Nagib Fayad alega ser "viciado em apostas" mas nega participação na "máfia do apito"

Da Redação | 19/10/2005, 00h00

 Reportagem da Rádio Senado

Nagib Fayad, acusado de envolvimento na chamada "máfia do apito", esquema de manipulação de resultados de partidas de futebol no Brasil, negou sua participação no esquema em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos nesta quarta-feira (19). No depoimento, que durou uma hora e meia, ele admitiu, no entanto, ser viciado em apostas.

- Sou louco por jogo e apostas, é um vício meu, sou um jogador compulsivo - disse.

Fayad alegou que o juiz de futebol Edílson Pereira de Carvalho foi quem ligou para ele oferecendo "dicas de apostas" em alguns jogos do Campeonato Brasileiro e do Campeonato Paulista de Futebol. O depoente disse que Edílson ligava para ele e afirmava que iria manipular as partidas, mas não soube responder quem teria fornecido seu telefone ao juiz. Fayad disse ter aceitado as dicas "por fraqueza" decorrente do vício em apostas.

Ele admitiu ter aproveitado as sugestões do árbitro apenas em três jogos, Vasco x Figueirense e Juventude x Figueirense, ambos do Campeonato Brasileiro, e América x Palmeiras, do Campeonato Paulista. Fayad disse que ganhou cerca de R$ 60 mil com apostas em dois destes jogos e no terceiro não teria ganho nada. Afirmou também que fez três pagamentos de R$ 10 mil para Edílson, referentes às "dicas".

Entretanto, as declarações de Fayad à CPI dos Bingos colocaram outro árbitro sob suspeita. Fayad afirmou que Edílson teria ligado certa vez e sugerido apostas no jogo Botafogo 3 x 2 Juventude, do Campeonato Brasileiro. De acordo com Fayad, Edílson teria dito: "jogue nesse jogo do Botafogo que esse juiz vai proteger o time carioca". Mas o depoente frisou que Edílson não teria confirmado que o juiz da partida estaria envolvido em manipulação de partidas. O jogo, no qual o Botafogo teve dois pênaltis a seu favor, foi apitado pelo árbitro paranaense Heber Roberto Lopes. Fayad, também conhecido como "Gibão", disse ainda que não apostou nessa partida.

O depoente afirmou ainda que não joga em casas de bingos e não conhece nenhum dono de estabelecimentos de apostas em bingos. Disse ainda que aposta nas loterias federais e acrescentou que nunca enviou qualquer quantia monetária para o exterior. Ao final, "Gibão" disse estar arrependido.

- Eu me arrependo do que fiz, estou pagando caro pelo meu vício. Nunca quis prejudicar o futebol brasileiro. Peço desculpas ao povo brasileiro - disse Fayad pouco antes de afirmar que Edílson seria na verdade "um aproveitador, com pouco poder de influência".

O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), não vê necessidade da comissão convocar o árbitro Edílson.

- Ele já foi punido, já foi preso. O que queríamos saber, e o depoente não acrescentou muito, era se estas apostas estavam ligadas a casas de bingos - resumiu Garibaldi.

Também participaram do depoimento os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Geraldo Mesquita Júnior (PSOL-AC), Tião Viana (PT-AC), Eduardo Suplicy (PT-SP), Wellington Salgado de Oliveira (PMDB-MG), Romeu Tuma (PFL-SP) e Siba Machado (PT-AC).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)