Marcos Valério lucra com publicidade dos Correios desde 2000, apura CPI

Da Redação | 29/11/2005, 00h00

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do "mensalão", estaria lucrando indiretamente com a conta de publicidade da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) desde 2000, apesar de sua agência, a SMP&B;, só ter vencido uma licitação naquela empresa em 2003.

Esse foi o entendimento dos membros da sub-relatoria de Contratos da CPI dos Correios após o depoimento prestado nesta tarde (29) pelos publicitários Dennis Aurélio Giacometti e Iran Castelo Branco, sócios da agência Giacometti e Associados, de São Paulo, uma das responsáveis pela publicidade da estatal entre 2000 e 2003.

Os empresários explicaram que, ao vencer o processo licitatório, em vez de montarem um escritório próprio em Brasília, optaram por uma "aliança estratégica" com a SMP&B;, agência de Belo Horizonte à época bastante conceituada no mercado.

Castelo Branco conhecia Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério, desde a década de 80. Os dois, então, fizeram um acordo verbal, sem qualquer espécie de contrato assinado, por meio do qual a SMP&B; compartilharia com a Giacometti espaço, equipamentos, suporte, pessoal e custos. Em troca, a Giacometti repassaria à SMP&B; 50% do que recebesse dos Correios.

- Tratava-se de uma parceria operacional, para minimizar o nosso risco e reduzir custos. Cristiano tinha uma equipe especializada, e seu escritório ficava ao lado do prédio dos Correios - justificou Castelo Branco.

De 2000 a 2003, a ECT pagou à Giacometti, pelos serviços prestados, cerca de R$ 76 milhões. Descontando-se todos os custos, o lucro da agência foi de R$ 9,7 milhões. Destes, R$ 6,8 milhões foram repassados à SMP&B;, em 51 pagamentos, segundo os próprios sócios.

O sub-relator, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), chamou a atenção dos presentes para o fato de que cerca de R$ 900 mil destes R$ 6,8 milhões foram depositados justamente na mesma conta da SMP&B; no Banco Rural que abasteceu o chamado "valerioduto".

Apesar de os sócios terem insistido no argumento de que essa espécie de compartilhamento é bastante usual, Cardozo rebateu que a prática é, no mínimo, estranha, especialmente porque as duas empresas foram concorrentes em processos licitatórios, com propostas diferentes, mas com a mesma equipe de funcionários.

Isso aconteceu, por exemplo, em 2002, quando a Giacometti e a SMP&B; disputaram a conta da Câmara Legislativa do Distrito Federal. A agência mineira venceu o processo, que, tempos depois, foi contestado num relatório de fiscalização por suspeita de conluio.

O sub-relator destacou ainda um outro detalhe: Cristiano Paz é, como já foi publicamente declarado, amigo de Pimenta da Veiga, que, à época em que a Giacometti ganhou o contrato com os Correios, era ministro das Comunicações. Para Cardozo, já que existia um "compartilhamento geral de atuação" entre a Giacometti e a SMP&B;, que pode ser anterior à divisão do espaço e da equipe, o sócio de Marcos Valério pode ter interferido no certame.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)