Congresso celebra bicentenário da independência da Bahia

Da Agência Senado | 05/07/2023, 13h50

O Congresso Nacional comemorou o bicentenário da Independência da Bahia em sessão solene nesta quarta-feira (5). Também chamada de Independência do Brasil na Bahia, o dia 2 de julho relembra a expulsão do exército português, em 1823, no estado da Bahia, depois de batalhas que duraram mais de um ano. Apesar de 7 de setembro de 1822 ser considerado a data da Independência do Brasil, diversos conflitos contra as tropas lusitanas continuaram ocorrendo por todo o território brasileiro.

A homenagem atendeu a requerimento dos senadores Jaques Wagner (PT-BA), Randolfe Rodrigues (AP) e dos deputados Bacelar (PV-BA), Alice Portugual (PCdoB-BA), Lídice da Mata (PSB-BA) e Rogéria Santos (Republicanos-BA). Segundo Wagner, que presidiu a sessão, a atuação dos baianos foi inspirada pelos ideais revolucionários que prosperaram no séculos 18 e 19.

— O pano de fundo da resistência no Brasil eram as ideias progressistas da época, que já pregavam a autonomia política, a república, o fim da escravidão e dos privilégios das classes econômicas e políticas. O escritor Laurentino Gomes, em sua obra 1822, afirma que a manutenção da unidade nacional só foi possível por conta da resistência baiana. Não fosse o 2 de julho, fatalmente o território brasileiro seria dividido em duas partes — disse Wagner

Memória

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, afirmou que a cultura é peça fundamental para evitar erros do passado e garantir a democracia.

— Essa data prestigia a memória de todos aqueles que foram cruciais para a independência… Gente simples e trabalhadora, mesmo tipo de gente que em pleno século 21 reabre diálogo do Brasil consigo mesmo e com o mundo, que valoriza o que é nosso. Essa é nossa verdadeira independência. Essas conquistas não podem ser consideradas perenes, tem que ser defendidas diariamente. Os eventos de 8 de janeiro mostram de forma contundente a importância de termos viva na memória as dificuldades do passado, para que a gente não repita os mesmos erros. A memória é um tema em que a cultura é central — disse Margareth.

Para o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, relembrar as lutas na Bahia é uma forma de reafirmar o protagonismo do povo. Jerônimo também criticou as poucas menções a negros e mulheres nos livros de história.

— Temos a clareza de que eventos como esse, de celebrar o 2 de julho, podem garantir que nossa história não seja apagada. Um povo colonizado não tem capacidade de planejar seu futuro, não tem força suficiente para escolher seu destino. Passamos tempos vivendo essa condição. Foi preciso derramamento de sangue para que pudéssemos ter nossa soberania. O mais forte para a gente é quando a nossa história é contada por nós mesmos. Nós, infelizmente, não temos nos livros de história a história do povo negro, das mulheres, do povo do interior. A história de Maria Felipa e Joana Angélica não estão nas páginas da imprensa  —  disse o governador baiano, se referindo às figuras femininas baianas que se destacaram nas lutas pela independência.

A deputada Lídice da Mata contextualizou importantes eventos que levaram às batalhas na Bahia. Para Lídice, o Brasil deve reparação histórica aos negros, que eram grande parte dos combatentes.

— [Após a proclamação da independência por dom Pedro I], o nordeste todo permaneceu sob domínio português e a Coroa mandou para aqui o general Madeira de Melo, para dominar a colônia mais importante do nordeste, que era a Bahia. Isso levou a nova elite econômica, os negros escravos e livres, o povo baiano, enfim, a se unirem para resistir. Isto aconteceu de maneira expressiva no dia 25 de junho, quando Câmara de Cachoeira se junta com outras para declarar dom Pedro o regente perpétuo do Brasil. Esse símbolo não é aceito pelas tropas portuguesas, que atacam [a cidade de] Cachoeira. Ela reage, o povo nas ruas, mulheres, homens, indígenas, o povo simples… e de lá se forma o Exército dos Periquitos, que ganha essa batalha, remorada nos nossos hinos. Os negros escravos que participaram tinham uma promessa: a abolição da escravatura. Só ocorreu 65 anos depois e é a marca da chaga principal da miséria e pobreza desse país. Precisamos incluir os negros na democracia Brasil — disse a deputada.

Hinos

Margareth Menezes homenageou a Bahia, seu estado de origem, cantando o hino baiano e a música Hino do Senhor do Bonfim acompanhada pela orquestra sinfônica da Força Aérea Brasileira. Wagner lembrou que o hino do Senhor do Bonfim possui estreita relação com o 2 de julho.

— Esse hino foi feito em 1923, exatamente em comemoração ao centenário de 2 de julho de 1823. Um dos versos fala que “há cem anos, nossos pais conduziste à vitória”. Então, além de ser um hino de agradecimento ao senhor do Bonfim, é uma reverência a data maior da Bahia, que é o 2 de julho de 1823 — disse Wagner.

O deputado Bacelar destacou versos do hino da Bahia que representam a data comemorada.

— Nada mais justo que buscar inspiração em uma das maiores expressões culturais do nosso estado. “Nunca mais o despotismo regerá nossas ações. Com tiranos não combinam brasileiros, brasileiros corações”. Essa estrofe resume perfeitamente o espírito de luta movido pela chama da liberdade. Ao comemorarmos, somos desafiados a refletir sobre o significado desse marco histórico e na construção do Brasil que queremos. Devemos honrar o legado dos nossos antepassados lutando incansavelmente por um país mais justo, igualitário e próspero — disse Bacelar.

A orquestra sinfônica da Força Aérea também apresentou as músicas Saudade da Bahia, Lamento Sertanejo e Toda Menina Baiana, que foram cantadas por Taís Nader.

A deputada Alice Portugal lembrou que a Câmara dos Deputados promove neste mês a exposição “Dois de Julho: 200 anos da Independência do Brasil na Bahia”, no Corredor Tereza de Benguela.

Também participaram da sessão os deputados Daniel Almeida (PCdoB-BA), Márcio Marinho (Republicanos-BA), Joseildo Ramos (PT-BA) e Paulo Fernando (Republicanos-DF).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)