Distribuição de 'laringe eletrônica' pelo SUS é defendida em audiência na CAS

Da Redação | 14/09/2017, 12h44

Pessoas acometidas por câncer de laringe que tiveram o órgão retirado e, consequentemente, perderam a fala, podem voltar a se comunicar de forma relativamente barata com um equipamento chamado “laringe eletrônica”. A distribuição gratuita do aparelho pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi defendida durante audiência pública da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) nesta quinta-feira (14).

O equipamento, segundo a vice-presidente da Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG), Melissa Ribeiro Medeiros, custa em torno de R$ 1,7 mil, podendo chegar a R$ 1,3 mil, dependendo da negociação. É posicionado externamente próximo à garganta da pessoa operada, que tem um buraco na traqueia por onde passou a respirar, e produz uma voz metalizada, sem variação de entonação, mas perfeitamente compreensível. O aparelho, destacou ela, quebra um silêncio de anos e reinsere o cidadão na sociedade.

- É uma voz que não tem entonação, não consigo me emocionar, brigar, cansa um pouco os ouvidos, mas é uma voz possível, que quebra um silêncio de anos de vários laringectomizados. Posso não gostar, não me identificar com ela, mas ela é necessária – afirmou Melissa, usuária do produto importado por ela dos Estados Unidos há três anos.

A ACBG já fez o pedido de inserção à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), mas ainda não obteve resposta. O representante do Ministério da Saúde, Sandro Martins, afirmou que o processo deve ser analisado em breve pelos especialistas e, na opinião dele, não deve ter uma tramitação complicada na comissão, já que os preços não são exorbitantes.

- A tecnologia é disponível e de segurança e eficácia bastante conhecidas. Vai, pelos custos e pelo tempo de existência, ter impacto orçamentário modesto, frente a outras incorporações que são vistas na comissão. Não antevejo que haja uma trajetória muito difícil – observou ainda.

Prevenção

A fonoaudióloga da ACBG Luciara Giacobe explicou que anualmente são acometidos por câncer de laringe cerca de 7.350 cidadãos, sendo 6.360 homens e 990 mulheres, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Desse total, 4.141 morrem, quase sempre esperando pela radioterapia, que é rara e falha no SUS, disse.

Os sobreviventes, que perdem a voz, passam a respirar por um buraco na traqueia chamado estoma. Eles enfrentam problemas para engolir alimentos, dificuldades respiratórias e de olfato, problemas emocionais e alteração na qualidade de vida. Não poderão nunca mais, por exemplo, tomar banho de piscina ou de mar, já que há risco de a água entrar pelo estoma, causando pneumonia e outras complicações.

Luciara defendeu o investimento em políticas públicas de prevenção, já que a causa do câncer de laringe quase sempre é externa: fumo, bebidas alcoólicas e infecções pelo vírus do HPV. Sugeriu ainda palestras nas escolas, campanhas nacionais e pediu a aprovação de um projeto do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) que cria o Dia Nacional do Laringectomizado em 11 de agosto.

Ela solicitou também atenção ao acolhimento e acompanhamento psicológico e fonoaudiológico dos sobreviventes, que precisam reaprender a usar os músculos para produzir a fala, seja pela voz esofágica, pela laringe eletrônica ou pela prótese traqueosofágica. Essa prótese é ofertada pela saúde pública, mas seu preço na tabela do SUS precisa ser reavaliado, observou. O ideal é que as duas tecnologias fossem ofertadas, pois há pessoas que não têm condições anatômicas de receber a prótese, disse ainda.

O senador Dalírio Beber (PSDB-SC) foi o autor do pedido de audiência.

- É uma oportunidade de nos sensibilizar e passar a conhecer um pouco mais as necessidades e aquilo que é possível fazer para minimizar a deficiência e a dificuldade, especialmente na fala, essencial para a boa comunicação – afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)