaré defende que o produtor é apenas usuário do que a indústria de agrotóxico coloca no mercado. E o impacto dos defensivos na cesta de produção do agricultor não é pequeno, de 10% a 18%, dependendo do tipo de cultura agrícola e de praga. Para ele, o produtor não usa defensivos menos agressivos hoje por falta de opção.

 

 

— É possível produzir sem agrotóxico? Desconhecemos. Milho e soja em larga escala precisam de defensivos. Ainda não temos opção, por exemplo, para a ferrugem da soja — ponderou.

 

Registro

 

Segundo o consultor, hoje os tipos de defensivos à disposição no mercado para uso na agricultura são poucos, sobretudo para as pequenas culturas. Quem mais sofre são os produtores de frutas e hortaliças, sem opções de agrotóxicos apropriados.

 

Relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos — com o qual a Anvisa avalia os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos de origem vegetal — aponta que 29% das amostras de frutas e hortaliças analisadas em 2012 estavam com altos níveis de agrotóxico ou contaminadas com defensivos não permitidos para esses alimentos.

 

— A Anvisa solta o relatório, mas não explica por que isso acontece. O sistema de registro de agrotóxico é moroso. É preciso esperar até sete anos para liberar um novo defensivo.

 

A vice-presidente do Sindicado Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Sílvia Fagnani, disse que a morosidade do sistema desestimula o setor, que precisa gastar muito dinheiro em pesquisa para desenvolver defensivos. Segundo o Sindveg, para cada novo agrotóxico registrado no mundo em 2010, foram estudadas 150 mil substâncias, ao custo de US$ 256 milhões. Segundo ela, existem 28 novas substâncias na fila de aprovação para uso no Brasil.

 

 

— Os agricultores brasileiros perdem em competitividade para outros países porque essas substâncias já são usadas em lavouras no exterior.

 

Para ser concedido o registro, os pedidos precisam ser analisados pela Anvisa, para classificação toxicológica, pelo Ministério da Agricultura, que avalia a eficácia agronômica, e pelo Ibama, que trata do risco ambiental.

 

Números do agronegócio

 

De acordo com o IBGE, em 2002, a comercialização de agrotóxico no Brasil foi 2,7 quilos por hectare. Em 2012, esse número chegou a 6,9 kg/ha, um aumento de 155%, que pode ser explicado pelo crescimento da produção, pela necessidade de combater novas pragas e pelo plantio de transgênicos.

 

A safra agrícola passou, por exemplo, de 96,8 milhões de toneladas, em 2002, para 162,1 milhões/t em 2012, 67,4% a mais. No mesmo período, a área plantada cresceu 10,2%. Ou seja, houve grande aumento de produtividade. E continua a aumentar. Segundo o IBGE, o Brasil deve colher este ano uma safra de 204,3 milhões/t, 5,9% maior do que em 2014, quando foram colhidas 192,9 milhões/t. A alta é puxada principalmente pela soja e pelo trigo.

 

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Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)