Cristovam repudia manifestação de coronel em favor da tortura

Da Redação | 27/06/2005, 00h00

O senador Cristovam Buarque (PT-DF) afirmou nesta segunda-feira (27) que irá apresentar requerimento de repúdio ao uso da tribuna da Câmara dos Deputados pelo coronel Lício Augusto Maciel na sessão solene da última sexta-feira (24), pelas "aberrações políticas e éticas" ditas. Durante o evento requerido pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), relatou o senador, o coronel disse estar arrependido de não haver torturado um jovem que lutava pela democracia no Brasil na clandestinidade, no caso o atual presidente do PT, José Genoino.

- Poucas vezes eu fiquei tão chocado. Depois de 20 anos de democracia, e na tribuna que nós lutamos tanto para abrir, vi um representante das Forças Armadas dizer que se arrependia de não ter torturado, com a debochada palavra de dar bolachas, um militante de esquerda - protestou.

Cristovam Buarque lembrou que José Genoino, na semana passada, classificou a postura da oposição, de cobrar a investigação de denúncias que podem incomodar o governo, como uma tentativa golpe. Para o senador por Brasília, não há, na ação oposicionista, nenhuma ameaça à democracia. Cristovam disse que a verdadeira ameaça "é o fato de um agente da repressão nos anos 70 dizer, na Câmara dos Deputados, ter se arrependido de não ter torturado um militante".

- Foi uma manifestação claramente anti-democrática e que não respeitou a dignidade de um cidadão que lutou pela democracia e representou toda uma geração. Eu me identifico com José Genoino porque ele lutava pelo lado certo e de uma maneira respeitável, dedicando a parte mais rica de sua juventude a essa causa - frisou o senador.

Cristovam disse que não se pode deixar passar em branco um discurso como o do militar, pois isso seria tolerar, no futuro, a ocorrência de outras falas no mesmo sentido, até o dia em que o discurso seja substituído pelo uso das armas para ameaçar de fato a democracia.

- Se deixados de lado, gestos revanchistas e isolados como o acontecido na tribuna da Câmara, aliados à falta de solução para a violência, para a concentração de renda e para a pobreza, podem criar uma cultura golpista no Brasil - alertou.

Cristovam Buarque foi aparteado pelos senadores Paulo Paim (PT-RS) e Mão Santa (PMDB-PI).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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