Publicitário Marcos Valério deve depor na próxima semana

Da Redação | 27/06/2005, 00h00

O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, informou, nesta segunda-feira (27), que o publicitário Marcos Valério, proprietário da SMP&B;, que detém a conta de publicidade da Empresa Brasileira de Correios e Telágrafos (ECT), acusado de ser o operador do esquema do "mensalão", será o primeiro a depor na comissão depois do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

O presidente da CPI, senador Delcidio Amaral (PT-MS), confirmou, em entrevista à imprensa, no Rio de Janeiro, que a convocação do publicitário, que já havia sido aprovada, será antecipada "diante dos últimos fatos". Delcidio se referiu à reportagem publicada na última edição da revista IstoÉ, que trouxe dados do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) que mostram que, de julho de 2003 a maio de 2005, saíram de contas do Banco Rural da SMP&B; e da DNA, outra empresa de Valério, em dinheiro vivo, R$ 20,6 milhões.

Foram, segundo a revista, 103 saques, o que dá uma média de um saque semanal em valor acima de R$ 100 mil. As informações impressionaram o deputado Osmar Serraglio.

- Se esses dados forem comprovados, é como se Marcos Valério estivesse acima do bem e do mal - comentou o relator.

O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), membro da comissão, acredita que os dados do Coaf em relação às contas das outras pessoas que estão sendo investigadas deveriam ser levados em consideração. Ele acredita que é fundamental a quebra imediata do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Marcos Valério.

Heráclito disse esperar que, em seu depoimento, Valério dê o nome das pessoas que lhe venderam o gado que ele declarou à revista Veja ter comprado com a quantia sacada. O senador José Jorge (PFL-PE), líder da minoria, apresentou um requerimento solicitando cópias de todos os atestados de vacinação de aftosa e brucelose e, também, as Guias de Trânsito Animal (GTA) emitidos para animais e/ou rebanhos de propriedade de Marcos Valério ou de sua esposa, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza.

José Jorge afirmou que a reportagem da IstoÉ mostra que as denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson, de pagamento de "mensalão" a membros da base governista, por parte do Partido dos Trabalhadores (PT), não podem ser desqualificadas.

- Tudo aquilo que o deputado Roberto Jefferson disse está se confirmando. Primeiro, apareceu a secretária, agora, apareceu o dinheiro. No processo que derrubou Nixon, nos Estados Unidos, Garganta Profunda dizia "Sigam o dinheiro". Aqui, é a regra para a CPI é sigam o dinheiro do senhor Marcos Valério - comparou.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), no entanto, pensa que a CPI não pode se deixar guiar pelas denúncias da imprensa.

- A CPI não pode pipocar. Ela tem que seguir uma lógica de investigação. Se você está numa linha, tem que esgotá-la, antes de pegar outra linha - defendeu.

Nesta terça-feira (28), a CPI dos Correios vai ouvir, a partir das 9h, Jairo Martins e Joel Santos, os responsáveis pela gravação que flagrou o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Materiais dos Correios, Maurício Marinho, recebendo propina de R$ 3 mil, supostamente em nome do PTB de Roberto Jefferson, e Arlindo Molina, que teria chantegeado o deputado com a fita.

Na quarta (29), comparecerão à comissão, também a partir das 9h, os ex-diretores da ECT, Antônio Osório Batista, Eduardo Medeiros e Maurício Coelho Madureira. Na quinta-feira (30), serão ouvidos Marcus Vinícius Vasconcelos Ferreira, genro de Roberto Jefferson e sócio de empresa que negociava contratos com os Correios (9h) e o próprio Jefferson (15h).É grande a expectativa em torno do depoimento do deputado.

- Esperamos que ele tenha mais dados. Ele vai ser provocado, para avançar - disse Serraglio.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)