Senadores paraguaios defendem em Brasília ‘impeachment’ de Lugo

Tércio Ribas Torres | 28/06/2012, 18h27

O senado do Paraguai respondeu ao que os cidadãos daquele país pediram e o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo foi aprovado. A declaração foi feita na tarde desta quinta-feira (28) em Brasília pela senadora paraguaia Mirtha Palacios Melgarejo, durante reunião prévia da comissão externa do Senado brasileiro incumbida de visitar o Congresso Nacional do Paraguai.

A senadora Mirtha Palacios disse que era uma honra estar no Senado brasileiro, mas lamentou que isto ocorra em um momento em que a situação política do Paraguai é vista como uma crise, referindo-se ao impeachment de Lugo e à chegada de Frederico Franco ao poder. Franco foi eleito como vice de Lugo, nas eleições presidenciais de 2008. Mirtha ressaltou que a medida foi tomada com o apoio de todos os partidos do país. Ela disse que a situação interna do Paraguai está normal e tranquila e que o problema tem se resumido à repercussão internacional.

- Queremos ser respeitados em nossa soberania – declarou.

Para Eric Maria Salum Pires, senador paraguaio, a crítica de desrespeito ao processo legal não é correta. Ele disse que a Constituição do Paraguai prevê o impeachment e que o rito foi seguido. Salum Pires lembrou que a saída de Lugo foi aprovada por mais de 90% dos parlamentares.

O senador explicou que o rito para o processo de impedimento pode ser decidido caso a caso. Salum afirmou que uma possível sanção do Mercosul ao país será um retrocesso para a integração da região.

- O Paraguai pode mostrar ao mundo que seguiu um processo legítimo do ponto de vista constitucional. Quando países irmãos questionam nossa posição, a autodeterminação dos povos é desrespeitada – declarou.

O senador Casildo Maldaner (PMDB-SC) admitiu que uma decisão com mais de 90% de apoio mostra que Lugo não tinha condição governar. A senadora Ana Amélia (PP-RS) disse que é possível assumir uma posição crítica em relação ao que ocorreu no Paraguai, no entanto, ela lembrou que cada país precisa ser respeitado em sua soberania. Na visão do senador Sérgio Souza (PMDB-PR), que presidiu a reunião, o processo legal paraguaio foi seguido.  Ele sugeriu, porém, que a Constituição seja revista para tornar o processo mais democrático.

- A soberania do Paraguai tem que ser reconhecida – disse Sérgio Souza.

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) demonstrou solidariedade com o Paraguai. Ele disse que seu relacionamento com os paraguaios é especial, por conta da proximidade geográfica do país vizinho com o Paraná, estado que representa no Senado.

- Quando vou ao Paraguai, me sinto em casa – disse.

O senador disse que não concorda com a posição do governo brasileiro de criticar o processo de impeachment de Lugo. De acordo com o senador, é preciso respeitar a Constituição e o Senado do país vizinho.

- Não há razão para qualquer país interferir nas decisões de outro. Acho que, em pouco tempo, não haverá qualquer restrição ao Paraguai – declarou.

Brasiguaios

Os senadores também assistiram a um vídeo sobre a situação agrária do Paraguai, com momentos de tensão sobre disputa de terra, em que trabalhadores rurais paraguaios ameaçam autoridades e militares. A terra em questão seria motivo de disputa com “brasiguaios” – como são chamados os brasileiros que cultivam terras paraguaias.

O senador Sérgio Souza lembrou que a comissão externa instituída pelo Senado com a incumbência de ir ao Paraguai conhecer a situação dos brasiguaios já foi autorizada, mas ainda não realizou a visita. Para o senador, é preciso defender os brasileiros que estão no Paraguai. Ele lembrou que o número de brasiguaios, juntamente com seus descendentes, pode chegar a 400 mil. Souza disse que os brasiguaios são pessoas que ajudaram a desbravar a região e levar crescimento para o país vizinho.

Para o senador paraguaio Roberto Campos, os “brasiguaios” são “irmãos brasileiros” que vivem no Paraguai e alguns são até mais paraguaios do que os que nasceram lá.

Roberto Campos lamentou que exista um “vício ideológico” na análise do processo de impeachment e criticou a queima de uma bandeira brasileira, em 2008, por partidários do ex-presidente Lugo.

A advogada Marilene Sguarizi, membro do Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior e que atua na defesa da causa dos camponeses brasileiros no país vizinho, voltou a pedir a visita dos senadores brasileiros ao Paraguai, para conhecer de perto a situação dos brasiguaios. Marilene, que é paraguaia, disse que não vê empecilho no fato de o país ter passado recentemente por um processo de troca no poder.

- O Paraguai é um país soberano e precisa ser respeitado por isso – disse Marilene.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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