Receio do desconhecido não pode travar pesquisas sobre IA, dizem debatedores

Da Agência Senado | 18/10/2023, 17h11

A inteligência artificial (IA) é uma revolução e, embora ainda haja mais dúvidas que certezas, é preciso manter os investimentos em pesquisas na área para que o Brasil não fique para trás no futuro. Essa é a opinião de especialistas ouvidos nesta quarta-feira (18) pela Comissão Temporária Interna sobre Inteligência Artificial no Brasil (CTIA). A intenção da audiência era debater os impactos da inteligência artificial no setor acadêmico.

O autor do pedido para a audiência foi o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), ex-ministro da Ciência, Tecnolocia e Inovações. O senador citou várias aplicações possíveis da IA, como a individualização de tratamentos de saúde e da educação, mas também alertou para o risco de uma “acomodação”.

Como exemplo, ele citou a aviação, em que os pilares são o fator material (o equipamento), o fator ambiente, e o fator humano. O senador afirmou que, embora haja um sistema automatizado para facilitar o trabalho do piloto, não é prudente que ele e acomode e acredite o tempo todo no modo automático, porque se houver uma perda de sistema, hipoteticamente, será preciso assumir e tomar uma providência rápida.

 — A questão é essa: a inteligência artificial, com toda a sua capacidade de desenvolvimento de soluções para melhorar a qualidade de vida e reduzir a carga de trabalho nos diversos tipos de profissionais ou do nosso dia a dia, pode chegar até um certo ponto em que o ser humano fique tão dependente que seja induzido a erros ou mesmo seja desqualificado? — questionou o senador ao lançar pontos para a reflexão do grupo.

Excesso de cautela

O professor Antonio Augusto de Aragão Rocha, da Universidade Federal Fluminense (UFF), lembrou que algumas questões que estão sendo citadas como preocupações na discussão sobre IA já têm soluções em outras leis, como é o caso do uso de dados, já disciplinado pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD - Lei 13.709/18).

Na visão do professor, qualquer lei que trate da inteligência artificial precisa não só deixar de inibir o seu desenvolvimento como também incentivá-lo, por meio da criação de centros de pesquisa especializados, por exemplo. Ele também ressaltou a necessidade do incentivo à colaboração internacional e fez um alerta: a inibição do desenvolvimento de IA não só tira o Brasil da vanguarda do avanço científico, como também pode trazer um preço alto ao país no futuro.

— Não podemos limitar os esforços do avanço da inteligência artificial. Precisamos acompanhar o mundo nesse avanço, para que não fiquemos para trás mais uma vez (...).  Precisamos estar sempre atentos ao mau uso de uma solução, de uma ferramenta, e regular a aplicação, mas é fundamental acompanhar isso; e acompanhar significa dar liberdade à ciência, trazer meios para que essa ciência evolua, incentivar, apoiar por meio de incentivos financeiros e investimentos para que essa ciência aconteça aqui no Brasil e não passemos a ser apenas consumidores do que é desenvolvido lá fora. — disse.

Na mesma linha, o professor Lisandro Zambenedetti Granville, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que é natural o medo do desconhecido, já que estamos no meio de uma revolução e é difícil antever os resultados. Ainda assim, ele alertou para o risco que é sufocar o desenvolvimento da nova tecnologia com a intenção de proteger os cidadãos dos seus efeitos.

— As pesquisas na área de IA precisam, obviamente, evoluir e o ideal é que a legislação que venha a ser materializada não coloque em risco a capacidade de fazer pesquisa, tanto a pesquisa de quem usa IA como a pesquisa sobre IA. É preciso ter cuidado porque, ao tentar proteger os cidadãos dos efeitos, pode-se acabar por engessar os investimentos da pesquisa na área.  

Ferramenta

O diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Fábio Borges de Oliveira, citou exemplos de aplicação da IA, como na elaboração de projetos de fomento superiores aos feitos por profissionais, e em menor tempo de elaboração. Para ele, os impactos no meio acadêmico serão diversos e é preciso, sim, pensar nessas consequências a tempo dessa revolução.

— A IA é como um trator, é uma ferramenta, e tudo depende como nós vamos usar essa ferramenta. O trator foi uma onda e nós tivemos várias ondas. Tudo vai ser feito em cima da IA. Se nós perdermos essa onda, vamos perder todas as outras ondas. De certa forma, essa é a última onda tecnológica porque todas as ondas tecnológicas vão passar por IA daqui para frente.

O diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), André Ponce de Leon de Carvalho, defendeu cuidado na regulação para evitar excessos. Par ele, a inteligência artificial  precisa ter, a exemplo das questões climáticas, a uniformização internacional das regras.

— É importante ter um corpo internacional que uniformize, que harmonize essas legislações e permita evitar abusos. Por exemplo: se um país tiver uma política de regulação permissiva, pode acabar atraindo investimentos através de pesquisas e cérebros e depois exportar o que foi feito de forma danosa — alertou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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