Senadores divergem sobre pronunciamento de Romero Jucá

Da Redação | 05/04/2016, 21h36

O discurso do senador Romero Jucá (PMDB-RR) nesta terça-feira (5) anunciando sua posse como presidente do PMDB gerou numerosas intervenções do Plenário ao longo de mais de três horas. Jucá fez duras críticas ao governo federal e assegurou a intenção de unificar o partido em torno da saída da base de apoio à presidente Dilma Rousseff. Parlamentares divergiram quanto às avaliações do novo presidente do PMDB sobre a conjuntura política e econômica.

Os senadores governistas fizeram elogios pessoais a Jucá, mas questionaram as motivações do seu discurso. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) observou que o vice-presidente da República, Michel Temer, é o atual titular do cargo que Jucá assumiu, mas licenciou-se nesta terça-feira (5). Ele classificou isso como uma ação destinada a “disfarçar o indisfarçável”.

— Temer está há muito tempo articulando freneticamente o impeachment [da presidente Dilma]. Se ele acontecer, vamos ter um governo frágil e sem legitimidade. Os senhores estão tentando dar uma quartelada parlamentar e assumirem o poder. A chapa do golpe é Temer e Eduardo Cunha [presidente da Câmara dos Deputados] — criticou.

Jucá respondeu que Temer, como representante de um grande partido, sempre teve a obrigação de se posicionar e de ser politicamente ativo. Ele observou que o vice-presidente tem sido vítima de “ataques, armações e agressões”, e se licenciou do comando do PMDB justamente para não entrar em “brigas de rua” e não prejudicar seus deveres institucionais.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) questionou afirmações de Jucá de que o PMDB não teria responsabilidade na crise econômica. Para ela, o partido não é apenas partícipe, mas “sócio majoritário” do governo, ocupando muitos cargos, e não pode se eximir da responsabilidade.

— Vossas Excelências fizeram um registro grande de oportunismo político na página da história brasileira — opinou ela a respeito do rompimento do PMDB com o governo.

O senador Alvaro Dias (PV-PR), que faz oposição ao governo Dilma, reforçou essa crítica, dizendo que o PMDB está “lavando as mãos” sobre sua participação na “massa falida” que é o atual governo. Para ele, não existe nobreza no gesto de se deixar a base na antevéspera do impeachment da presidente da República.

— O PMDB se afasta agora para voltar depois e abocanhar tudo. Não posso deixar de ver oportunismo político. Grandeza seria o partido entregar todos os seus cargos, inclusive o mais importante, que é o de vice-presidente da República — afirmou Alvaro Dias.

Jucá afirmou que a discussão não é sobre cargos, mas sobre o futuro do país. Ele voltou a dizer que ninguém está autorizado a ocupar cargos no governo em nome do PMDB. Sobre a vice-presidência, argumentou que trata-se de uma função para a qual Michel Temer foi eleito, não nomeado, portanto não poderia ser devolvida.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse esperar que o PMDB ajude a presidente Dilma caso ela consiga barrar o impeachment. O senador Jorge Viana (PT-AC) discordou de Jucá sobre o estado da economia e disse acreditar que a situação é melhor do que era durante os governos anteriores aos do PT. Jucá respondeu que o PMDB sempre estendeu a mão para o governo, mas foi recusado, e que o Brasil está agora “à beira da insolvência”.

Eleições

Jucá se posicionou contra a proposta de realização de novas eleições em 2016, que alguns parlamentares têm defendido nos últimos dias. Alguns senadores fizeram a defesa da ideia, aproximando-a da argumentação do presidente do PMDB sobre a responsabilidade dos políticos de se alinharem aos interesses da população neste momento.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse considerar que o país vive sua mais dramática conjuntura política desde a redemocratização. Para ele, a atitude correta do PMDB seria apoiar a realização de novas eleições.

— Ter novas eleições não foge à regra do jogo. Remete ao titular da soberania, que é o povo brasileiro, detentor originário do poder constituinte, a solução do impasse que hoje nós temos — ponderou.

Cristovam Buarque (PPS-DF) afirmou que, quando os líderes não têm um caminho, devem consultar o povo. João Capiberibe (PSB-AP) foi mais abrangente e falou da necessidade de um “pacto público” negociado entre as lideranças políticas e o povo.

O senador Reguffe (sem partido-DF) observou que as principais forças políticas, o PMDB incluído, podem estar “com medo” da decisão popular, e por isso rejeitam as novas eleições. Ele também argumentou que, mesmo que o novo pleito seja encaminhado, o impeachment deve continuar tramitando, bem como as ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a chapa Dilma-Temer.

Desdobramentos

Senadores de oposição disseram acreditar que Jucá fará uma boa condução do PMDB, e ressaltaram que o partido, que é o maior do Congresso Nacional, tem uma posição chave nos próximos desdobramentos da política nacional.

Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que a resolução peemedebista de romper com o governo federal é “decisiva” para “fazer cumprir a Constituição” — o que viria com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. José Agripino (DEM-RN) disse que o Brasil está numa “encruzilhada” e a atuação do PMDB será crucial para a retomada da governabilidade.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) classificou a articulação do governo federal para barrar o impeachment de “espetáculo de fisiologismo explícito”, e destacou que a sociedade não está mais interessada em assistir a atuações políticas vazias.

— O que vai acontecer neste país nos próximos seis meses? As pessoas não sabem. E se o Executivo não está dando esse rumo, nós temos essa obrigação. Não podemos mais ficar irresponsavelmente discutindo sem parar e deixar o Brasil à deriva — alertou.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse que o momento atual do país é “muito grave” e acusou o governo de permissividade, devido a manifestações recentes de líderes de movimentos sociais que defendem a presidente Dilma Rousseff. Caiado destacou que essas lideranças têm feito ameaças e incitado a violência contra o resto da população.

Correligionários

Os senadores do PMDB, que agora serão presididos por Jucá nas atividades do partido, elogiaram o colega e disseram confiar que ele fará um bom trabalho. O líder da sigla, senador Eunício Oliveira (CE), concordou que o Brasil vive um momento “delicado” e disse confiar que o PMDB “não vai abandonar” o país.

O senador Garibaldi Alves Filho (RN) chamou de “sábia” a decisão de Michel Temer de licenciar-se da presidência do partido. A senadora Marta Suplicy (SP) disse acreditar que Jucá tem “lucidez, coragem e determinação” para atuar no sentido de garantir o impeachment de Dilma Rousseff e a posse do vice-presidente da República.

— Teremos como timoneiro do Brasil uma pessoa ponderada, que vai enfrentar as manifestações contrárias como sempre enfrentou na enorme diversidade do nosso partido e conseguiu sempre uma união — afirmou Marta, elogiando Temer.

A senadora Simone Tebet (MS) alertou que o povo brasileiro “perdeu a esperança” na classe política, e defendeu a realização de reformas estruturantes após a conclusão do impeachment para resgatar a confiança.

— Mais do que o que acontecerá no amanhã, é o que faremos depois do amanhã. Independente do que acontecer, não poderemos abrir mão das reformas que esse país precisa, principalmente a política — disse.

O senador Waldemir Moka (MS) elogiou a decisão do PMDB de romper com o governo e disse apoiar Romero Jucá na busca pela unidade do partido nessa iniciativa. Para ele, quem não concorda com essa posição deve ter a “dignidade de sair” da legenda.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)