Reforma trabalhista mercantiliza os trabalhadores, denunciam sindicalistas

Sergio Vieira | 23/05/2017, 16h22

O que se busca implantar por meio da reforma trabalhista (PLC 38/2017) é um novo modelo sócio-econômico no país, baseado na prioridade absoluta do capital sobre o trabalho e na retirada e precarização de direitos da classe trabalhadora. Essa foi a tônica da maior parte das manifestações dos participantes da audiência pública que discutiu o texto na Comissão de Direitos Humanos (CDH).

Um dos que denunciaram a reforma sob esta ótica foi Kleber Vinicius, da Defensoria Pública da União (DPU). Para ele, a reforma busca a mercantilização e coisificação dos trabalhadores. Um dos pontos criticados é a abertura total que a reforma está dando para a atuação de empresas terceirizadas em todos os setores da economia, informando que tem aumentado muito os casos de fraudes aos trabalhadores cometidas por este meio.

- Este é o maior problema hoje no mercado de trabalho, a DPU não consegue nem executar judicialmente estes picaretas. Tem casos de empresas fechadas há quase dez anos, porque o "laranja" que foi usado como dono era um mendigo, e a gente não consegue nem executar judicialmente o dono real - lamentou.

Ele também criticou o discurso do governo de que a reforma fortalecerá o poder de negociação dos trabalhadores. Para ele, a maior parte da massa de trabalho no país não é representada por sindicatos fortes, portanto ou aceitarão as regras impostas pelos patrões ou serão demitidos.

O representante do DPU também considerou "absurdo" o artigo que precifica o dano moral, o que no seu entender institucionaliza que a pessoa "passa a valer em sua cidadania de acordo com o salário que recebe", também prejudicando os mais pobres.

Maximização dos lucros

Luiz Carlos Prates, da Central Sindical Popular (CSP/Conlutas), também entende que a filosofia da reforma é tornar a classe trabalhadora apenas mais um meio de acumulação de lucros aos detentores do grande capital, abrindo mão de qualquer responsabilidade social.

O negociado sobre o legislado não se efetivará, acredita, porque no Brasil "não existe negociação entre desiguais sem proteção legal, nunca haverá negociação livre, o que vai decidir é o poder do patrão de demitir".

Vicente Salistre, da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), disse que o objetivo do atual governo é "institucionalizar a barbárie" por meio das reformas trabalhista e previdenciária, num modelo em que o Estado não teria mais a obrigação de incluir socialmente dezenas de milhões de seus cidadãos, rompendo com pactos sociais estabelecidos na Constituição de 1988 e na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Para o advogado Mauro Menezes, especialista em Direito Sindical, a atual reforma é um enorme retrocesso, fazendo com que os direitos trabalhistas regridam 100 anos.

- É a personificação do projeto que a elite tem paro povo, praticamente um neo-escravismo - criticou, detalhando ainda que nenhum país do mundo fez uma reforma em suas leis trabalhistas "com essa amplitude, revogando mais de 100 direitos de uma só vez".

Crescimento da corrupção

O PLC 38/2017 também foi criticado pelo procurador Angelo Costa, do Ministério Público do Trabalho (MPT). Ele informou que o MPT realizou uma consulta formal à Organização Internacional do Trabalho (OIT), que confirmou que o Brasil poderá ser condenado em foros internacionais caso seja sancionado o texto como foi aprovado na Câmara dos Deputados, por confrontar diversos acordos dos quais o país é signatário.

Costa também não acredita que a reforma possa gerar empregos, apenas "generalizará a informalidade em todo o mercado de trabalho". Ele também vê riscos de aumento da corrupção por meio da terceirização na administração pública.

Outro procurador, Renan Kalil, apresentou uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), segundo a qual 73% dos empresários também não acreditam que a reforma trabalhista possa gerar empregos de forma significativa.

A manutenção da contribuição sindical obrigatória aos sindicatos também foi defendida na audiência pública, sob o argumento de que as entidades patronais continuarão tendo acesso a recursos milionários não afetados pelo atual projeto. Também foram muito criticados pelos participantes da audiência  os artigos que limitam o acesso à Justiça Trabalhista.

A defesa da reforma foi feita por representantes da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e do Ministério do Trabalho, que reiteraram que a reforma reforça o poder de negociação dos sindicatos e não permite que os direitos constitucionais sejam retirados.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)