Zilda, heroína das crianças, dos idosos, do Brasil — Rádio Senado
Reportagem Especial

Zilda, heroína das crianças, dos idosos, do Brasil

Milhões de crianças brasileiras talvez não saibam, mas devem um pouco de sua vida a Zilda Arns. A médica pediatra e sanitarista correu o Brasil com a pastoral da criança, criada em 1983, indicando métodos simples, como o soro caseiro, mas que certamente fizeram a diferença entre a vida e a morte.

De fala mansa, porém firme, Zilda marcou gerações na assistência social brasileira. A bonita trajetória, no entanto, foi interrompida em 2010 quando uma igreja desabou sobre Zilda e outras pessoas em Porto Príncipe, capital do Haiti, como resultado de um terrível terremoto que atingiu aquele país.

Na Reportagem Especial “Zilda, heroína das crianças, dos idosos, do Brasil”, do jornalista Rodrigo Resende você vai conhecer a trajetória de Zilda Arns, desde a infância em Forquilhinha, em Santa Catarina, passando pela criação das pastorais da criança e do idoso, até a morte trágica em 2010. O nome de Zilda Arns foi inscrito no Livro dos Herois e Heroínas da Pátria, conforme projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional.

24/04/2023, 11h35 - ATUALIZADO EM 02/05/2023, 13h44
Duração de áudio: 18:00
Pastoral da Criança
18:00Zilda, heroína das crianças, dos idosos, do Brasil
1ª parte - O início
06:00

Transcrição LOC: ZILDA ARNS NASCEU EM UMA PEQUENA CIDADE DE SANTA CATARINA, EM 1934. ANOS DEPOIS, ESSA MULHER IRIA REVOLUCIONAR A ASSISTÊNCIA ÀS CRIANÇAS E IDOSOS EM TODO O PAÍS. LOC: ACOMPANHE A PRIMEIRA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL. UMA PRODUÇÃO, RÁDIO SENADO. A família era grande. A cidade, pequena, de interior. Como lembra a senadora Professora Dorinha Seabra, foi de Forquilhinha, em Santa Catarina, que saiu Zilda Arns. Professora Dorinha – Zilda Arns nasceu em 25 de agosto de 1934 na cidade de Forquilhinha, então apenas uma vila do Município de Criciúma, em Santa Catarina, filha de um casal de origem alemã, que teve 16 filhos, entre os quais, Paulo Evaristo, que se tornaria Arcebispo Emérito de São Paulo. Zilda formou-se em Medicina na Universidade Federal do Paraná, voltando-se para as áreas de saúde pública, pediatria e sanitarismo. Zilda lembrava de uma infância feliz naquela cidade. Zilda 3 - Eu acho que foi maravilhosa, viu? A minha infância eu mamei até três anos e quatro meses. Mamei muito tempo e eu era acho que muito inteligente porque não queria outra comida, queria só mamar. Então eu devo ter aproveitado bastante. Aproveitou bastante o leite materno e também a escola. Zilda 4 - Depois temos uma escola de excelente qualidade. Onde é que a senhora estudou? Lá em Forquilhinha em Santa Catarina, no meu tempo área rural, não tinha nem luz elétrica. Não tinha nem o carro, não tinha médico. Mas nós tínhamos a melhor escola e eu acho que é a melhor paróquia também. É uma paróquia com padres franciscanos, mas a gente, a família, vamos dizer a igreja e a escola formavam uma coisa só na comunidade e na minha visão assim de recordação da infância, sempre vejo meu pai, o meu tio que era professor, as irmãs, as freiras e o padre, os padres sempre estavam juntos conversando e tal e andavam juntos. Então estava sempre analisando problemas da comunidade, como fazer e todas as crianças naturalmente tinham prioridade absoluta ir à escola e estudar. Tudo isso contribui para que a pequena Zilda depois se formasse em pediatria. O amor às crianças era incondicional e aí, em 1983, houve um chamado, como destaca a senadora Professora Dorinha Seabra. Professora Dorinha – Convocada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNDB, criou em mil novecentos e oitenta e três, juntamente com o então arcebispo de Londrina, Dom Geraldo Magela Agnelo, a Pastoral da Criança, cujo objetivo é de promover o desenvolvimento integral das crianças de zero a seis em seu ambiente familiar e em sua comunidade. Começando sua atuação no município de Florestópolis no Paraná. Que apresentava uma alta taxa de modalidade infantil. Cento e vinte e sete crianças para cada mil nascidas. A pastoral em apenas um ano de logrou reduzi-la para vinte e oito crianças por mil nascidas. Esse sucesso se explica pela conjugação de uma série de fatores que incluem a correta orientação da medicina preventiva e o envolvimento fraterno e solidário com as crianças, suas famílias e comunidades. A Pastoral da Criança iria se espalhar por todo o país, como recorda o senador Cid Gomes, do Ceará. Cid Gomes 2 - Dona Zilda deu uma extraordinária colaboração ao Ceará. Eu lembro, Presidente, que era estudante, ainda, do ensino médio, e escrevi um artigo para um jornal do colégio. À época, no Ceará, de cada mil crianças que nasciam, 120 morriam antes de completar um ano de vida. Eu vou repetir o dado, que é chocante - eu estou falando de 1979 -: de cada mil crianças que nasciam, 120 morriam antes de completar um ano de vida. Era comum, nas famílias, quando perguntavam: "Quantos filhos a senhora tem?", a mãe dizer: "Sete". Aí perguntavam quantos estavam vivos, dado o alto índice de mortalidade infantil. E a ação de Zilda Arns, sucesso com os pequenos, também se voltaria em pouco tempo àqueles mais experientes. LOC: NA PRÓXIMA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL, VAMOS SABER ALGUNS DETALHES DO TRABALHO DE ZILDA ARNS NAS PASTORAIS DA CRIANÇA E DO IDOSO.

2ª parte - O trabalho
06:00

Transcrição LOC: AS PASTORAIS DA CRIANÇA E DO IDOSO SÃO MARCAS DO TRABALHO DE ZILDA ARNS NA ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA. LOC: ACOMPANHE A SEGUNDA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL. UMA PRODUÇÃO, RÁDIO SENADO. O senador Flávio Arns, do Paraná, é sobrinho de Zilda. Fala sempre com orgulho do trabalho da tia, iniciado em 1983. Arns 1 - A Pastoral da Criança está completando 40 anos neste ano. E acompanhou, durante muitos anos, mais de 1 milhão de crianças em bolsões de pobreza durante muitos anos. Isso significa 30, 40, 50 milhões de crianças que hoje são adultos e tantos que passaram pela pastoral, pelos cuidados de soro caseiro, pesagem, orientação das mães, coisas simples, ao alcance da população. Coisas simples! Zilda enxergava nas soluções simples a salvação da vida de milhares de crianças brasileiras. Zilda 10 - Depois de uma pedagogia problematizadora sempre se passa primeiro o que que está acontecendo na comunidade né? De que que estão morrendo as crianças? Aquele encaminhamento das ações que são universais por exemplo aleitamento materno, a vigilância nutricional, o soro caseiro, né? A educação, aa vacinação, são bens universais, quer dizer, tanto faz eu dar numa cidade ou em área rural, numa comunidade indígena, lá na África Ásia, na América Latina, essas coisas são para todos. E é claro, o cuidado precoce com as crianças iria refletir na baixa de índice de mortalidade infantil. Zilda 2 - Cuidar muito das crianças desde a barriga, desde o ventre materno até os seis anos e principalmente durante a gestação, primeiro ano de vida, os primeiros três anos e assim por diante. E a gente chama isso de desenvolvimento integral da criança. Então ela precisa ter saúde física né? O aleitamento materno é uma escola do amor, do diálogo. Se a criança amamenta né? Amamentada por muito tempo mais do que um ano, dois anos e nos primeiros seis meses só no peito ela melhora a sua dicção, ela vai ter uma fala mais clara, ela vai ouvir, respirar melhor, ter uma arcada dentária mais saudável e ela é emocionalmente mais preparada pra enfrentar os desafios da vida, não é? E assim também com brinquedos, brincadeiras, com diálogo, seus pais têm que ter diálogo. Mas Zilda Arns percebeu um fato. Muitos dos voluntários da pastoral da criança eram idosos. E eles estavam também precisando de ajuda. Zilda 7 - Eu já atendia na Pastoral da Criança a terceira idade na Pascoal da Criança. Então nós já cuidávamos de idosos das comunidades com o Pastoral da Criança porque muitas das nossas líderes tinham problemas, urina solta, de insônia, né? De algumas doenças. E queria sempre uma orientação. Era necessária uma nova pastoral, a dos idosos, criada em 2004. Zilda 9 - Sobre como cuidar dos idosos, como prevenir quedas, não é? Tomar líquidos, né? Fazer amizade, , participar de da comunidade, atividades sociais, etcétera. Então ah o que os líderes fazem? Em vez de multiplicar peixe, pão, o saber, o conhecimento científico sobre a criança no caso da pastoral da criança e o amor. E na pessoa idosa também. O conhecimento científico sobre a pessoa idosa e aquela fraternidade. As ideias de Zilda Arns interferiram até mesmo nas leis que viriam a ser elaboradas no Congresso nas áreas atendidas pelas pastorais. É o que ressalta o senador Paulo Paim, do Rio Grande do Sul. Paim – Como foi bom a gente lá na Câmara ainda quando foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente ter lá a mão, a marca, o carinho e a grandeza da doutora Zilda. Como foi bom, senador Flávio Arns, quando nós aprovamos o estatuto do idoso e a CNBB teve um papel fundamental, estava ali a marca, o carinho também da nossa querida doutora Zilda. Zilda não tinha preguiça. Aos 75 anos estava correndo o mundo com suas ideias de auxílio aos próximos. Aí veio um terremoto ... LOC: NA TERCEIRA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL, A MORTE DE ZILDA ARNS NO HAITI.

3ª parte - O terremoto
06:00

Transcrição LOC: EM 2010 UM TERREMOTO DEIXOU MAIS DE 200 MIL VÍTIMAS NO HAITI. ENTRE ELAS, ZILDA ARNS. LOC: ACOMPANHE A TERCEIRA E ÚLTIMA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL. UMA PRODUÇÃO, RÁDIO SENADO. Zilda Arns estava em uma igreja em Porto Príncipe, capital do Haiti, em janeiro de 2010, falando sobre as pastorais da criança e do idoso, quando veio um terrível terremoto. Quem lembra é o senador Flávio Arns. Arns 2 - E ela faleceu, de fato, 13 anos atrás já, no terremoto do Haiti. Eu sempre lembro que cerca de 700 mil pessoas morreram por causa da covid-19 no Brasil; lá, de um dia para o outro, morreram 220 mil pessoas, de um dia para o outro, da noite para o dia. Eu estive lá no dia seguinte ao terremoto até para trazer o corpo da Dra. Zilda, da Tia Zilda, e era um cenário assim inacreditável. Cid Gomes, senador do Ceará, destaca a forma trágica da morte de Zilda Arns. Cid Gomes 1 - É uma morte de heroína, é uma morte realmente de heroína. A pessoa já na idade que ela estava lá no Haiti, e é vítima desse desastre da natureza. O Senado promoveu em 2010 uma sessão em homenagem à Zilda e outros militares brasileiros que também morreram no terremoto. O senador Pedro Simon recordou então a vocação de Zilda Arns. Simon - Até mesmo o seu timbre de voz soava como uma melodia de paz. Mas dona Zilda não era apenas um ser humano com semblante no sentido da devoção religiosa da contemplação da piedade. Mesmo que também por definição tudo isso seja fundamental a existência humana. Ela foi além! A sua vida foi marcada pela ação embora sem perder a ternura jamais. Em entrevista em 2008 para a Arquidiocese de Maringá, Zilda foi confrontada com uma pergunta. Zilda 13 - Eu tenho que fazer essa pergunta. A senhora acredita que um dia vai ser reconhecida como santa? Ou não. Eu? Eu diria o seguinte, pra ser santa falta tudo, viu? Mas eu procuro assim fazer com que o amor se espalhe. O amor é capaz de unir, de fazer milagres, né? Mas não é que eu vá ser santa, isso é uma obrigação de todo cristão trabalhar com amor. O processo de beatificação de Zilda Arns começou em 2015. Foram diversas indicações e premiações em vida e outras após o falecimento, dentre elas, a indicação para o Prêmio Nobel da Paz. Recebeu em 2005 o diploma Bertha Lutz do Senado Federal. Mas, de onde estiver, Zilda Arns irá sempre carregar e ajudar a sustentar sua maior obra. Zilda - Eu não vou deixar a pastoral da criança de jeito nenhum. É minha cria! E mãe não abandona o filho. LOC: VOCÊ OUVIU A REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO. LOC: REPORTAGEM E APRESENTAÇÃO, RODRIGO RESENDE, LOCUÇÃO, XXXXX, EDIÇÃO, MAURÍCIO DE SANTI. LOC: AGRADECIMENTO À ARQUIDIOCESE DE MARINGÁ QUE DISPONIBILIZOU A ENTREVISTA CONCEDIDA POR ZILDA ARNS EM 2008 AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DA ARQUIDIOCESE.

Transcrição
1ª parte - O início
LOC: ZILDA ARNS NASCEU EM UMA PEQUENA CIDADE DE SANTA CATARINA, EM 1934. ANOS DEPOIS, ESSA MULHER IRIA REVOLUCIONAR A ASSISTÊNCIA ÀS CRIANÇAS E IDOSOS EM TODO O PAÍS. LOC: ACOMPANHE A PRIMEIRA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL. UMA PRODUÇÃO, RÁDIO SENADO. A família era grande. A cidade, pequena, de interior. Como lembra a senadora Professora Dorinha Seabra, foi de Forquilhinha, em Santa Catarina, que saiu Zilda Arns. Professora Dorinha – Zilda Arns nasceu em 25 de agosto de 1934 na cidade de Forquilhinha, então apenas uma vila do Município de Criciúma, em Santa Catarina, filha de um casal de origem alemã, que teve 16 filhos, entre os quais, Paulo Evaristo, que se tornaria Arcebispo Emérito de São Paulo. Zilda formou-se em Medicina na Universidade Federal do Paraná, voltando-se para as áreas de saúde pública, pediatria e sanitarismo. Zilda lembrava de uma infância feliz naquela cidade. Zilda 3 - Eu acho que foi maravilhosa, viu? A minha infância eu mamei até três anos e quatro meses. Mamei muito tempo e eu era acho que muito inteligente porque não queria outra comida, queria só mamar. Então eu devo ter aproveitado bastante. Aproveitou bastante o leite materno e também a escola. Zilda 4 - Depois temos uma escola de excelente qualidade. Onde é que a senhora estudou? Lá em Forquilhinha em Santa Catarina, no meu tempo área rural, não tinha nem luz elétrica. Não tinha nem o carro, não tinha médico. Mas nós tínhamos a melhor escola e eu acho que é a melhor paróquia também. É uma paróquia com padres franciscanos, mas a gente, a família, vamos dizer a igreja e a escola formavam uma coisa só na comunidade e na minha visão assim de recordação da infância, sempre vejo meu pai, o meu tio que era professor, as irmãs, as freiras e o padre, os padres sempre estavam juntos conversando e tal e andavam juntos. Então estava sempre analisando problemas da comunidade, como fazer e todas as crianças naturalmente tinham prioridade absoluta ir à escola e estudar. Tudo isso contribui para que a pequena Zilda depois se formasse em pediatria. O amor às crianças era incondicional e aí, em 1983, houve um chamado, como destaca a senadora Professora Dorinha Seabra. Professora Dorinha – Convocada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNDB, criou em mil novecentos e oitenta e três, juntamente com o então arcebispo de Londrina, Dom Geraldo Magela Agnelo, a Pastoral da Criança, cujo objetivo é de promover o desenvolvimento integral das crianças de zero a seis em seu ambiente familiar e em sua comunidade. Começando sua atuação no município de Florestópolis no Paraná. Que apresentava uma alta taxa de modalidade infantil. Cento e vinte e sete crianças para cada mil nascidas. A pastoral em apenas um ano de logrou reduzi-la para vinte e oito crianças por mil nascidas. Esse sucesso se explica pela conjugação de uma série de fatores que incluem a correta orientação da medicina preventiva e o envolvimento fraterno e solidário com as crianças, suas famílias e comunidades. A Pastoral da Criança iria se espalhar por todo o país, como recorda o senador Cid Gomes, do Ceará. Cid Gomes 2 - Dona Zilda deu uma extraordinária colaboração ao Ceará. Eu lembro, Presidente, que era estudante, ainda, do ensino médio, e escrevi um artigo para um jornal do colégio. À época, no Ceará, de cada mil crianças que nasciam, 120 morriam antes de completar um ano de vida. Eu vou repetir o dado, que é chocante - eu estou falando de 1979 -: de cada mil crianças que nasciam, 120 morriam antes de completar um ano de vida. Era comum, nas famílias, quando perguntavam: "Quantos filhos a senhora tem?", a mãe dizer: "Sete". Aí perguntavam quantos estavam vivos, dado o alto índice de mortalidade infantil. E a ação de Zilda Arns, sucesso com os pequenos, também se voltaria em pouco tempo àqueles mais experientes. LOC: NA PRÓXIMA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL, VAMOS SABER ALGUNS DETALHES DO TRABALHO DE ZILDA ARNS NAS PASTORAIS DA CRIANÇA E DO IDOSO.

2ª parte - O trabalho
LOC: AS PASTORAIS DA CRIANÇA E DO IDOSO SÃO MARCAS DO TRABALHO DE ZILDA ARNS NA ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA. LOC: ACOMPANHE A SEGUNDA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL. UMA PRODUÇÃO, RÁDIO SENADO. O senador Flávio Arns, do Paraná, é sobrinho de Zilda. Fala sempre com orgulho do trabalho da tia, iniciado em 1983. Arns 1 - A Pastoral da Criança está completando 40 anos neste ano. E acompanhou, durante muitos anos, mais de 1 milhão de crianças em bolsões de pobreza durante muitos anos. Isso significa 30, 40, 50 milhões de crianças que hoje são adultos e tantos que passaram pela pastoral, pelos cuidados de soro caseiro, pesagem, orientação das mães, coisas simples, ao alcance da população. Coisas simples! Zilda enxergava nas soluções simples a salvação da vida de milhares de crianças brasileiras. Zilda 10 - Depois de uma pedagogia problematizadora sempre se passa primeiro o que que está acontecendo na comunidade né? De que que estão morrendo as crianças? Aquele encaminhamento das ações que são universais por exemplo aleitamento materno, a vigilância nutricional, o soro caseiro, né? A educação, aa vacinação, são bens universais, quer dizer, tanto faz eu dar numa cidade ou em área rural, numa comunidade indígena, lá na África Ásia, na América Latina, essas coisas são para todos. E é claro, o cuidado precoce com as crianças iria refletir na baixa de índice de mortalidade infantil. Zilda 2 - Cuidar muito das crianças desde a barriga, desde o ventre materno até os seis anos e principalmente durante a gestação, primeiro ano de vida, os primeiros três anos e assim por diante. E a gente chama isso de desenvolvimento integral da criança. Então ela precisa ter saúde física né? O aleitamento materno é uma escola do amor, do diálogo. Se a criança amamenta né? Amamentada por muito tempo mais do que um ano, dois anos e nos primeiros seis meses só no peito ela melhora a sua dicção, ela vai ter uma fala mais clara, ela vai ouvir, respirar melhor, ter uma arcada dentária mais saudável e ela é emocionalmente mais preparada pra enfrentar os desafios da vida, não é? E assim também com brinquedos, brincadeiras, com diálogo, seus pais têm que ter diálogo. Mas Zilda Arns percebeu um fato. Muitos dos voluntários da pastoral da criança eram idosos. E eles estavam também precisando de ajuda. Zilda 7 - Eu já atendia na Pastoral da Criança a terceira idade na Pascoal da Criança. Então nós já cuidávamos de idosos das comunidades com o Pastoral da Criança porque muitas das nossas líderes tinham problemas, urina solta, de insônia, né? De algumas doenças. E queria sempre uma orientação. Era necessária uma nova pastoral, a dos idosos, criada em 2004. Zilda 9 - Sobre como cuidar dos idosos, como prevenir quedas, não é? Tomar líquidos, né? Fazer amizade, , participar de da comunidade, atividades sociais, etcétera. Então ah o que os líderes fazem? Em vez de multiplicar peixe, pão, o saber, o conhecimento científico sobre a criança no caso da pastoral da criança e o amor. E na pessoa idosa também. O conhecimento científico sobre a pessoa idosa e aquela fraternidade. As ideias de Zilda Arns interferiram até mesmo nas leis que viriam a ser elaboradas no Congresso nas áreas atendidas pelas pastorais. É o que ressalta o senador Paulo Paim, do Rio Grande do Sul. Paim – Como foi bom a gente lá na Câmara ainda quando foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente ter lá a mão, a marca, o carinho e a grandeza da doutora Zilda. Como foi bom, senador Flávio Arns, quando nós aprovamos o estatuto do idoso e a CNBB teve um papel fundamental, estava ali a marca, o carinho também da nossa querida doutora Zilda. Zilda não tinha preguiça. Aos 75 anos estava correndo o mundo com suas ideias de auxílio aos próximos. Aí veio um terremoto ... LOC: NA TERCEIRA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL, A MORTE DE ZILDA ARNS NO HAITI.

3ª parte - O terremoto
LOC: EM 2010 UM TERREMOTO DEIXOU MAIS DE 200 MIL VÍTIMAS NO HAITI. ENTRE ELAS, ZILDA ARNS. LOC: ACOMPANHE A TERCEIRA E ÚLTIMA PARTE DA REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL. UMA PRODUÇÃO, RÁDIO SENADO. Zilda Arns estava em uma igreja em Porto Príncipe, capital do Haiti, em janeiro de 2010, falando sobre as pastorais da criança e do idoso, quando veio um terrível terremoto. Quem lembra é o senador Flávio Arns. Arns 2 - E ela faleceu, de fato, 13 anos atrás já, no terremoto do Haiti. Eu sempre lembro que cerca de 700 mil pessoas morreram por causa da covid-19 no Brasil; lá, de um dia para o outro, morreram 220 mil pessoas, de um dia para o outro, da noite para o dia. Eu estive lá no dia seguinte ao terremoto até para trazer o corpo da Dra. Zilda, da Tia Zilda, e era um cenário assim inacreditável. Cid Gomes, senador do Ceará, destaca a forma trágica da morte de Zilda Arns. Cid Gomes 1 - É uma morte de heroína, é uma morte realmente de heroína. A pessoa já na idade que ela estava lá no Haiti, e é vítima desse desastre da natureza. O Senado promoveu em 2010 uma sessão em homenagem à Zilda e outros militares brasileiros que também morreram no terremoto. O senador Pedro Simon recordou então a vocação de Zilda Arns. Simon - Até mesmo o seu timbre de voz soava como uma melodia de paz. Mas dona Zilda não era apenas um ser humano com semblante no sentido da devoção religiosa da contemplação da piedade. Mesmo que também por definição tudo isso seja fundamental a existência humana. Ela foi além! A sua vida foi marcada pela ação embora sem perder a ternura jamais. Em entrevista em 2008 para a Arquidiocese de Maringá, Zilda foi confrontada com uma pergunta. Zilda 13 - Eu tenho que fazer essa pergunta. A senhora acredita que um dia vai ser reconhecida como santa? Ou não. Eu? Eu diria o seguinte, pra ser santa falta tudo, viu? Mas eu procuro assim fazer com que o amor se espalhe. O amor é capaz de unir, de fazer milagres, né? Mas não é que eu vá ser santa, isso é uma obrigação de todo cristão trabalhar com amor. O processo de beatificação de Zilda Arns começou em 2015. Foram diversas indicações e premiações em vida e outras após o falecimento, dentre elas, a indicação para o Prêmio Nobel da Paz. Recebeu em 2005 o diploma Bertha Lutz do Senado Federal. Mas, de onde estiver, Zilda Arns irá sempre carregar e ajudar a sustentar sua maior obra. Zilda - Eu não vou deixar a pastoral da criança de jeito nenhum. É minha cria! E mãe não abandona o filho. LOC: VOCÊ OUVIU A REPORTAGEM ESPECIAL: ZILDA, HEROÍNA DAS CRIANÇAS, DOS IDOSOS, DO BRASIL. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO. LOC: REPORTAGEM E APRESENTAÇÃO, RODRIGO RESENDE, LOCUÇÃO, XXXXX, EDIÇÃO, MAURÍCIO DE SANTI. LOC: AGRADECIMENTO À ARQUIDIOCESE DE MARINGÁ QUE DISPONIBILIZOU A ENTREVISTA CONCEDIDA POR ZILDA ARNS EM 2008 AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DA ARQUIDIOCESE.

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