CDH suspende audiência pública sobre luta dos povos indígenas

Da Redação | 26/04/2017, 18h57

Diante da dificuldade enfrentada pelos representantes das comunidades indígenas para entrar no Senado, foi cancelada a audiência pública marcada para discutir nesta quarta-feira (26) a luta dos povos indígenas por justiça e direitos humanos. O evento seria promovido em parceria pelas comissões de Direitos Humanos do Senado e da Câmara. Os parlamentares se reuniram então com as lideranças indígenas no Acampamento Terra Livre que reúne cerca de dois mil índios ao lado do Teatro Nacional, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Autora do requerimento para o debate, a presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, senadora Regina Sousa (PT-PI), lamentou o incidente e criticou o enorme aparato policial usado para escoltar os indígenas. A senadora informou que nem todos os indígenas iriam entrar no Senado, mas apenas um grupo, como já havia sido combinado. Mesmo sim, disse ela, houve confusão e a prisão de um rapaz que diz ser jornalista.

- A discussão foi terrível com o pessoal do comando da polícia [PM]. A gente precisa tomar providências. É impossível que toda vez que chega índio aqui seja essa confusão - lamentou a senadora.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Paulão (PT-AL), pediu providências ao governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, e ao presidente do Senado, Eunício Oliveira. Ele lamentou o "nível de exacerbação" do episódio.

- O índio tem sua marca própria: a pintura, o maracá, toda instrumentalização, não é de guerra, mas o pessoal fica tensionado. No entanto, na semana passada, quando a Polícia Civil depredou o prédio da Câmara, eu não vi a mesma ação da polícia legislativa ou da Polícia Militar do Distrito Federal - cobrou o deputado.

Leila Borari, representante dos povos indígenas do Baixo Tapajós, disse estar muito triste com a violência com que foram recebidos em Brasília. Ela relatou que só conseguiu entrar no Senado porque participou de uma reunião mais cedo no gabinete do senador Paulo Rocha (PT-PA).

- A gente veio dizer que não quer hidrelétricas no Tapajós. O Tapajós não é apenas um rio pra gente, mas também é o lugar dos nossos encantados. Toda nossa cultura está no rio. É de onde a gente tira nosso sustento também. Queria expressar um pouco nossa profunda tristeza com o desrespeito que ainda continua muito forte com os povos indígenas - disse ela.

Leila Borari alertou ainda sobre a destruição da Amazônia e também do Pará.

- O Pará tem muito minério, tem madeira. O que eles mais querem é tirar a gente de lá. As nossas terras estão sendo dominadas pela soja. Pra gente, o que é mais valioso é nossa floresta em pé, é nosso rio limpo - afirmou.

O deputado Nilto Tatto (PT-SP) também criticou a maneira como os índios foram recebidos. Ele destacou as dificuldades enfrentadas pelas lideranças indígenas para vir a Brasília se manifestar. Tatto fez um apelo para que o governo pare de fazer o desmonte da Fundação Nacional do Índio (Funai) e continue a demarcação de terras.

- Eles vêm de forma pacífica pra mostrar que estão vivos e querem continuar vivendo e quando vem pra cá são recebidos com bomba de gás lacrimogênio? - questionou.

Da Rádio Câmara

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)