Brasil deve adaptar-se a novo ritmo da economia chinesa, recomendam especialistas

Marcos Magalhães | 10/03/2016, 15h17

O Brasil deverá adaptar-se à desaceleração da economia chinesa, segundo recomendaram especialistas que participaram, nesta quinta-feira (10), de audiência pública sobre o tema promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Os expositores admitiram as dificuldades a serem enfrentadas pelo Brasil, que tem na China seu principal parceiro comercial, mas recordaram que o crescimento de 6,5% anunciado por Pequim para os próximos anos ainda é bem superior ao que deverá ser obtido pelos Estados Unidos e pela Europa.

Na abertura da audiência, que foi presidida pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), o ex-embaixador Sérgio Amaral, atualmente presidente emérito do Conselho Empresarial Brasil-China, informou que a soja representa 40% das exportações brasileiras para aquele mercado, enquanto o minério de ferro responde por aproximadamente 20%. A seu ver, os dois países ainda mantêm uma grande complementaridade econômica, apesar da redução do crescimento chinês, especialmente no agronegócio. O chamado “novo normal” da economia chinesa, para ele, não deve provocar temor.

— Crescimento de 6,5% a 7% ao ano é uma barbaridade! — disse Amaral.

Investimentos

A participação crescente dos chineses nos investimentos feitos no Brasil foi ressaltada pelo embaixador José Alfredo Graça Lima, subsecretário do Ministério das Relações Exteriores para Ásia, Oceania e Brics (grupo que engloba, além de Brasil e China, a Rússia, a Índia e a África do Sul). Ele informou que, há duas semanas, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, recebeu manifestação por escrito de duas grandes empresas chinesas com interesse em participar da expansão das ferrovias brasileiras, tanto para cargas como para passageiros.

Uma das ferrovias que interessa aos chineses, mencionou o embaixador, é a Bioceânica, que poderá, no futuro, ligar o litoral do Rio de Janeiro a portos localizados no Peru, passando pela Floresta Amazônica. Ele adiantou ainda que a presidente Dilma Rousseff deverá fazer uma viagem oficial à China em setembro, para aprofundar as negociações sobre investimentos e a ampliação do intercâmbio comercial bilateral.

Alimentos

Na opinião da sócia diretora da Vallya Negócios e Investimentos, Larissa Wachholz, o Brasil precisa adaptar-se à nova etapa da economia chinesa. De um lado, observou, não deverá se repetir a fase de altos preços de commodities como soja e minério de ferro. De outro, porém, podem abrir-se oportunidades na oferta de produtos aos consumidores da China, especialmente na área de alimentos processados.

— Não tenho nada contra a exportação de commodities, mas podemos exportar outros produtos e marcas. Os chineses têm tido dificuldades com a produção de alimentos, e vários escândalos de contaminação já foram divulgados. É importante que o Brasil aproveite a oportunidade de exportar alimentos com suas próprias marcas — ressaltou.

O presidente da AGN Participações, Roger Agnelli, disse também não ver problema com o fato de o Brasil exportar muitas commodities para a China, país que consome 60% do minério de ferro do mundo. Ele observou que a queda nos preços não se deveu apenas à desaceleração chinesa, mas também ao aumento da oferta de commodities por empresas que imaginavam a manutenção dos altos níveis de crescimento anteriores. Mesmo diante do novo cenário, o ex-presidente da Vale demonstrou otimismo.

— A China é e vai continuar sendo o grande destino da exportação de commodities do Brasil e do mundo inteiro — previu Agnelli.

Oportunidade

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), autora de um dos requerimentos para a realização da audiência (o outro foi de Aloysio Nunes), afirmou que a China é “estratégica” para o desenvolvimento brasileiro e que o crescimento menor de sua economia “não implica necessariamente problema para nós”. Da mesma forma, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) observou que “a China não é uma ameaça, mas uma oportunidade” Em sua opinião, o Brasil deveria investir mais na aproximação com as economias do Pacífico.

O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) manifestou a expectativa de que, com a crescente urbanização e inserção na economia mundial, a China poderá vir a aproximar-se do modelo da democracia ocidental. O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) previu que, cada vez mais, a China importará commodities e exportará conhecimento, inclusive na área espacial. Por sua vez, o senador Jorge Viana (PT-AC) defendeu a construção da Ferrovia Transoceânica e a aproximação com os países asiáticos por meio de portos no Oceano Pacífico.

O senador José Agripino (DEM-RN) elogiou a infraestrutura que conheceu em recente viagem a Shanghai, especialmente nos metrôs e nos trens de alta velocidade, mas demonstrou preocupação com a possibilidade de a China transformar-se em um “barril de pólvora” se não promover maior abertura democrática. O senador Helio José (PMB-DF) ressaltou os “gargalos de infraestrutura” que existem no Brasil e defendeu maior participação dos chineses em empreendimentos de transportes e energia.

Por último, a senadora Ana Amélia (PP-RS) demonstrou preocupação com acordo secreto que teria sido celebrado pelos governos da China e da Argentina e que poderia incluir temas sensíveis como a energia nuclear.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)