Ministro da Justiça deverá esclarecer volta de atletas cubanos a Havana

Da Redação | 09/08/2007, 14h52

O ministro da Justiça, Tarso Genro, será convidado pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) a esclarecer o episódio da viagem de volta a Cuba de dois atletas cubanos que vieram ao Brasil para os Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro. Requerimento com esse objetivo, de autoria do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), foi aprovado nesta quinta-feira (9), depois de longo debate na comissão.

Os pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux foram presos na cidade de Araruama (RJ), após abandonarem a delegação cubana. Dias depois, foram enviados de volta a Havana pelo governo brasileiro - em operação cuja rapidez foi condenada pela oposição.

A CRE também aprovou requerimento de informações ao Ministério da Defesa, este apresentado pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da comissão, sobre o vôo no qual viajaram os dois atletas cubanos. Heráclito disse que o episódio o fazia recordar a deportação para a Alemanha de Hitler da militante comunista Olga Benário, então companheira do líder comunista Luiz Carlos Prestes.

O senador pelo Piauí observou que os dois cubanos haviam demonstrado satisfação em permanecer no Brasil e afirmou não ver valor nas declarações dos dois atletas, de que voltavam a Cuba por vontade própria, uma vez que suas famílias estariam ameaçadas.

Virgílio também recorreu à comparação histórica, ao afirmar que não gostaria de ver repetido o episódio de Olga Benário. Em discurso emocionado, ele criticou as declarações do líder cubano Fidel Castro, que classificou de "desertores" os dois atletas. O senador lembrou ainda o caso do ex-jogador Mazola, que se naturalizou italiano e jogou contra a seleção brasileira na Copa de 1962.

- Isso não é guerra, é esporte. Se algum atleta brasileiro quiser ir morar na Argentina, qual é o problema? O olhar dos cubanos que voltaram a seu país não era o de pessoas felizes, mas de pessoas acuadas - disse Virgílio.

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) apoiou a investigação do episódio, que classificou de "nebuloso". Disse ainda que os dois pugilistas deixaram de disputar medalhas de ouro atraídos por propostas de negócios que não se concretizaram.

- Eles ficaram a ver navios - lamentou o senador.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) recordou trecho de artigo escrito por Fidel Castro, segundo o qual os dois atletas estariam em uma "casa de visitas" e poderiam receber familiares. O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) disse ser necessário esclarecer se os dois foram deportados ou se viajaram por conta própria. Por sua vez, o senador Romeu Tuma (DEM-SP) comentou que os dois estariam se sentindo "apavorados", em virtude de ameaças que teriam sido feitas a suas famílias.

O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) repudiou o "regime de força" a seu ver existente em Cuba. E o senador Mão Santa (PMDB-PI), após classificar de "muito grave" o episódio, lembrou o artigo terceiro da Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, segundo o qual "todo homem terá direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal".

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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