Educação 'está na UTI', diz Cristovam em audiência sobre 20 anos da LDB

Sergio Vieira | 30/11/2016, 14h11

Ao conduzir audiência pública sobre os vinte anos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), nesta quarta-feira (30), o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) comparou a situação atual da educação no país com a de um doente em unidade de terapia intensiva. A situação ainda é mais grave, no seu entender, pelo alto grau de polarização que percebe tanto entre os educadores quanto na sociedade como um todo.

— Estamos numa UTI num navio avariado, com a tripulação amotinada e dividida, baseada em conceitos falsos, e no meio de um tsunami — comparou Cristovam na audiência promovida pela Comissão de Educação, Esporte e Cultura (CE).

Um dos participantes da audiência, o professor Ademir Almagro, que tem 25 anos de experiencia na rede municipal de ensino de Belo Horizonte, lamentou que o dinheiro destinado ao setor ainda seja percebido em nosso país como "um gasto" e não como "um investimento no futuro".

Ele criticou a maneira pela qual a Medida Provisória do Ensino Médio (MP 746/2016) estabelece o ensino em tempo integral. Ele afirmou que apoia o aumento da carga horária, mas ponderou que a medida estaria sendo instaurada sem nenhum planejamento específico ou estrutura pedagógica, funcional ou de investimentos com este fim.

— Agora estão falando de 8 horas, vai lá e cumpra-se. Sem nenhuma estrutura, sem nenhuma diretriz de gestão. Eu vou ser professor de teatro, de artes cênicas? É algo fora da realidade e feito sem diálogo — criticou Almagro, para quem a evasão escolar aumentará com esta medida.

Transformação do modelo

Outro participante, o professor Carlos Sávio, da Universidade Federal Fluminense (UFF), avalia que tanto ativistas quanto os gestores da área ainda sofrem da "obsessão" de incluir estudantes ou aumentar verbas num modelo "horrível", quando o foco deveria ser "transformá-lo".

Ele também acredita que o país sofre de uma "loucura anti-corrupção", em que um prefeito ou um secretário pode ser afastado por desvio de verbas, mas nada acontece se eles forem péssimos gestores.

— É obvio que quem é ladrão tem que ser afastado, mas o problema sistêmico da educação brasileira se dá na incompetência, não na corrupção, embora ela exista — disse.

Cristovam também alertou que o conceito de corrupção seria mais profundo, manifestando-se de maneira concreta nas prioridades que são eleitas por cada governante.

O professor da UFF ainda avalia que o governo, o Congresso e os movimentos sociais deveriam centrar forças num novo arranjo institucional visando compensar as profundas desigualdades regionais presentes na educação brasileira.

O consultor Marcelo Ottoni, do Senado, também participou e concordou que pode ser "ineficaz" implantar um regime de ensino integral num modelo educacional ruim. Também considera um desafio superar os desníveis regionais e entre as capitais e os municípios do interior, no que se refere à educação.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)