Relator vê imprecisões no depoimento

Da Redação | 30/06/2005, 00h00

O relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) apontou imprecisões nas declarações do ex-diretor de Administração da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) Antonio Osório Menezes Batista, se confrontadas com outros depoimentos tomados, especialmente no que se refere à data e local onde o ex-diretor teria assistido pela primeira vez à gravação em que o ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho foi flagrado supostamente recebendo propina.

Antonio Osório disse que viu a fita pela primeira vez em 15 de maio, acompanhado do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Mas, segundo Serraglio, existem relatos de que o ex-diretor teria visto a fita dez dias antes, no prédio da ECT.

Sobre as licitações, onde supostamente haveria fraudes, Osmar Serraglio estranhou que os Correios não tenham um cadastro de fornecedores. Isso não permite, por exemplo, que a empresa evite fornecedores que vençam as licitações mas não entreguem as mercadorias. O relator acredita que há empresas que baixam os preços nas licitações, para valores "inexeqüíveis", sendo que na prática não têm condições de entregar produto.

O relator também afirmou que, durante os depoimentos, percebeu-se que as empresas concorrentes às licitações nos Correios "eram previamente contatadas e, a partir dessa conversa, havia uma divisão em lotes para que todas fossem contempladas". O ex-diretor respondeu que, na verdade, acontecia uma luta muito intensa entre as empresas, que entravam com ações umas contra as outras, e que os Correios chegaram a ficar "quase um ano sem conseguir comprar um par de tênis". Antonio Osório garantiu que nunca pediu nem recebeu dinheiro de nenhum fornecedor.

O ex-diretor comentou ainda que Maurício Marinho não  teve praticamente  nenhum contato com o deputado Roberto Jefferson - tendo encontrado o parlamentar apenas uma vez. Antonio Osório contou também que conheceu o empresário Arthur Wascheck - mandante confesso das gravações - em uma audiência marcada pelo próprio empresário para tratar do atraso na entrega de capas de chuva. 

A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) pediu que sejam apresentadas à comissão todas as atas de reuniões de diretoria dos Correios e afirmou que existem "indícios relevantes de crimes contra a Administração Pública". Aos questionamentos da senadora, Antonio Osório respondeu que nunca identificou nada de errado nos processos de licitações dos Correios e que sempre ficava atento aos pareceres jurídicos. "O processo é muito bem organizado", alegou.

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) questionou se Antonio Osório "tem convicção de que Marinho é um corrupto". Osório respondeu que ficou muito chocado com as imagens da gravação clandestina e disse acreditar que Marinho "estava vendendo prestígio que não tinha."  O ex-diretor afirmou não saber que Marinho era corrupto e garantiu que nunca soube de nenhum boato nesse sentido.

Eduardo Paes apresentou um aditivo de 25% em contrato de publicidade da ECT. Segundo o deputado, o contrato original era de R$ 72 milhões, passando para R$ 90 milhões depois do aditivo, que foi assinado por Antonio Osório e pelo ex-presidente dos Correios João Henrique de Almeida Sousa, e favorece a empresa de Marcos Valério, a SMP&B. Além disso, o deputado destacou que o contrato assinado por Antonio Osório tem "padrão diferente do usado pela ECT e semelhante aos da Presidência da República".

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)