Snowden precisa de asilo em país que possa protegê-lo, diz jornalista americano
Paola Lima | 06/08/2013, 20h20
O país que oferecer asilo humanitário ao ex-técnico da agência de segurança americana (NSA) Edward Snowden terá ajuda do americano tanto com informações sobre a espionagem dos Estados Unidos em assuntos relacionados ao governo daquela nação como na implementação de sistemas de segurança que a protejam de novas espionagens. A afirmação foi feita pelo jornalista Glenn Greenwald, responsável por vazar os dados reunidos pelo ex-técnico da NSA, em audiência pública no Senado, nesta terça-feira (6).
Greenwald mostrou-se preocupado com a segurança de Snowden, com quem disse falar todos os dias desde que o ex-técnico deixou o aeroporto da Rússia, após receber asilo provisório naquele país. Em sua opinião, os países que chegaram a oferecer abrigo o norte-americano (Venezuela, Bolívia e Nicarágua), apesar das "boas intenções", são pequenos e não têm condições de oferecer a Snowden a segurança de que ele necessita.
Sem citar exemplos, o jornalista criticou a postura de nações mais poderosas no cenário internacional, que teriam se manifestado com indignação contra o esquema de espionagem americana, mas não teriam tomado nenhuma atitude concreta por, de alguma forma, terem se beneficiado com o esquema. Além disso, os EUA estariam pressionando todos aqueles que manifestam a intenção de abrigar o ex-agente.
- Muitos estão sacrificando a independência e dignidade nacional em troca dos benefícios de manter boas relações com os Estados Unidos. Com certeza, qualquer país que der asilo a Snowden também terá benefícios, inclusive porque ele vai ficar grato e vai querer trabalhar com o governo nesta questão da espionagem – afirmou.
Para Greenwald, o único jeito de proteger Snowden é com a união dos países, e não apenas das organizações internacionais, mostrando desobediência aos Estados Unidos, apesar de suas ameaças.
- Os EUA não podem ameaçar o mundo todo. Se os governos no mundo trabalharem juntos, poderão impedir a espionagem, poderão usar a tecnologia para proteger a privacidade de suas comunicações. Usar a tecnologia para dar privacidade e não para invadi-la - ponderou.
Asilo no Brasil
Na audiência, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), explicou que o Senado já aprovou uma moção pedindo ao governo brasileiro que ofereça asilo a Snowden. Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), apenas o pedido do Congresso Nacional não será suficiente para convencer o governo a recebê-lo em seu território. É preciso uma campanha nacional, com mobilização popular, para sensibilizar as autoridades.
Herói
Glenn Greenwald afirmou aos parlamentares que Edward Snowden sabia que estava sacrificando sua vida e sua liberdade ao divulgar os documentos secretos sobre espionagem. Mas, mesmo sob o risco de ficar preso pelo resto da vida ou tornar-se a pessoa mais procurada pelo governo da mais poderosa nação do mundo, ele não teve dúvidas quanto à decisão que tomou.
- Ele disse que, sabendo o que o governo está fazendo com todas as pessoas do mundo, não poderia ficar quieto e ter a consciência limpa, ele precisava informar ao mundo o que estava acontecendo – relatou – Para mim, essa é a definição do herói e acho que a coragem dele vai ter impacto muito maior do que os artigos que estamos publicando.
Segundo Greenwald, Snowden virou exemplo para os jovens americanos e de todo o mundo – como os que estiveram presentes na audiência pública no Senado, usando máscaras com a foto do ex-técnico da NSA. Pesquisas nos EUA revelam que a maioria da população apoia o que ele fez, apesar de o governo o classificar como “traidor”. O jornalista acrescentou ainda que tanto Snowden quanto ele tiveram cuidado de não divulgar, nas reportagens, nenhuma informação que prejudicasse os Estados Unidos.
Anistia
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu na audiência o encaminhamento de um pedido formal para que o governo dos Estados Unidos conceda anistia ao ex-agente. Greenwald foi categórico ao descartar a possibilidade. Ele afirmou que o governo americano tem “obsessão” em punir pessoas que divulgam segredos de Estado e, sendo assim, não há como Snowden voltar ao país.
Durante a audiência, a CRE aprovou voto de louvor pelo trabalho desenvolvido por Edward Snowden e Glenn Greenwald, por terem revelado ao mundo o esquema interacional de espionagem do EUA que viola o direito a privacidade.
- É uma forma de sinalizarmos todo o reconhecimento a vocês, em nome do Congresso Nacional, em razão desses esforços que serão um marco na história – explicou Ricardo Ferraço.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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