Técnico da Embrapa reclama de escassez de recursos para pesquisas sobre aquecimento global

Da Redação | 17/04/2007, 19h06

 O Brasil está na contramão da história em relação à pesquisa de soluções para o aquecimento global, afirmou nesta terça-feira (17) o chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Eduardo Delgado Assad, em depoimento à Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas. Ele lamentou que os recursos destinados à pesquisa estejam contingenciados, acrescentando que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem recebido muito pouco.

- Apenas uma empresa americana está investindo R$ 500 milhões para que uma universidade brasileira pesquise o biodiesel. E nós [Embrapa] estamos brigando por R$ 5 milhões. Para enfrentar o problema do aquecimento precisaríamos de R$ 250 milhões, para começar - alertou.

Delgado explicou que, caso nada seja feito até 2100, a previsão é de que a temperatura aumentará 5,8º C e o Brasil produzirá apenas 30% do que produz hoje, pois culturas como soja, milho, trigo, arroz, feijão e algodão, estarão praticamente extintas devido ao aquecimento global. Para evitar o problema, ele disse que será preciso desenvolver novas plantas resistentes ao calor e à seca, a partir de engenharia genética que acrescente a essas culturas o gene resistente ao estresse climático contido em seis mil espécies naturais do Cerrado e da Caatinga.

- E esse é um novo tipo de pesquisa, diferente daquela voltada para resistência a doenças. Em 2100, teremos 400 milhões de habitantes. A planta que vai nos salvar é a que estiver adaptada aos estresse climático e essa é uma pesquisa lenta, sem resultados a curto prazo - salientou.

O representante da Embrapa também revelou que o Brasil possui apenas 200 milhões de hectares de pastagens degradadas e não 300 milhões como foi divulgado. Ele observou que, desse total, apenas 100 milhões de hectares podem ser explorados para a produção de etanol e biodiesel, uma vez que os outros 100 milhões são áreas de proteção ambiental e, por lei, não podem ser tocados.

O secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Domingos Gonzalez Miguez, disse que há escassez de dados nos países em desenvolvimento sobre a quantidade de emissão de carbono e ressaltou que o relatório apresentado pelo Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) apenas confirmou o relatório anterior, cujos resultados são praticamente os mesmos desde 1995, apenas com aumento de precisão dos dados.

- Ao contrário do que disseram, o governo brasileiro não foi pego de surpresa. Estamos trabalhando na coleta de informações desde 1994 e o inventário de emissões teve início em 1996 - afirmou.

José Domingos disse que o IPCC tem poucas informações sobre o desmatamento no mundo, apenas quatro estudos, e que o peso de cada fonte de emissão de carbono no cálculo do aquecimento global superestima o desmatamento em detrimento da queima de combustível fóssil. Ele observou que é de interesse dos países desenvolvidos essa correlação, uma vez que são grandes consumidores de combustíveis fósseis e não fazem mais desmatamento, e os países em desenvolvimento são essencialmente agrícolas. Para José Domingos, o cálculo do potencial de emissão especificado pelo Tratado de Kioto precisa ser revisto.

- Se o Brasil reduzisse sua emissão de carbono a zero, o impacto no aumento da temperatura global seria de apenas 1,9%. A Europa, por exemplo, só tem 3,8% das suas florestas naturais - comparou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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