Crise política repercute no Plenário do Senado

Da Redação | 17/03/2016, 19h18

Mesmo sem votações, o Plenário do Senado foi disputado nesta quinta-feira (17) com os senadores avaliando a crise política, as manifestações e o caso do grampo telefônico envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem como a nomeação de Lula para a Casa Civil.

A polarização das ruas se refletiu no tapete azul. Senadores da oposição e da base governista se revezaram em críticas e defesa do governo. O tom foi dado logo na abertura da sessão pelo senador Zezé Perrella (PDT-MG). Ao lembrar que ele e o filho – Gustavo Perrela - foram inocentados de participação no uso de um helicóptero da família no transporte de 450 quilos de cocaína, o parlamentar mandou um recado para Lula.

— Todos os seus amigos, senhor Lula, estão presos, estão na cadeia, e o resto está para vir. Vai-se prender o resto da gangue, o senhor pode esperar — disse Perrella.

A resposta veio do líder do PT, Paulo Rocha (PA), para quem o que está em jogo neste momento é a disputa de poder.

— Aí não, companheiro. O Lula não é bandido, o Lula não é salafrário, o Lula é uma liderança política, democrática, que foi construída na luta, nas ruas e que adquiriu o respeito na democracia, enfrentando, inclusive, a ditadura militar; foi preso, inclusive, pela ditadura militar — afirmou Rocha.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), por sua vez, assegurou haver na sociedade a compreensão de que o governo federal chegou ao fim. O presidente do PSDB também defendeu que todas as denúncias sejam investigadas em profundidade.

— Não há, para os homens de bem, nada, absolutamente nada mais relevante do que a verdade, e é isso que estamos buscando. Não acredito que serão apenas essas as citações a nomes da oposição e ao meu próprio, muitas outras virão, e todas serão respondidas de forma cabal, clara, com serenidade, mas com absoluta firmeza.

O senador Alvaro Dias (PV-PR) ressaltou que o país vive a situação inusitada de um ex-presidente ser nomeado ministro para conquistar foro privilegiado.

— O áudio que se revelou ao país demonstra a configuração clara de uma estratégia da esperteza política, com o objetivo de proteger o ex-presidente Lula em razão da severidade, do rigor e da competência com que tem atuado o Juiz Sérgio Moro, do Paraná.

Grampo telefônico

O líder do governo na Casa, Humberto Costa (PT-PE), alertou para o risco à democracia e à Constituição. Criticou a decisão do juiz Sérgio Moro de ter divulgado o grampo eletrônico da conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. Para Humberto, a conversa deveria ter sido encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF).

— O que está em jogo é a nossa Constituição; o que está em risco é a nossa democracia. E este Congresso Nacional, como poder, que tem a maior responsabilidade na promoção e na preservação desta democracia, não pode ficar calado.

Ao replicar o líder do governo, Flexa Ribeiro (PSDB-PA) disse que o ex-presidente Lula quer dividir o Brasil ao estimular a luta de classe.

— Quem disse que o Supremo Tribunal Federal estava acovardado, quem disse que o STJ estava acovardado, quem disse que o Legislativo estava acovardado? Foi o ex-presidente Lula. É ele que quer colocar os poderes de forma a julgar como ele quer.

A preocupação externada pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi com o crescimento e fortalecimento do que ele considera a extrema direita. Ressaltou que na última manifestação de São Paulo, 16% dos manifestantes disseram que votariam no deputado Jair Bolsonaro.

— Hoje, quem está chamando para as ruas, centralmente, são grupos de extrema direita. É claro que há uma aderência de uma parcela grande da população. Em especial a esse cerco no Palácio do Planalto, que eles estão tramando desde a semana passada. A inspiração é Mussolini — disse Lindbergh Farias.

Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) destacou que não há nada nas gravações que indicam crimes cometidos por Lula.

— Se o ex-presidente Lula tivesse falado com alguém, com qualquer pessoa que fosse, tramando alguma coisa para obstruir a Justiça, para parar a Lava-Jato, qualquer ilegalidade, uma hora desta ele já estaria na cadeia, que era tudo o que o juiz queria, que coordena a operação Lava-Jato. Ele já estaria na cadeia, mas ele não está – afirmou Vanessa.

O líder do Democratas, Ronaldo Caiado (GO), disse que ao contrário do que pensam alguns, os parlamentares não estão acovardados. Muito pelo contrário, de acordo com ele. Caiado garantiu ainda que ao divulgar o teor dos grampos telefônicos, o juiz Sérgio Moro não infringiu leis.

— Todos os juízes federais do Brasil estão na praça pública agora, nas ruas, mostrando que a decisão do Juiz Sérgio Moro é, sem dúvida nenhuma, acobertada por decisões do Supremo Tribunal Federal.  Não adianta querer agora alegar uma tese, que é usar a democracia e o Estado democrático de direito, para abafar o crime praticado pela presidente da República — acredita o líder do DEM.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) criticou a tentativa da oposição de dar legalidade aos grampos. Também foi crítica aos que afirmam que Lula não teria condições de ser presidente da República porque não sabe falar corretamente ou porque diz palavrões.

— Lula fala a voz do povo, por isso conseguiu entender este país e dar dignidade para a maioria do povo brasileiro. Ele conseguiu tirar gente da miséria, conseguiu colocar o filho do pobre na universidade — declarou.

Crise política

O líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB) questionou os motivos que conduziram a esta crise política. Para ele, a razão é simples.

— Ninguém aguenta mais. Ninguém aguenta mais ver tantos desmandos, tantos erros, tantos equívocos, de forma sucessiva, reiterada, repetida. Ninguém suporta mais a falta de autocrítica do governo, que não tem a humildade de reconhecer os graves erros praticados afirmou o líder dos tucanos.

Do Democratas do Rio Grande do Norte, José Agripino rebateu críticas de que a oposição estaria insuflando a sociedade a ir às ruas protestar contra o governo federal.

— As pessoas têm vontade própria. As pessoas vão para a rua motivadas por fatos. É isso que está ocorrendo, e os fatos estão indignando o país. Por que esta semana houve tanto assombro? Os fatos é que levaram as pessoas, as multidões, para a rua. E humildade diante dos fatos — defendeu Agripino.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) tem uma avaliação muito similar à de Agripino. Para Tasso, as oposições têm muito pouco a ver com as manifestações.

— Nós fomos surpreendidos pelas delações premiadas, pelas acusações e pelas prisões que vieram da Lava-Jato. Nós fomos totalmente surpreendidos. Quisera que o nosso líder, Aécio Neves, tivesse o poder de convocar às ruas —afirmou o tucano.

Vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC) cobrou da Ordem dos Advogados do Brasil, do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público que averiguem o procedimento de investigação contra o ex-presidente Lula.

— Eu não sou jurista, eu não sou juiz, mas só queria que neste momento gravíssimo, em que há risco de ruptura do Estado democrático de direito, em que há risco de enfrentamento nas ruas de brasileiros contra brasileiros, o que seria o pior dos mundos, depois de um período tão bom que a gente viveu, de crescimento econômico, de inclusão social — disse.

O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) rejeitou qualquer risco à democracia, que pare ele está demonstrando bastante vitalidade.

— Quem vai mal é o governo da presidente Dilma, pelos seus equívocos, pelos seus atos, por tudo que exerceu, ao longo desses anos, de delinquência, de apropriação do Estado brasileiro, destacou o senador do Espírito Santo.

O também representante dos capixabas, Magno Malta (PR) disse que Lula perdeu o espírito de pobre, por isso passa por dificuldades.

— Ele tentou entrar numa camada social que não era a dele e abriu portas para os filhos ficarem milionários. O povo está nas ruas hoje não por odiar Lula. As pessoas estão nas ruas porque estão decepcionadas, porque ficaram envergonhadas, porque depositaram muita esperança nele — aposta Malta.

Hélio José (PMDB-DF) cobrou da Justiça o mesmo tratamento a todos os cidadãos. Para ele, o que vale para um tem que ter o mesmo peso para o outro.

— A gente precisa ter o cuidado aqui para não rasgar a Constituição porque essa Constituição de hoje serve para amanhã, para depois e para depois, para todos os governos que virão — declarou Hélio José.

O também representante do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PPS) avaliou que o governo de Dilma Rousseff cometeu quatro erros que levaram à crise econômica. Um deles, a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil.

— Ignorou a vontade do povo na rua contra o ex-presidente Lula. Independentemente de se dizer se a Justiça está certa, se a presidente é ou não conivente com tudo aquilo que é suspeito. Independentemente se é verdade ou não, o povo o tomou como o grande símbolo das coisas errada — acredita Cristovam.

O senador José Serra (PSDB-SP) elogiou a serenidade do Senado diante da turbulência política. Além disso, ressaltou o papel do mau desempenho da economia no cenário de crise.

— Estamos diante da pior crise que o Brasil contemporâneo já teve. A crise que o Brasil está vivendo, com a produção e o emprego caindo sem parar se dá em um contexto de relativa tranquilidade da economia mundial — sublinhou Serra.

A crítica à arrogância de uma “certa elite” foi feita pela senadora Regina Sousa (PT-PI). De acordo com ela, é uma arrogância afirmar que o Brasil está dividido.

— O pessoal que se beneficia das cotas sabe que tem um lado que não gosta de cotas e que essas cotas vão correr risco. O pessoal do Bolsa-Família vai saber que, na hora de cortar o orçamento, o primeiro corte proposto será no Bolsa-Família, e por aí vai — declarou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)