Economistas Ignácio Rangel e Rômulo Almeida recebem homenagem no Senado

gorette-brandao | 02/06/2014, 17h55

O Senado homenageou em Plenário, nesta segunda-feira (2), dois dos mais importantes economistas brasileiros do século XX, o maranhense Ignácio Rangel e o baiano Rômulo Almeida. Eles foram elogiados pela contribuição para a construção do pensamento econômico brasileiro e pela concepção de políticas de desenvolvimento que, entre outros objetivos, buscavam também integrar e desenvolver regiões mais atrasadas, como o Nordeste.

Os propositores da sessão, o senador Inácio Arruda (PCdoB) e a senadora Lídice da Mata (PSB-BA), destacaram a importância do resgate da memória de ambos neste ano de 2014, em que se comemora o centenário de nascimento dos dois homenageados. Além de contemporâneos, Rangel e Rômulo mantiveram estreita colaboração profissional. Seus nomes estão ligados à concepção, no período democrático da era Vargas, do então Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), da Petrobras e da Eletrobras, entre outras iniciativas.

— São personalidades singulares, cujas ideias e cuja atuação deixaram marcas profundas e duradouras na história recente do Brasil – assinalou Inácio.

Getúlio tinha por objetivo viabilizar a industrialização a industrialização do país, buscando estabelecer um capitalismo de base nacional, conforme Lídice. Por isso, criou uma assessoria econômica destinada a conceber projetos de desenvolvimento energético, diante da visão de que esse era um ponto crucial para o desenvolvimento do país. Convidado para a função de coordenador, Rômulo integrou à equipe, entre outros profissionais, o maranhense Rangel.

- Rômulo e Ignácio Rangel não foram dois pensadores nordestinos apenas. Foram dois nomes fundamentais na organização do Estado brasileiro pós Getúlio Vargas. Portanto, do Estado brasileiro que existe até hoje – assinalou Lídice.

Autoditadas

Nascidos em 1914, os dois eram formados em Direito e, como autodidatas, acabaram migrando para o campo da economia. Rômulo Almeida faleceu em 1988, e Ignácio Rangel, em 1994. Como assinalou o senador Inácio Arruda, eles foram “testemunhas integrais e participantes” do período em que o Brasil efetivamente se unificou, pois antes cada região se conectava muito mais com as economias externas, para as quais exportavam seus produtos.

— A efetiva unificação no Brasil se dá com o início da industrialização do País e com a consequente criação de um verdadeiro mercado interno, que incorpora as diversas regiões num sistema integrado.

Para Lídice, a produção intelectual de Rangel é uma das mais originais dentro da teoria econômica brasileira. Segundo ela, a inovação trazida por Rangel consistiu em demonstrar que o desenvolvimento brasileiro não ocorreu apenas em função das forças econômicas internas do País, mas também da influência econômica externa.

Banco do Nordeste

Sobre Rômulo Almeida, Lídice registrou que antes mesmo de coordenar a assessoria econômica de Getúlio, foi um dos idealizadores da Chesf – Companhia Hidroelétrica do São Francisco, fundada em 1948. Já no governo de Juscelino, participou da criação do Banco do Nordeste, do qual foi o primeiro presidente, além do Conselho Consultivo da Sudene.

Na Bahia, ainda antes, como secretário de governo, criou a Comissão de Planejamento Econômico (CPE), considerada a primeira experiência de planejamento de um Estado. Segundo Lídice, a contribuição de Rômulo à “Bahia moderna” teve início na década de 30, quando ele escreveu sobre os limites impostos ao estado pelo modelo econômico secular que induzia o estado à decadência. Era o que chamava de “enigma baiano”.

Lídice, que não chegou a ter Rômulo como professor do curso de economia da Universidade Federal da Bahia, intitulou-se sua “aluna política”. Destacou a convivência política que tiveram, nos ano 80, na organização da oposição na Bahia, quando ele dirigia o antigo MDB no estado e observou que Rômulo se caracterizou como um nacionalista e defensor da distribuição de renda.

Tríade nordestina

Cristovam Buarque (PT-DF) destacou a contribuição dos nordestinos na “reflexão” sobre o Brasil e situou, ao lado de Rômulo e Rangel, outros pensadores oriundos da região, como o também economista Celso Furtado, de Pernambuco.

A seu ver, esses são os homens que interpretaram o país, mas observou que alguns desafios foram deixados para a geração atual, especialmente para a solução das desigualdades sociais. De acordo com Cristovam, isso vai depender de esforços no campo do desenvolvimento ecológico e, sobretudo, de educação de qualidade para todos.

O presidente interino do Banco do Nordeste, Nelson Antonio de Souza, destacou “o trabalho, a criatividade, a ética, a coragem e o amor” com que os homenageados se dedicaram às causas do Brasil. Helena Maria Landim Lastres, que representou o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, classificou Rangel e Rômulo como “visionários”, pois conceberam uma instituição que pode ajudar o país a sair da recente crise econômica global. Ela também informou que o BNDES realizará diversas homenagens aos economistas a partir de junho.

Pela Sudene, o superintendente interino, Marcos Otaviano Robalinho de Barrros, afirmou que as desigualdades regionais não foram vencidas e que, por essa razão, as ideias e esforços dos dois economistas precisam ter continuidade.

O irmão de Rômulo Almeida, Aristeu Almeida, relatou fatos curiosos sobre o homenageado, como o gosto por jogar futebol e a prisão durante a revolução paulista, nas fileiras contra Getúlio Vargas, com quem veio a colaborar depois.

O sobrinho-neto de Ignácio Rangel, Luiz Eduardo Rangel, destacou o “orgulho” dos descendentes pela obra que deixou o parente, segundo ele ainda uma inspiração para os acadêmicos interessados pela questão econômica nacional.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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