Oposição vê 'aparelhamento' da Vale. Mantega, 'reações saudáveis'

Da Redação | 03/05/2011, 18h27

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi questionado nesta terça-feira (3) por senadores oposicionistas sobre a interferência do governo para destituir o presidente da companhia Vale, Roger Agnelli, que no fim de março foi substituído pelo administrador de empresas Murilo Ferreira. O confronto se deu em audiência pública realizada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Pela oposição, quem primeiro abordou a mudança no comando da Vale foi o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Ele mencionou o grande crescimento alcançado pela mineradora desde sua privatização. A Vale, hoje a maior empresa privada do país, fatura anualmente US$ 44 bilhões, contra valor anterior de US$ 4 bilhões. Alvaro Dias disse ter havido indiscutível pressão para a saída de Roger Agnelli, que presidiu a empresa por dez anos. A intenção seria aparelhar a empresa, nela acomodando correligionários.

- Durante a fase de pressões sobre a Vale, diretores ameaçaram pedir demissão em massa, insatisfeitos com o que chamavam de 'venezuelização' da empresa - afirmou o senador.

Alvaro Dias salientou que o próprio ministro Mantega teria sido citado por um alto dirigente do Bradesco como intermediários das pressões. Ao fim da intensa pressão do governo, disse o senador, o principal sócio privado decidiu ceder por medo de prejuízo a seus interesses. O Bradesco divide o controle da estatal com a Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, e o próprio governo, que tem participação menor por meio do BNDES. Alvaro Dias observou que o ex-presidente Lula já tentava orientar as decisões de investimento da mineradora.

Para Mantega, o que houve foram "reações saudáveis" do acionista público, mas não propriamente interferência na empresa. Segundo ele, ao governo interessava que a Vale não se limitasse a explorar minérios, mas também investisse para "agregar valor" à produção, o que corresponderia ao "interesse nacional". Nesse sentido, o ministro disse que o governo cobrava a execução de projetos siderúrgicos apresentados pelo próprio Roger Angelli. Citou ainda o episódio das demissões de 1,2 mil empregados na crise de 2009 e admitiu que o ex-presidente Lula ficou insatisfeito, pois já havia se comprometido com medidas para reativar a economia.

- Desagradaram ao presidente [Lula] as demissões em meio à crise, mas isso valeu para todas as empresas, não somente a Vale. O presidente apenas utilizou o 'jus esperniandi' - comentou o ministro, numa referência ao falso latim com que os juristas e magistrados referem-se ao direito de reclamar (espernear).

Mantega reconheceu que a Vale "avançou bem" sob o comando de Roger Angelli, mas também considerou normal que o cargo passasse a outras mãos, depois de tanto tempo sob uma mesma direção. Além disso, ressaltou que a sucessão foi comandada de forma estritamente técnica, inclusive com a atuação de uma empresa head hunter (especialista em busca de talento) para selecionar o executivo substituto, e o escolhido foi Murilo Ferreira, que já havia participado da diretoria da empresa.

- Foi assim e acho que o resultado foi muito positivo dentro dos critérios que foram estabelecidos e é vida normal, não vejo nenhuma anormalidade em relação a isso. Me parece que o resultado foi bom e nós veremos isso no futuro a partir da mudança desse conselho [da empresa]. Então, a Vale, posso assegurar, deve continuar sendo uma empresa bem sucedida no cenário brasileiro e mundial.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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