Paulo Vieira de Souza nega ter pedido dinheiro para campanha do PSDB

Anderson Vieira | 29/08/2012, 19h41

Em reunião marcada por embates entre PT e PSDB, o engenheiro Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa, estatal rodoviária de São Paulo, negou informações publicadas pela imprensa de que o pedido dele de mais verbas para obras do Rodoanel, na capital paulista, seria para uso em campanha eleitoral do PSDB em 2010.

O engenheiro, citado pela imprensa como Paulo Preto, prestou depoimento por mais de seis horas sem a assistência de um advogado à CPI mista do Cachoeira nesta quarta-feira (29). Outro convocado, o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, reivindicou o direito constitucional de ficar em silêncio. Os parlamentares ouviram também o contador Gilmar Carvalho Moraes, ex-marido de Roseli Pantoja, cujo nome teria sido usado para abertura de empresas fantasmas ligadas a Cachoeira.

Campanhas

A exemplo de outros convocados pela CPI, Paulo de Souza começou sua participação com um relato de seus feitos na vida pública. O engenheiro foi diretor da Dersa de 2007 a 2010, quando foi exonerado pelo então governador Alberto Goldman, do PSDB. Para ele, por questões pessoais.

– Doutor Goldman, como governador, tem todo o direito de simpatizar ou não com as pessoas. Ele não gostava de mim como gestor – opinou.

O ex-diretor da Dersa informou que nunca foi filiado a partidos políticos, nem atuou na área financeira de nenhuma campanha política, mas admitiu que fez uma doação de R$ 5 mil à última campanha de Geraldo Alckmin (PSDB).

As acusações contra Paulo Vieira de Souza acabaram sendo minimizadas na terça-feira (28) pelo diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot.

Ele confirmou que Paulo de Souza o pediu para assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), com anuência Ministério Público Federal (MPF), de R$ 264 milhões para a conclusão do eixo sul do Rodoanel de São Paulo, mas negou ter dito que parte desse dinheiro seria desviada para as campanhas eleitorais. Segundo Pagot, a informação não passou de uma “conversa de bêbado em botequim”.

Paulo de Souza, que chegou a elogiar Pagot por mais de uma vez, disse que aceitaria uma acareação com o ex-chefe do Dnit. E disse também que não o pressionou para assinar, apenas fez “ato de gestão”.

- A obra do Rodoanel foi feita por empreitada global, por isso entendo que nem caberia aditivo. Mas TCU e Ministério Público entenderam diferente – informou.

Delta

De acordo com o ex-diretor, a única obra da construtora Delta – que segundo a Polícia Federal repassava dinheiro a empresas de fachada ligadas a Cachoeira – como relacionada à Dersa foi o lote 2 da Marginal Tietê, com dois aditivos, mas sem a existência de nenhuma irregularidade. Ele informou ter se encontrado duas vezes com o dono da empreiteira, Fernando Cavendish, e não recebeu nenhum pedido.

Por algumas vezes, Paulo Souza chegou a arrancar risadas dos parlamentares, como quando disse não ser o “super-homem” das obras; mas o “ironman”, em alusão ao triatlo, esporte praticado por ele.

– Se precisarem de um incompetente, não me chamem. Mas se quiserem obra no prazo, paga bem que eu estou dentro, independentemente de partido, clero ou religião – gabou-se.

A pedido do deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), o engenheiro elaborou uma lista com seus “detratores”, entre eles, as revistas Época, Isto É e Carta Capital; o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, que teria dito à imprensa que Paulo de Souza sumira com R$ 4 milhões arrecadados com empresários para a campanha de José Serra à Presidência em 2010; e a delegada Nilze Baptista, que o prendeu sob acusação de portar uma jóia roubada.

Paulo de Souza também se mostrou ressentido com a presidente da República, Dilma Rousseff, a qual, segundo ele, indagou ao adversário José Serra, num debate na TV, onde estaria um assessor que levou R$ 4 milhões da campanha do PSDB.

– Espero imensamente que a presidente, um dia, reconsidere essa postura, porque foi numa campanha – disse.

Embate

A reunião da CPI desta quarta-feira começou com o clima tenso. Já no início o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP) fez duras críticas ao PSDB e afirmou que o partido estava ”sangrando” em razão do envolvimento de nomes ligados à legenda nas irregularidades investigadas pela CPI.

O ataque provocou imediata reação dos tucanos. O deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) disse que as acusações são absurdas e que o PSDB estava sendo agredido sem razão.

– Essa CPI não pode ter coloração partidária – protestou.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), por sua vez, acusou o deputado José de Filippi (PT-SP), ex-tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff, de improbidade administrativa por ter ido ao Dnit pedir uma lista de possíveis doadores.

– Quem sangra é o PT, quando se descobre que o braço financeiro da organização criminosa de Cachoeira era a empresa Delta, grande parceira da mãe do PAC. Motivos não faltam para o PT sangrar nesta CPI – retrucou. Para Sampaio, Jilmar Tatto teve postura “deselegante” e “inadequada”.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)