Costa Neto confirma "caixa dois" na campanha de Lula
Da Redação | 23/08/2005, 00h00
- Na época, não tinha motivos para desconfiar da legitimidade do dinheiro prometido pelo PT, pois o partido parecia sério e confiável. Depois, ao receber pagamento em conta-gotas, com cheques destinados a terceiros (a empresa Garanhuns) ou em dinheiro vivo, compreendi que eram recursos de "caixa dois" - afirmou.
Valdemar Costa Neto confirmou que participou de uma reunião, em 2002, na casa do deputado Paulo Rocha (PT-PA), em que foi negociada uma aliança entre PT e PL para as eleições presidenciais. Teriam participado da reunião os candidatos Lula e José Alencar, José Dirceu e Delúbio Soares, tesoureiro do PT. Segundo Costa Neto, na oportunidade ficou acertado um repasse de R$10 milhões do caixa do PT para o PL.
- A negociação sobre dinheiro se deu diretamente entre mim e Delúbio, mas é evidente que Lula e Alencar sabiam do acordo e das cifras negociadas - garantiu.
Ele negou, enfaticamente, que tenha recebido os R$ 12,8 milhões relacionados na lista entregue por Marcos Valério à CPI. Também disse que nunca houve mensalão na Câmara dos Deputados. Para ele, isso foi uma "cortina de fumaça" lançada pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) para esconder as evidências de sua corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).
Costa Neto afirmou que, durante a campanha, nunca recebeu um centavo do PT, o que resultou na quebra de seu compromisso com os candidatos a deputados pelo PL, nos estados. "Negociei mal, deixei meu pessoal na mão", lamentou-se.
- Delúbio como tesoureiro era uma desorganização total. Nunca vi, em partido nenhum, pessoal da campanha de cada um dos estados vir buscar dinheiro na tesouraria nacional, como acontecia no PT. Percebi que a questão do dinheiro no PT não ia dar certo - disse.
Costa Neto explicou que, no final do primeiro turno, o PL havia conseguido somente 4,3% dos votos e poderia ficar de fora do Fundo Partidário e do rateio do tempo de televisão. Portanto a salvação do PL como partido dependia da eleição de Lula. Assim, mesmo sem ter recebido os R$ 10 milhões acordados, gastou R$ 6,5 milhões no segundo turno da eleição presidencial em São Paulo.
- A estratégia deu certo. Eleito Lula, o PL conseguiu incorporar o PST e o PGT para totalizar 5,1% dos votos. A bancada do PL cresceu de 23 para 50 deputados federais. Para receber o dinheiro gasto na campanha de Lula foi mais difícil, precisei cobrar de José Dirceu, em meados de 2003, o compromisso feito por Delúbio. Ele me garantiu que seria honrado, e isso foi feito durante 18 meses, terminando em janeiro de 2005 - disse.
Costa Neto afirmou que, com esse dinheiro recebido, em parcelas, pagou a empresas e fornecedores de material de campanha a quem estava devendo. Recusou-se a dar uma lista das pessoas a quem pagou e disse não ter pedido recibo de ninguém.
Para o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), "é impossível acreditar nessa versão; parece mais ser mensalão".
Costa Neto diz que PL recebeu R$ 6,5 milhões do PT para campanha
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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