Referência na medicina social, Fernando Figueira é homenageado no Congresso

Rodrigo Baptista | 24/05/2019, 14h47

Conhecido pelo seu legado na medicina social, o médico pediatra e professor universitário Fernando Figueira (1909-2003) foi homenageado nesta sexta-feira (24) pelo Congresso Nacional, em sessão solene no Plenário do Senado por ocasião do centenário de seu nascimento. Durante o evento, que contou com a presença de familiares do homenageado, senadores e deputados destacaram a contribuição de Figueira para a saúde pública e sua atuação em defesa da  democracia e dos mais carentes.

O senador Humberto Costa (PT-PE), um dos requerentes da homenagem, destacou que sua maior obra, o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip), fundado em 1960, e ligado ao Sistema Único de Saúde (SUS), sintetiza o próprio projeto de vida do professor Fernando Figueira.

— O Imip estava, desde o seu embrião, indissociavelmente ligado às crianças, a cuidá-las, a lutar pela vida delas com uma fé inquebrantável no futuro que elas poderiam construir. Nas crianças, o professor Figueira via a força que girava o mundo. O seu compromisso social o movia como um gigante na edificação desse sonho que viria a ser tão grande quanto ele — apontou o senador.

Outro dos requerentes, o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), ressaltou a luta do professor em favor da saúde pública:

— Fernando Figueira deixou um legado enraizado no acesso universal ao sistema público de saúde. Seu foco sempre foi o povo mais carente — registrou.

O secretário estadual de Saúde de Pernambuco, André Longo, registrou que o Impi atende milhares de pessoas diariamente e afirmou que Figueira deixou um importante legado também na elaboração de planos de saúde para o estado, e na organização de vários serviços que ainda hoje compõem a rede estadual de saúde. Para Silvia Rissin, presidente do Impi, o SUS precisa da atenção e grita por socorro.

— Não pedimos ajuda, cobramos da sociedade o que elas devem às crianças pobres — disse Silvia.

Democracia

O fundador do Imip, posteriormente batizado Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, também teve uma vida pautada na resistência pela democracia. Em 1969, o então professor da Universidade Federal de Pernambuco Fernando Figueira elaborou um parecer para impedir a cassação de 37 estudantes de medicina perseguidos pela ditadura e conseguiu evitar quase a totalidade das expulsões. O episódio foi recordado durante a sessão solene por vários dos participantes.

— Sua bravura, sobretudo quando se opunha ao regime, só é menor quando comparada com a forma com que defendeu as mulheres e crianças do Imip — disse o presidente da Academia Pernambucana de Medicina e amigo de Fernandes, Hildo Azevedo.

Para o deputado João H. Campos (PSB-PE), que também sugeriu a realização da sessão, Fernando Figueira, se estivesse vivo, estaria na linha de frente em defesa da educação pública:

— Neste momento difícil que o país está passando, eu me pergunto o que ele, que foi professor catedrático da Universidade Federal de Pernambuco, estaria pensando sobre o que a educação brasileira passa hoje, como ele veria esses absurdos cometidos, de maneira repetida, pelo atual governo federal — assinalou Campos.

Filho do homenageado, Antônio Carlos Figueira agradeceu a homenagem em nome da família e disse que seu pai, por onde passou, fincou a bandeira da ética e da preocupação com o social:

— Meu pai foi um homem múltiplo, representante de seu tempo e também à frente dele — disse.

Biografia

Nascido em 4 de fevereiro de 1919, em Figueira da Foz, Portugal, Fernando Jorge Simão dos Santos Figueira, mudou-se poucos meses depois de nascido para Pernambuco com os pais, Joaquim Figueira e Maria Alice Pedrosa dos Santos Figueira.

Diplomado em 1940 pela Faculdade de Medicina do Recife, Fernando Figueira iniciou sua vida profissional como clínico geral em Quebrangulo, interior de Alagoas. Em 1948, foi médico do Hospital das Clínicas e Assistente da Cadeira de Clínica Pediátrica na Universidade de São Paulo (USP). Após nove anos, voltou ao Recife obtendo com distinção a livre docência.

Nos anos seguintes, adquiriu experiência profissional como professor visitante nos Estados Unidos, México e Paris. Por meio de concurso, assumiu a cátedra da disciplina de Pediatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1960 e, em seguida, o cargo de professor titular da Faculdade de Ciências Médicas. Na área científica, Fernando Figueira publicou seis livros e mais de 100 trabalhos. Foi ainda secretário de Saúde no governo de Eraldo Gueiros (1971-1975).

Além da criação do Imip, o professor também criou outras instituições como a Academia Pernambucana de Medicina; Centro de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope); Em Alagoas, fundou o Clube de Xadrez para a comunidade de Quebrangulo e o Clube Cultural Recreativo Monte Castelo. Seu nome também batiza diversas instituições ligadas à saúde por todo o país, como o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, no Rio de Janeiro, que é ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Fernando Figueira morreu em 1º de abril de 2003, aos 84 anos.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)