É preciso 'espião paranormal" para acessar banco de dados da ANP, diz diretora-geral
Da Redação | 17/09/2013, 16h02
A diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, disse, na manhã desta terça-feira (17), que para roubar as informações do setor seria preciso "um espião paranormal", uma vez que o banco de dados de exploração e produção de óleo e gás natural brasileiro não está ligado à internet.
– Podem ficar tranquilos, pois não é possível espionar o banco por meio da rede mundial de computadores - afirmou em audiência da CPI da Espionagem.
Segundo ela, trata-se de um dos maiores bancos de dados relativos ao setor petrolífero do mundo e funciona na Urca, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, afastado da sede principal da ANP, que fica no Centro da cidade. Além disso, conforme Magda, o banco, chamado de BDEP, conta com uma sala-cofre à prova de balas e protegido de incêndio e outras ameaças.
– O acervo é imenso. São dados geológicos, sísmicos, físicos, perfis de poços, testes de poços e amostras. O que tem hoje equivale a 60 milhões de gaveteiros cheios de informações. Ou algo igual a 20 bilhões de fotografias digitais de alta resolução – exemplificou.
Segundo ela, o acervo é patrimônio do país e mantido pelo governo como parte do ativo petrolífero da união. Os dados do armazenados pelo BDEP são brutos e não interpretados.
Fragilidade
As explicações não convenceram os senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Requião disse estar certo da "violabilidade" do sistema da agência reguladora. Para ele, Magda Chambriard abordou a questão de "forma ligeira", subestimando a inteligência dos parlamentares.
Randolfe Rodrigues, por sua vez, lembrou que uma das empresas que oferecem software para a ANP e a Petrobras é a Halliburton, do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney:
– Com a participação de empresas americanas, inclusive do vice-presidente, não há de ser tão paranormal assim a interferência americana e o acesso a esses dados – disse Randolfe, rebatendo a diretora da ANP que, poucos minutos antes, havia dito que somente um "espião paranormal" poderia ter acesso às informações.
Campo de Libra
Depois das denúncias de espionagem americana, Randolfe e Requião são dois dos senadores que passaram a levantar suspeitas sobre lisura do leilão para exploração do Campo de Libra, na Bacia de Santos, marcado para 21 de outubro. Esse é um dos principais campos petrolíferos da camada pré-sal no Brasil. A representante da ANP voltou a pedir que os parlamentares ficassem tranquilos:
– A ANP promove licitação em área da União, com dados e informações públicas e não exclusivas. Os dados estão disponíveis a todas as empresas interessadas. Não tenho dúvida da igualdade de oportunidade a todos os participantes – afirmou.
Segundo ela, desde 25 de junho, 18 empresas já solicitaram ao banco de dados da ANP informações sobre o Campo de Libra, inclusive a Petrobras.
– Qualquer pessoa física ou empresa pode ter acesso ao banco de dados, inclusive os senhores senadores. a Petrobras, por exemplo, já o fez. Fiquem certos de que há plena igualdade de oportunidade a todos os participantes – disse.
Em entrevista à imprensa após a audiência, a presidente da CPI da Espionagem, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse que em relação à ANP, as informações repassadas foram convincentes.
Mais depoimentos
A reunião desta terça-feira (17) foi feita em conjunto com as comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). A CPI da Espionagem prosseguirá com os depoimentos nesta semana. Amanhã é a vez da Presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, em reuniao também conjunta com a CAE e a CRE. Na quinta-feira, os parlamentares ouvirão Glenn Greenwald. jornalista responsável por divulgar dados secretos coletados pelo técnico Edward Snowden, ex-funcionário terceirizado da agência de segurança nacional dos Estados Unidos. Em entrevistas para veículos das Organizações Globo, Greenwald revelou que a presidente Dilma Rousseff e a estatal Petrobras foram alvos da espionagem.
Os dois depoimentos estão marcados para 9h, na sala 2 da Ala Nilo Coelho do Senado Federal.
A comissão parlamentar de inquérito é presidida pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e tem como vice-presidente o senador Pedro Taques (PDT-MT). O relator é o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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