Roberto Jefferson diz que acesso ao Banco Rural identificará receptores

Da Redação | 30/06/2005, 00h00

O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou, nesta quinta-feira (30), que os registros da portaria do Edifício Brasília Shopping devem conter os nomes de assessores de deputados beneficiados pelo "mensalão". Segundo disse, era da conta do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural, cuja agência está localizada no 9º andar daquele prédio, que saía o dinheiro (R$ 30 mil) pago mensalmente a deputados federais do PL e do PP em troca de apoio ao governo. As afirmações foram feitas no depoimento que prestou à comissão parlamentar mista de inquérito que investiga denúncia de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (CPI dos Correios).

Jefferson ressaltou que seria oportuno que se investigasse a movimentação das  contas Marcos Valério e de suas empresas, no Banco do Brasil. Ele estimou que 60% dos R$ 4 milhões que teria recebido do PT estavam marcados com as etiquetas desse banco. Marcos Valério, dono das agências de publicidade DNA e SMP&B, é acusado de ser um dos operadores do "mensalão".

- O carequinha [Marcos Valério] deixou de fora o rabo, o que o PC [Paulo César Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor] não fez no passado - frisou.

O parlamentar também contradisse o empresário Arthur Wascheck Neto, que, em depoimento anterior à CPI, assumiu ser o mandante da gravação por se sentir "prejudicado comercialmente". Ele acusou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de estar por trás das gravações que flagraram o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios recebendo propina de R$ 3 mil.

Roberto Jefferson disse que a Abin infiltrou agentes nos Correios para investigar irregularidades licitatórias e em contratos, mas que a "súcia de asseclas" de Arnaldo Molina (um dos envolvidos com a gravação, que foi ouvido esta semana pela CPI) só conseguiu filmar Maurício Marinho, "um petequeiro", e que foi incapaz de dizer "ao governo, à Casa Civil", que o publicitário Marcos Valério, dono das agências DNA e SPB&M - envolvidas com o pagamento do "mensalão" - retirava R$ 1 milhão por dia nas contas do Banco Rural.

- É uma agência política que age em favor do governo e não da sociedade - afirmou.

Financiamento

Roberto Jefferson também defendeu a reforma política com cláusula de barreira de 5% e o financiamento privado de campanha, em detrimento do público, como está previsto no projeto em tramitação no Congresso. Deu sugestões para reduzir no número de deputados e senadores do Congresso Nacional (sugeriu que se cortassem três deputados de cada estado e a redução de senadores) e acusou todos os parlamentares - inclusive ele próprio - de mentir na prestação de contas.

- Se PC Farias, e fez, e hoje Delúbio e Valério fazem, outros que virão continuarão a fazer se não mudarmos as práticas de financiamento eleitoral - disse o deputado, fazendo um trocadilho com o sobrenome do tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor.

Disse também que, para se eleger, um deputado gasta em média R$ 1,5 milhão, com média de prestação de R$ 100 mil. Com a eleição para senador, o gasto sobe para R$ 3 milhões e a prestação não passa de R$ 250 mil.

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Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)