Pesquisadores destacam estudos para prevenir doenças transmitidas pelo 'Aedes aegypti'

Soraya Mendanha | 30/03/2016, 20h07

Pesquisadores presentes em audiência pública realizada pela comissão mista que analisa a Medida Provisória (MP) 712/2016 destacaram, nesta quarta-feira (30), ferramentas de combate ao mosquito Aedes aegypti e medidas de prevenção das doenças transmitidas pelo inseto. Aplicação aérea de inseticidas, qualificação de visitas de campo, uso de mosquito geneticamente modificado, investimento na educação, participação popular e desenvolvimento e comercialização de vacinas e soros, foram algumas estratégias citadas pelos debatedores para o combate.

Em relação à vacina contra a dengue, a diretora médica da Sanofi Pasteur, Lúcia Bricks, ressaltou que o medicamento desenvolvido pela empresa francesa já foi aprovado pela Anvisa e aguarda apenas o registro de preço para que comece a ser comercializado no Brasil. Com três doses, a vacina é destinada ao público entre 9 e 45 anos de idade e protege contra os quatro tipos do vírus da dengue.

— Pela primeira vez temos uma vacina com eficácia comprovada contra os quatro sorotipos da dengue. Esta vacina consegue reduzir nove em cada dez casos graves de dengue e evita dois em cada três casos — disse.

Lúcia Bricks afirmou que quanto maior o número de vacinados maior será o benefício social. Para ela, os recursos investidos na vacina não podem ser considerados gastos, mas sim investimentos, já que a vacina é uma das estratégias mais eficazes para a prevenção da dengue.

O deputado Luiz Henrique Mandetta destacou, no entanto, a posição do governo federal, que declarou que a vacina é muito cara, possui difícil aplicação e que o Ministério da Saúde espera pelos resultados dos últimos testes da vacina criada pelo Instituto Butantan.

Conforme explicou o diretor de relações institucionais do Butantan, Marco Antonio Moreira, a vacina contra a dengue desenvolvida pelo órgão já está na fase 3 de testes clínicos, será aplicada em dose única e deve estar pronta no prazo de um ano ou um ano e meio dependendo do número de vacinados nesse ano. O representante do Butantan destacou que o Instituto também tem trabalhado no desenvolvimento de uma vacina contra o Zika vírus, de um soro para tratamento das pessoas já infectadas e de anticorpos monoclonais contra o Zika vírus, que poderão ser usados no tratamento e no diagnóstico do vírus.

Moreira afirmou que o fato de o governo federal não ter liberado os recursos prometidos para execução desses projetos é um dos fatores que estão colaborando para o atraso no processo de desenvolvimento e disponibilização das vacinas.

— Pedimos que possamos trabalhar um pouco desamarrando esses processos. Queremos ter o recurso na mão na hora que ele seja necessário — disse.

Projetos FioCruz

Representando a Fundação Oswaldo Cruz, Valcler Rangel destacou três alternativas desenvolvidas pela Fundação em parceria com outros institutos para controle do Aedes aegypti: o projeto de unidades disseminadoras de larvicidas, o projeto Wolbachia e o inseticida biológico a base de microorganismos.

O projeto de unidade disseminadora é uma tecnologia já usada para fazer com que o mosquito transporte larvicida. De acordo com Valcler, ao pousar nas ovitrampas cobertas com larvicida, que são como se fossem baldes cobertos por uma tela, o mosquito tem a larvicida colada em sua pata e acaba carregando o produto para outro criadouro. O representante da FioCruz explicou que a instituição aguarda a aprovação da Anvisa para utilização do método em água potável.

O projeto Wolbachia consiste em infectar os mosquitos com a bactéria Wolbachia, que, segundo os pesquisadores, faz com que esses insetos sejam impedidos de transmitir o vírus da dengue. Por fim, a FioCruz desenvolveu o Denguetech,  bioinseticida em forma de pastilhas que deverá ser aplicado onde há acúmulo de água para a eliminação de larvas do mosquito da dengue. De acordo com Valcler, o produto é mais eficaz do que os existentes, tem baixo impacto ambiental e é de fácil uso.

— Essas três alternativas devem se associar a qualquer estratégia que se tenha de fazer entradas na casa, que é o tema da Medida Provisória. Também temos que fazer a população entender o que é o uso dessas tecnologias — explicou.

Aedes do bem

Representando a Oxitec Brasil, Glen Slade mencionou a eficácia do mosquito geneticamente modificado produzido pela empresa na redução de larvas do mosquito Aedes aegypti. Com o nome comercial de “Aedes do bem”, o mosquito transgênico possui uma alteração genética que torna sua prole estéril. O macho de DNA alterado, quando liberado, busca uma fêmea para fecundá-la e produz um ovo infértil, barrando a oportunidade de machos selvagens se reproduzirem.

— Sabendo que as ferramentas atuais não são suficientes, nós temos uma solução inovadora que tem resultados exitosos contra esse mosquito. Com o “Aedes do bem” nós podemos reduzir o mosquito e não simplesmente substituí-lo. Estamos prontos para implantar em grande escala e em qualquer localidade — disse.

Pulverização aérea

O representante do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG), Nelson Antonio Paim, ressaltou a importância de se incluir o uso da aplicação aérea de inseticidas no combate ao Aedes aegypti.

Entre as vantagens do método, Nelson destacou a velocidade do tratamento (mais de 400 hectares por hora), o efeito de choque sobre o mosquito adulto, o alcance em áreas que o carro “fumaceiro” não consegue atingir, uniformidade de deposição e o custo reduzido por área aplicada. Nelson explicou que o Ministério da Saúde só permite o uso de aviões para aplicação de inseticidas nos casos de epidemia e ressaltou que o Sindicato vem tentando um diálogo com os órgãos de saúde para que ocorra essa liberação.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)