Armas de fogo matam mais do que conflitos bélicos, aponta estudo

Da Redação | 27/06/2005, 00h00

O número de óbitos por arma de fogo no Brasil é maior do que o de alguns países em conflito bélico: entre 1979 a 2003, foram mortas 550 mil pessoas, em contraste com as 125 mil vítimas em 52 anos da disputa territorial entre Israel e a Palestina. A afirmação foi feita pelo sociólogo e chefe do escritório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Pernambuco, Julio Jacobo Waiselfisz, durante o lançamento de seu livro Mortes Matadas por Arma de Fogo no Brasil - 1979-2003, realizado na manhã desta segunda-feira (27), no gabinete da Presidência do Senado.

- No Brasil não existe nenhum tipo de enfrentamento territorial com outros países, nenhum conflito étnico ou religioso, mas morre mais gente por arma de fogo - alertou Waiselfisz.

O sociólogo salientou que um em cada três óbitos juvenis é causado por armas de fogo, sendo esta a principal causa de morte dos jovens brasileiros. Ele informou que as armas de fogo matam 80% mais do que a Aids, índice ainda maior entre os jovens.

- Com um flagelo deste, que mata mais do que a Aids, ainda estamos discutindo se temos que proibir ou não a arma de fogo - questionou Waiselfisz. Ele citou um manual para forças de pacificação em situação de conflito, segundo o qual a primeira medida para se pacificar um país é desarmar a população.

O líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que os dados apresentados no estudo são incompatíveis com o país, que possui uma diversidade cultural pacífica e que não vive situações de conflito armado.

- Estes dados são por si só um grito de alerta ao Brasil. Parte da nossa juventude não terá chance se isto continuar. Ou o Brasil reage, ou os números estatísticos vão aumentar - avaliou Mercadante.

O representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, disse que é importante votar o projeto de decreto legislativo que autoriza a realização, em outubro, de referendo sobre a proibição de venda de armas de fogo e munição.

- A missão da Unesco é construir a paz. Mas é impossível falar em uma cultura de paz quando se tem uma situação de violência como a que o Brasil está vivendo - observou Jorge Werthein.

O representante do Movimento Viva Rio, Antonio Rangel Bandeira, ressaltou que, por influência do lobby das armas, a regulamentação do referendo esteve "engavetada por oito meses" e, se não for votada esta semana, deverá ser adiada para o próximo ano, correndo o risco de ser ignorada, uma vez que 2006 será um ano eleitoral.

O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) apelou aos parlamentares da Câmara dos Deputados para que votem ainda esta semana o projeto de decreto legislativo para que o referendo sobre a proibição da venda de armas possa ser realizado em outubro.

- Este ato é mais do que o lançamento de um livro, é um apelo ao presidente da Câmara para que honre a sua palavra no sentido de fazer a votação do decreto legislativo - observou o deputado Greenhalgh. Os senadores José Jorge (PFL-PE) Wirlande da Luz (PMDB-RR) e Ideli Salvatti (PT-SC) também participaram do lançamento do livro.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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