Augusto Botelho defende retomada do programa nuclear

Da Redação | 02/07/2007, 12h06

Ao defender a realização de novos investimentos no programa nuclear brasileiro, o senador Augusto Botelho (PT-RR) afirmou que "é preciso lutar" na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) a fim de que haja mais recursos para esse empreendimento. Ele fez a declaração durante visita, na última sexta-feira (29), às instalações do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) localizadas no município de Iperó. Nesse local, são realizadas pesquisas sobre energia nuclear, que incluem o enriquecimento de urânio. Botelho representou, na ocasião, a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado.

- Nosso objetivo é ver de perto o programa nuclear desenvolvido pela Marinha e, portanto, ver de perto o programa nuclear do país - disse o senador.

A visita ocorreu quatro dias após o Conselho Nacional de Política Energética aprovar a construção da usina nuclear Angra 3 - em decisão que ainda precisa ser ratificada pelo presidente da República - e 11 dias antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter visitado o local.

O diretor do CTMSP, contra-almirante Carlos Passos Bezerril, afirmou que será necessária uma verba adicional de R$ 130 milhões anuais, durante oito anos (em um total de R$ 1,04 bilhão), para que se termine a construção do Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica, cujo objetivo é desenvolver um sistema de propulsão nuclear para submarinos. Bezerril argumentou que é a partir desse tipo de pesquisa que são gerados conhecimentos e tecnologias em energia nuclear que podem ser apropriados pela indústria nacional - o chamado processo "de arraste tecnológico". Entre os subprodutos dessas pesquisas, Bezerril citou o desenvolvimento de fibras de carbono (matérias-primas que são simultaneamente leves e resistentes), giroscópios, acelerômetros e tecnologias de proteção balística que podem ser utilizadas, por exemplo, em aviões e helicópteros.

De acordo com o capitão-de-mar-e-guerra Arnaldo Ferreira Gomes Neto, engenheiro naval e superintendente de Operação do CTMSP, o centro "ficou em estado vegetativo nos últimos anos devido à falta de investimentos governamentais".

Rejeitos radioativos

Embora o presidente Lula já tenha se manifestado favoravelmente ao uso da energia nuclear como forma de sustentar o crescimento econômico do país, a retomada do programa nuclear brasileiro encontra oposição no próprio governo. Na votação do Conselho Nacional de Política Energética que aprovou a construção de Angra 3, houve um voto contrário: o do Ministério do Meio Ambiente. A titular da pasta, a ministra Marina Silva, tem apontado a longa duração dos resíduos radioativos - que, dependendo do material, podem durar milhares de anos - como um perigo. Ela tem defendido a exploração de outras formas de energia.

Em entrevista à Agência Senado, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) frisou que ainda não se sabe "o que fazer, de forma definitiva, com os resíduos armazenados temporariamente nas piscinas das usinas nucleares". Ele também questionou quais seriam os impactos se uma elevação dos mares, provocada pelo aquecimento global, atingisse as usinas nucleares que estão à beira-mar.

O contra-almirante Carlos Passos Bezerril reconhece que os rejeitos radioativos são perigosos, mas ressalva que, "ao contrário de outros tipos de lixo, nesse caso sabe-se onde os resíduos estão e pode-se controlá-los". Ele lembrou que, no Brasil, o lixo atômico é controlado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Já Augusto Botelho disse não ter dúvidas quanto à segurança dos procedimentos da Marinha. E recordou que a energia nuclear "voltou a ser uma alternativa porque, em meio às preocupações internacionais com as mudanças climáticas, é uma opção que não piora o efeito estufa". O senador destacou ainda que o Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do mundo.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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