Arapongas fingiram ser de multinacional

Da Redação | 28/06/2005, 00h00

Em seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Correios, nesta terça-feira (28), o advogado Joel dos Santos Filho disse que procurou Maurício Marinho - ex-chefe de departamento dos Correios acusado de receber propina - fingindo ser representante de uma multinacional que faria "qualquer coisa" para ganhar uma licitação dos Correios. Segundo Joel, Maurício Marinho teria se apresentado como "centro das negociações" mas teria sugerido que os valores pagos seriam distribuídos entre diretores da empresa. Joel afirmou ter pago R$ 3 mil como adiantamento de um total de R$ 15 mil.

Joel disse que se considera amigo de Arthur Wascheck, empresário que confirmou ser mandante das gravações, de quem já teria recebido favores. Ele disse ainda que conheceu o militar reformado Arlindo Gerardo Molina Gonçalves em um churrasco na casa de Arthur Wascheck.

O advogado disse que jamais imaginou que seria preso por realizar a gravação e que sua participação no caso terminou ao entregar a câmera ao funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Jairo Martins de Souza. Jairo teria sido o responsável por vazar a gravação para a imprensa. Joel garantiu que os únicos envolvidos na gravação seriam Arthur Wascheck, ele próprio e Jairo. Mas na última gravação com Maurício Marinho Joel relatou ter sido acompanhado do empresário de Curitiba João Carlos Mancuso.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) disse considerar a primeira gravação feita entre Joel e Marinho - que desapareceu - mais importante que a segunda - que vem sendo amplamente divulgada - e pediu que a comissão procure conseguí-la. A senadora Heloísa Helena (Psol-AL) manifestou a mesma preocupação e apelou para que a comissão busque a primeira gravação feita com Maurício Marinho, à qual a imprensa já teve acesso. A senadora também chamou atenção para a falta de coerência entre as informações dadas pelos depoentes e o conteúdo da gravação, uma vez que todas as conversas no DVD giram em torno de tecnologia ou problemas de partidos e não abordam assuntos comerciais, suposto motivo para a realização da gravação.

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) entende que o depoimento desta terça "pouco vai acrescentar porque Joel não é alvo da CPI". O senador propôs uma acareação de Joel com Maurício Marinho. Ao deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), Joel afirmou que tem uma relação de pura amizade com Arthur Wascheck, em cuja casa se hospeda quando visita Brasília. Eduardo Paes considerou o depoimento de Joel incoerente.

O senador César Borges (PFL-BA) disse considerar inócuos depoimentos como o de Joel. Para ele, o depoimento não trouxe esclarecimentos sobre os problemas que existem nos contratos dos Correios ou sobre o uso de recursos públicos "para compra de consciência dos deputados". O senador afirmou  ainda que ou o depoente "disfarça muito bem" ou estava "acuado e mal conseguindo articular a palavra".

Ao ser inquirido por Borges, Joel confirmou ter sido ele próprio quem pagou os R$ 3 mil a Maurício Marinho. Joel disse que vê Marinho como "uma pessoa venal, que intencionava fazer coisas ilícitas".

O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) sugeriu que havia intenções ocultas de Arthur Wascheck não reveladas nos depoimentos. Para o deputado, o verdadeiro objetivo tem ligação com a área de informática dos Correios e não era apenas delatar Maurício Marinho. Joel negou, garantindo que teria levado na última reunião João Carlos Mancuso, que é técnico de informática, porque Marinho disse na reunião anterior que traria um técnico dos Correios nesse setor.

Roberto Jefferson

Nessa quarta-feira (29) serão ouvidos diretores dos Correios envolvidos nas denúncias. O presidente da CPI, senador Delcidio Amaral (PT-MS), afirmou que a comissão está analisando 600 contratos citados por Maurício Marinho em seu depoimento. O presidente esclareceu que a comissão continuará funcionando no período de recesso do Congresso (que começa na sexta-feira, dia 1o), no regime de auto-convocação. A agenda de trabalho das duas próximas semanas deverá ser divulgada nesta quarta e a audiência com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) está agendado para às 10h30 da quinta-feira (30).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)