Especialista em mudanças climáticas defende atuação de emergentes na conservação ambiental

Da Redação | 11/06/2008, 18h28

Como parte das comemorações da III Semana do Meio Ambiente, o presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC, da sigla em inglês), Rajendra Pachauri, foi recebido, nesta quarta-feira (11), pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho, e por senadores ligados à causa ambiental. Na ocasião, o economista e cientista ambiental indiano, que desde 2002 comanda o órgão vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2007, afirmou que os países emergentes devem construir juntos políticas que visem à preservação dos recursos naturais do planeta.

- Brasil, Índia e outros países emergentes estão servindo de exemplo tanto para países em desenvolvimento quanto para países desenvolvidos no que se refere à preservação dos recursos naturais. É importante que esses emergentes trabalhem juntos nesse sentido. A coordenação entre eles pode melhorar ainda mais - avaliou.

No início de 2007, o IPCC - que reúne cerca de três mil cientistas e especialistas de várias áreas e é considerado uma das referências mundiais em termos de aquecimento global - divulgou as conclusões de um trabalho realizado desde 1990. No relatório, o painel concluiu que a ação humana é provavelmente a maior responsável pelo aquecimento global nos últimos 50 anos, e que os efeitos dessa influência se estendem a outros aspectos do clima, como elevação da temperatura dos oceanos, variações extremas de temperatura e até padrões dos ventos.

Para o IPCC, os países poderiam diminuir os efeitos maléficos do aquecimento global estabilizando as emissões de carbono em um patamar razoável até 2030 - isso custaria 3% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. O trabalho foi escolhido pelo comitê do Prêmio Nobel, que concedeu a premiação também ao ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, pela produção do filme Uma Verdade Inconveniente.

A senadora Marina Silva (PT-AC), que deixou o comando do Ministério do Meio Ambiente em maio, salientou que a visita de Pachauri ocorre num momento delicado, logo após a divulgação, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de dados sobre o desmatamento de 1.123 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica em abril passado.

- O Brasil vinha conseguindo resultados importantes. Reduzimos o desmatamento por três anos consecutivos. No entanto, de outubro de 2007 pra cá, houve um aumento de mais de 10% - comentou Marina Silva.

Apesar dos dados negativos, Pachauri elogiou a proposta de criação de um fundo - atrelado a políticas de combate ao desmatamento - para incentivar a redução das emissões de carbono na atmosfera. A iniciativa foi apresentada pelo governo brasileiro no Fórum de Florestas da ONU, em 2007.

- Trata-se de um excelente conceito. Temos que aperfeiçoar esse mecanismo para recompensar os países que estão se esforçando para evitar o desmatamento - disse o presidente do IPCC.

Marina Silva informou ainda a Pachauri que acabou de dar entrada, na Câmara dos Deputados, projeto de iniciativa do Poder Executivo que institui a Lei de Mudanças Climáticas, com a indicação da criação do Plano Nacional de Mudanças Climáticas (PL 3535/08). Segundo ela, o governo pretende aprovar um fundo para financiar ações em nível nacional e estadual.

O senador Renato Casagrande (PSB-ES), presidente da Subcomissão Permanente do Aquecimento Global, que funciona no âmbito da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), frisou que a proposta encaminhada pelo governo federal é fruto dos debates que têm sido promovidos no Congresso desde o início do ano passado, quando foram divulgados os relatórios do IPCC.

- Sua visita incentiva a continuidade desse debate, que é muito importante para nós - disse ele a Rajendra Pachauri.

Em nome da Frente Parlamentar Ambientalista, a senadora Serys Slhessarenko (PT-MS) disse a Pachauri que o trabalho do IPCC é referência para os parlamentares brasileiros empenhados na defesa do meio ambiente. O senador José Nery (PSOL-PA) afirmou que a presença do presidente da entidade era um grande estímulo à atuação do Legislativo na área. Já o senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), presidente da CMA, informou a Pachauri sobre as ações internas realizadas pelo Senado Federal para reduzir o aquecimento global, como a reciclagem de materiais.

Após a audiência, o grupo de parlamentares, liderado pelo presidente Garibaldi, conduziu o presidente do IPCC ao Plenário do Senado, onde ele foi saudado pelos demais senadores.

- Conforme o senhor Rajendra Pachauri viu, ele pode partir absolutamente tranqüilo, pois deixa aqui no Brasil verdadeiros militantes, verdadeiros soldados dessa causa. Que ele fique certo que o sonho que está sonhando é o sonho de todos nós - declarou Garibaldi.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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