Pesquisadores destacam necessidade de produção sustentável no Cerrado

Soraya Mendanha | 08/08/2012, 18h45

Pesquisadores da área de meio ambiente reafirmaram, nesta quarta-feira (8), a importância de uma produção sustentável no bioma Cerrado. A constatação foi feita durante audiência pública da Comissão Mista sobre Mudanças Climáticas (CMMC), destinada a debater as ações relativas às mudanças do clima no Cerrado.

O representante da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Emprapa) e doutor em agrometeorologia Balbino Antônio Evangelista alertou para os impactos que a mudança climática, com aumento da temperatura média global, pode causar ao Brasil. Entre eles, a intensificação das chuvas, o aumento do nível do mar, a substituição gradual da vegetação da floresta Amazônica e o aumento da aridez no Nordeste.

Evangelista disse que o Cerrado ocupa um quarto do território nacional e por isso precisa de um monitoramento contínuo. De acordo com o representante da Embrapa, o bioma se destaca na pecuária nacional, além de ser um importante produtor de soja, algodão, milho, arroz. Ele afirmou que o desafio da Embrapa é “produzir de forma equilibrada minimizando emissão de gases e efeito estufa e aumentando a fertilidade do solo”.

- Meio ambiente, economia e sustentabilidade devem estar sempre em equilíbro – afirmou.

Entre os estudos feitos pela Embrapa em busca do desenvolvimento sustentável da região, o pesquisador destacou os que tratam do monitoramento do estoque de carbono no solo do Cerrado e da identificação das características das plantas mais resistentes à seca visando transferir mecanismos delas para outras espécies.

Ele destacou a importância do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, o Plano ABC, que tem como objetivo incentivar processos tecnológicos que neutralizam ou minimizam os efeitos dos gases de efeito estufa no campo. O programa prevê ações de recuperação de pastos degradados, tratamento de resíduos animais e fixação do nitrogênio no solo, o que, de acordo com Evangelista, reduz o custo de produção e melhora a fertilidade do solo.

O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Brandão Cavalcanti, afirmou que as queimadas e incêndios florestais no Cerrado baixam a fertilidade do solo e devem ser controlados. Ele explicou que a maioria dos incêndios é de origem entrópica e são resultados de processos involuntários.

- Os focos concentram-se nos meses seco e a pior queimada ocorre na véspera da primeira chuva – disse.

O representante do Ministério do Meio Ambiente destacou a existência do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado, o PP Cerrado, que conta com a participação de dezesseis ministérios. Roberto Brandão disse que o plano estabelece a redução de emissões, favorece a agricultura consolidada e a conservação. O pesquisador sublinhou também que as queimadas no Cerrado emitem 232 milhões de toneladas de CO² por ano, efeito que pode ser equiparado às queimadas da Amazônia.

- Os resultados esperados são esses: promover a redução da taxa de desmatamentos e queimadas e ajudar nos compromissos que o Brasil assumiu nacionalmente de diminuir as emissões em 40% até 2020 – explicou

Cavalcanti destacou também a necessidade de se ampliar as unidades de conservação ambiental, mas ressaltou que para isso é preciso envolver todos os setores da sociedade. Ele acredita que, atualmente, existe uma baixa quantidade e representatividade das unidades de conservação.

Isabel Figueiredo, Assessora Técnica do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), entidade filiada à Rede Cerrado ressaltou que é preciso desenvolver também estratégias claras de conservação para as comunidades tradicionais, que são aquelas que estão fora das unidades de conservação e de áreas de proprietários agrícolas de grande escala.

Ela explicou que essas comunidades têm interesse em controlar as queimadas, mas não estão capacitadas para isso. Isabel Figueiredo disse que seria interessante a instalação de brigadas em cada comunidade ou assentamento.

- Eles não têm os equipamentos, não sabem o que é um abafador, o que é um pinga fogo e precisam aprender – afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: