Novo presidente do PMDB, Jucá critica governo Dilma

Guilherme Oliveira | 05/04/2016, 19h40

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) assumiu nesta terça-feira (5) a presidência do seu partido, devido ao licenciamento do titular, o vice-presidente da República Michel Temer. Em discurso no Plenário, Jucá fez severas críticas ao governo federal e garantiu que buscará a unidade da legenda em torno do abandono da base de apoio da presidente Dilma Rousseff.

— O governo se superou: conseguiu fazer tudo da pior forma possível. As promessas feitas não foram cumpridas, o castelo de cartas ruiu, o quadro se desnudou e a situação da economia entrou em descontrole. Este um ano e três meses desde a posse se transformou numa eternidade de incompetência — afirmou.

Jucá lembrou que 82% dos membros do diretório nacional do PMDB compareceram à reunião da semana passada, na qual se decidiu, por unanimidade dos presentes, que a legenda deixaria a base do governo e entregaria seus cargos na administração federal. Na análise do senador, ainda há um grupo minoritário dentro do PMDB que não concorda com a tese, mas ele assegura que trabalhará pela unificação da atuação do partido.

— A força do maior partido do Brasil está na sua unidade e na sua capilaridade. Os que são hoje minoritários podem ser convencidos a somarem conosco. Nós não viemos para agredir ninguém, viemos para agregar. Não vamos ficar fora de nenhum debate. Vamos enfrentar de cabeça erguida.

Jucá ressaltou que o partido ainda não discutiu seu posicionamento no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, e que fará isso “no momento apropriado”. No entanto, antecipou que o PMDB vai se orientar pela posição de independência decidida na reunião do diretório e não vai se esquivar de confrontos internos para construir uma posição predominante.

“Fora da realidade”

Voltando a criticar a atuação do Executivo, o novo presidente do PMDB disse que o governo está “fechado” e “fora da realidade” desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu o seu segundo mandato. Ele disse que o seu partido mostrou disposição para ajudar, mas, em sua avaliação, a condução da política econômica sempre foi “uma ilha do PT”.

— Não venham cobrar do PMDB a crise econômica. Não pilotamos esse avião. O Michel não era copiloto, estava fora da cabine. Nós éramos comissários de bordo: a gente segurava as pessoas e mandava apertar o cinto. O PMDB tentou muito ajudar o governo, mas havia uma hegemonia do PT. Os outros partidos serviam para votar, mas não para formular — criticou.

Jucá lembrou que o PMDB apresentou a iniciativa da Agenda Brasil, que tem acelerado a tramitação de propostas econômicas no Senado, e que as lideranças do partido abriram caminho para o ajuste fiscal e para mudanças na meta de superávit fiscal de vários orçamentos anuais. Também observou que fez críticas à política econômica desde o início do segundo mandato, mas não foi ouvido.

Segundo o senador, a crise política, que agrava os problemas econômicos, foi também uma fabricação do governo, que pretendia, no início do segundo mandato de Dilma, “descartar o PMDB”, construindo uma base parlamentar baseada em outros partidos. Foi essa ofensiva que fez a direção nacional do partido entender que as bases da aliança “ruíram”, descreveu Jucá.

Responsabilidades

Jucá fez uma análise da conjuntura e disse entender que a classe política está sendo “chamada às suas responsabilidades” pela população. Ele rechaçou as críticas de que a decisão do PMDB de romper com o governo do PMDB tenha sido precipitada, argumentando que a inquietação popular manifestada em protestos de rua exige posicionamento categórico de todas as forças.

— A população espera uma solução, e a política tem que construí-la dentro do Congresso. Se não tivermos a grandeza para entender o momento e a maturidade para resolver essa questão, a população vai virar as costas para a política. Isso é muito ruim para o futuro. Fora da política não há solução sustentável — disse.

Jucá admitiu que o quadro posterior à conclusão do processo de impeachment, independente do resultado, ainda é uma “incógnita”. Segundo ele, só haverá estabilidade se o lado vencedor conseguir consolidar sua posição com uma larga maioria no Congresso, e isso só acontecerá se os partidos votarem com clareza.

O senador também acusou o governo de fazer articulações, com promessas de cargos, para garantir um placar mínimo contra o impeachment e para convencer deputados indecisos a não comparecerem, esvaziando a votação. Em sua opinião, isso contribui para a instabilidade presente e futura.

— O governo busca votos em troca de ministérios com um cheque pré-datado. Quem pensa que uma estratégia para conseguir 180 votos, alguns escondidos, resolve o problema do país, me desculpe. O problema estará agravado, o resto de credibilidade irá ao chão e nós não teremos condição de levar o país adiante — criticou.

Em relação à possibilidade de convocação de novas eleições em 2016, algo que tem sido aventado por alguns senadores nos últimos dias, Jucá disse que isso seria uma ruptura das regras e um desrespeito à Constituição.

O senador recebeu dezenas de apartes, de senadores de todos os partidos, para debater a situação política do país. Ele defendeu de críticas o PMDB e o vice-presidente Michel Temer.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)