Servidor desenvolve e oferece aplicativo para pessoas com distúrbio na voz

Da Comunicação Interna | 21/11/2018, 17h37

O servidor aposentado José Afonso Braga desenvolveu um software, o WeCanSpeak, que transforma texto em fala por meio do computador. A ferramenta não é o resultado de um trabalho qualquer. José Afonso utilizou apenas o movimento dos olhos para criar o aplicativo, pois ele perdeu os movimentos devido à esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa do sistema nervoso central que causa paralisia motora progressiva. A ideia de criar o WeCanSpeak surgiu após ele perceber os primeiros sintomas de perda da voz.

— Comecei uma busca desesperada por meios alternativos de comunicação. Durante um ano, eu testei vários aplicativos, e não fiquei satisfeito com nenhum deles. Foi aí que tomei a decisão de desenvolver o meu próprio aplicativo. Demorei um ano para chegar à versão atual e mais um ano utilizando o aplicativo diariamente antes de disponibilizá-lo ao público — diz José Afonso, que gravou a entrevista utilizando o software, que pode ser útil a qualquer pessoa com distúrbio na voz, e não apenas a pessoas com ELA.

Para ele, a comunicação é uma necessidade básica do ser humano, a base da socialização.

— Perder essa capacidade de socializar é, talvez, a pior dor causada pela doença. Antes do aplicativo, eu demorava muito tempo para falar uma frase simples, soletrando letra por letra. Agora tudo é mais fácil — conta o servidor por meio do aplicativo (ouça o áudio).

O foco principal do WeCanSpeak é a agilidade na comunicação, o que é possível devido à interface simples e intuitiva. Com o movimento dos olhos, o usuário seleciona letras e palavras, e o aplicativo transforma o texto em fala, utilizando a voz selecionada. Como o dicionário pode ser personalizado, o aplicativo pode ser utilizado por qualquer pessoa no mundo e em qualquer idioma. O software, que pode ser baixado gratuitamente aqui, está disponível, por enquanto, para computadores e tablets com o sistema operacional Windows.

Segundo ele, a aceitação do aplicativo tem sido excelente desde o lançamento.

— Mas após a reportagem da TV Globo [que o entrevistou], realmente turbinou o número de acessos ao site. Até agora já tivemos mais de 600 downloads, o que é muito superior às minhas expectativas iniciais.

Outro aplicativo desenvolvido por José Afonso permite que ele jogue pôquer com seus amigos, segundo Valéria Braga, sua esposa.

— É um aplicativo bem legal, que tem as frases prontas do pôquer. Um scanner mostra as cartas no computador e ele as vê. Eles se divertem muito.

Doença

José Afonso, de 47 anos, trabalhou onze anos no Prodasen, em desenvolvimento. No ano anterior à aposentadoria, ele atuava na área executiva, como diretor de subsecretaria.

Valéria relata que os primeiros sintomas da doença apareceram em fevereiro de 2013, durante uma partida de tênis com o filho, quando ele percebeu que “o braço não estava respondendo”. Em abril, ele recebeu o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica, confirmado nos Estados Unidos. A aposentadoria ocorreu em setembro passado. O avanço da doença foi muito rápido, diz José Afonso.

— No início, foi muito difícil. Mas tivemos muito apoio para a adaptação. Inclusive, quero agradecer a toda a equipe do SIS, nosso Serviço Integrado de Saúde, por toda atenção e compreensão com que nos tratam em todos os momentos.

Houve situações muito difíceis no início, até que a família se adaptasse à nova situação e conseguisse uma equipe de profissionais qualificada para cuidar dele. Hoje a rotina está bem mais tranquila, diz Valéria.

— Eu trabalho fora, do meio dia às 7h da noite, mas minha sogra está sempre por aqui ajudando. A gente procura trazer amigos no final de semana para sempre ter gente por perto, que traga alegria para ele. No final de semana, a gente reúne a família para assistir filmes.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)